ANA PAULA OLIVEIRA : A GATA COR-DE-ROSA
“Ao posar para Playboy, Ana Paula Oliveira ousou desafiar o establishment mais machista do Brasil: o do futebol”.
Ruy Castro
Num domingo de primavera, de céu nublado, o gramado do Clube de Regatas recebeu uma visita ilustre e ansiosamente esperada : Ana Paula de Oliveira.
No seu uniforme cor-de-rosa da Umbro, nada tinha de fictícia, como a pantera nascida na década de sessenta e que vinha sempre acompanhada, nas telas, da famosa The Pink Panther Theme, de Henry Mancini e Waltel Branco.
Rodeada de crianças — pós-moderna Branca de Neve e dezenas de anões — e sob o olhar de milhares de marmanjos, a árbitra mais bonita do Brasil roubou a cena durante as quase duas horas da partida disputada entre Tupy e Califórnia.
Ninfa única, rodeada de sátiros sedentos de bola, tendo ao fundo um cenário composto pelo denso arvoredo da beira do Pardo, Ana Paula flutuou, em curtas corridas graciosas, sobre o tapete verde, às vezes transformando-se em sereia — ser mitológico parte mulher e parte peixe ou pássaro — com seu canto interrompendo por momentos a partida de futebol.
É muito difícil prestar atenção no jogo quando Ana Paula está apitando.
Mas o mais incrível é que investida quase sempre de uma simplicidade infantil e ingênua, de repente ela se transforma numa beleza transbordante de autoridade, levanta firme e elegantemente um cartão vermelho ou amarelo,e, logo a seguir , afasta-se da disputa de bola, quase sempre com um sorriso de Madona que cala qualquer tentativa de agressão física ou verbal.
E eu fiquei ali, bem perto da “Musa do apito”, o tempo todo com a minha Nikon D 70, garimpando um gesto, um olhar, um sorriso, uma atitude, um deslize, um momento enfim que merecesse ser capturado e imortalizado digitalmente por minhas lentes, como um J.R. Duran da várzea do Rio Pardo.
Terminada o jogo — com a vitória do Tupy, campeão da Série Ouro da Copa Regatas de Futebol — acordado do sonho, volto à realidade dos preconceitos humanos e continuo não entendendo porque Ana Paula, profissional competentíssima, somente por ter posado nua na Playboy, está sendo alijada das partidas de campeonatos oficiais.
Como não vivemos mais em época de repressão como nos tempos de Leila Diniz — aquela que quebrava tabus — espero que essa mulher ousada, jovem e bonita, vítima de uma minoria machista de plantão — mas ao mesmo tempo amada e aplaudida pela grande maioria dos amantes do futebol — possa , no menor tempo possível, voltar a enfeitar de cor-de-rosa a estreita faixa junto à linha lateral do gramado de nossos maiores estádios, que já se preparam para a Copa do Mundo de 2014, século XXI.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
EX-PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS
ancartor@yahoo.com