Uma heroina goiana
Nossa história está repleta de personagens que realizaram grandes feitos, tornando-se verdadeiros mitos, mas que são desconhecidas da grande maioria e, por isso, convém que, de vez em quando, alguém fale sobre elas, a fim de que não caiam de vez no esquecimento. Falarei então sobre uma dessas, que, a meu ver, merece ser relembrada e cultuada por todas as gerações de goianos.
Refiro-me à índia Caiapó, Damiana da Cunha Menezes, que viveu na Província de Goiás no fim do século XVIII e início do século XIX.
Tudo começara quando o Governador da Província de Goiás, Capitão General D. Luís da Cunha Menezes, pensando na preservação dos índios, que, diga-se de passagem, criavam sérios obstáculos aos que se aventuravam pelas ermas estradas que ligavam Goiás a outras Províncias, resolvera promover a atração desses índios através do convencimento pacífico, dispensando-lhes os melhores tratamentos em termos de qualidade de vida. Pensando assim, o Governador tomou providências no sentido de enviar um destacamento, que na verdade era uma expedição, composta por mais de quarentas pessoas, destinada a visitar várias aldeias dos sertões com a finalidade precípua de conquistar os índios Caiapós que eram considerados belicosos e viviam em guerra constante contra os índios Guaicurus e Bororos de Mato Grosso. Além disso, em suas andanças pelos sertões, os Caiapós percorriam Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e Paraná, combatendo sempre o branco invasor. Essa expedição era chefiada pelo cabo, José Luiz Pereira que tinha grande experiência no trato com os índios. Passados quase seis meses no sertões bravios, essa expedição conseguiu lograr êxito, pois retornou à Vila Boa, capital da Província, trazendo grande número de índios Caiapós,aproximadamente uns quarenta. Na frente dessa vitoriosa caravana vinha o Cacique Caiapó, Angraiochá, com esposa e filha, sendo que a filha trazia consigo um menino segurado pela mão e nas costas uma indiazinha bem nova. Como o Governador e sua esposa não tinha filhos, resolveram adotar essa indiazinha, além de batiza-la dentro dos costumes cristãos. Colocaram nela o nome de Damiana da Cunha Menezes. Essa índia, com o passar do tempo, conseguira ser reconhecida pelas autoridades da Província, principalmente por ter sempre envidado esforços para conter a nação Caiapó, evitando-se assim, perdas de vida, tanto de brancos como de índios.
Surgia então a grande heroína de Goiás, e porque não dizer do Brasil? Essa índia crescera e tivera uma educação esmerada e pode assim, ajudar toda sua raça, ministrando-lhes todo o conhecimento adquirido com os civilizados.Após algum tempo esses índios foram levados para a Aldeia Maria e depois de lá foram transferidos para a Aldeia de São José de Mossâmedes, que era considerada um avanço para a época, e por isso, era denominada de Aldeia Modelo. De vez em quando os Caiapós que eram muito rebeldes e destemidos, se rebelavam e partiam novamente para as florestas. Temendo que algo de ruim lhes acontecesse, Damiana ia atrás deles e conseguia traze-los de volta até Mossâmedes. Essas incursões foram permanente em sua vida. Todas as vezes que ia atrás dos índios, Damiana lograva êxito, pois a presença dela significava, seriedade, amor e compromisso com os silvícolas. Nossa heroína casara-se por duas vezes. A primeira foi com o militar, José Luiz da Costa que a ajudara muitíssimo nas incursões junto aos índios, mas que infelizmente falecera em 19/03/1809. Sendo assim, casara-se novamente em 28/07/1822 com o também militar, Manoel Pereira da Cruz, que também a ajudaria em seu ofício de arrebanhar os índios fugidos. Damiana da Cunha Menezes falecera no dia 12 de dezembro de 1831 e fora sepultada com todas as honras de heroína na Igreja de Mossâmedes em Goiás.