A MAIS RECENTE REVOLUÇÃO DOS BICHOS

À maneira de Esopo, usando animais para figurar as fraquezas humanas, Orwell deixou-nos um legado no seu livro: “A revolução dos bichos” analisou impiedosamente, por meio da caricatura, os rumos equivocados do processo revolucionário numa granja inglesa.

Como às vezes a história se repete, ela parece que se repetiu em outra granja, não tão inglesa, com a participação de um(a) porco(a) Major, dos cavalos, Sansão e Quitéria, e até, e principalmente, de um( hiena idosa da Granja do Solar, que sempre emitia observações hipócritas e gostava de dar sorrisos cínicos.

É o que contam alguns jornais animais.

Ao som de cânticos guerreiros que falavam em “futuro que virá” , “ cairá a tirania” , “águas puras rolarão”, “liberdade conquistemos” , alguns animais revolucionários foram aos jornais, revistas , programas de TV e anunciaram, com apoio de entrevistadores levianos e parciais, os novos tempos , as novas realizações, uma nova granja que ofereceria alimentos em abundância a um número de animais muitíssimo maior do que o existente: temos que fazer com que a granja interaja mais com a sociedade.

E então elegeram o Homem como o verdadeiro inimigo: retire-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre. E alfinetavam: vamos desenvolver trabalhos participativos tanto dos habitantes da granja, como da sociedade , pois que, se o estado Democrático elegeu o princípio participativo como ideal republicano, cabe à granja não só aplicá-lo como também irradiá-lo através de suas ações “.

Enquanto isso em formidável uníssono, as vacas mugiam a canção, os cachorros latiam-na, as ovelhas baliam-na, os cavalos relinchavam-na, os patos grasnavam-na. Tal foi o enlevo, que teriam cantado suas glórias até hoje, não fossem interrompidos pela dura e fria realidade: um mundo novo não se constrói só com palavras e promessas, mas com muito, muito trabalho.

Mas, na nossa história, o(a) Major, mentor(a) intelectual do movimento, não morreu: parece-me que pulou fora deixando o comando para Bola-de-neve, Napoleão, Garganta e outros, pois que o representante maior da granja abriu mão da presidência e ficou, liberado da burocracia, somente como coordenador.

Nos jornais anunciavam os novos dirigentes: “ temos dezenas de projetos, como a criação de pequenas feiras, parcerias com grandes latifúndios, concursos e oficinas agro-pecuárias, devendo haver uma busca de renovação, valorizando e criando mecanismos para que novos granjeiros sejam revelados”.

Os badaladores de plantão apregoavam : “Agora sim a granja está em boas mãos !!!”.

Adeptos do novo movimento informavam ao público agricultor : “ ampliaremos a atuação da granja “para dentro e para fora”, integrando agricultores e oferecendo cursos de plantio, colheita, adubagem para a comunidade de todos os animais e homens”.

Mas nada disso parece ter acontecido, caso nos ativermos à mídia animal.

E a partir daí , como na obra de Orwell, já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco, quem era da diretoria e quem usurpara o “poder” cuidando de tudo,burocrática e irregularmente, em ritmo de jabuti : envio de correspondências, cobranças, confecção de tablóides para auto-promoção e assessoria de imprensa.

Aliás, um pombo-correio me contou que acabam de ser realizadas as eleições, na tal granja fictícia, para o que deveria ser o próximo biênio — que, antecipando-se ao Lula, transformaram, “democraticamente”, via alteração dos estatutos, em triênio.

Segundo a mídia animal , Benjamin, o(a) do sorriso cínico, que dizem possuir a mesma capacidade literária de nosso presidente, deverá ser , como sempre desejou, desde os tempos do Homem, o(a) vencedor(a) por aclamação.

DR EDEL T. WEISS

Um contador de histórias

Observação: Edelweiss é uma flor que brota entre as frestas das rochas e resiste ao rigoroso inverno nos Alpes Suíços.

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 10/12/2007
Código do texto: T772437