TÚLIO MARAVILHA, O HOMEM QUE NASCEU PARA FAZER GOLS
Quem nasceu neste século e acompanha futebol, está acostumado a ver os melhores artilheiros marcando pouco mais de 30 gols ao ano. Quando é uma temporada acima da média, e um iluminado supera a marca de 40 bolas na rede, é glorificado por toda a mídia brasileira que cobre futebol.
E se dissermos que nos anos 90 do século passado os grandes goleadores marcavam muito mais gols? Vamos falar de um ídolo eterno do Botafogo e do futebol brasileiro, alguém que nasceu para fazer a alegria dos torcedores, com muitos gols brincadeiras com o fato de colocar a bola na rede. Estamos falando de Túlio Humberto Pereira Costa, mais conhecido como Túlio Maravilha.
Para se ter uma ideia, em 1995, pelo Botafogo, Túlio Maravilha marcou incríveis 67 gols em 53 jogos. Uma média bem superior a 1 gol por jogo. Mais precisamente 1,26 gol por jogo. E vale lembrar que na época, seus concorrentes eram Romário – que um ano antes foi o melhor do mundo -, Edmundo, Renato Gaúcho e Viola, entre outros craques. Tinha que superar zagueiros como o paraguaio Gamarra. Mesmo assim, Túlio não economizava quando o assunto era colocar a bola no fundo das redes.
Após começar a carreira pelo Goiás, onde inclusive foi artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1989, com 11 gols, foi jogar na Suíça por duas temporadas. Em 1994 retorna ao Brasil, para vestir a camisa do Glorioso, do Botafogo. Começou com a 9, e depois herdou a mítica camisa número 7, que nos anos de glória pertenceu a Garrincha, o maior ídolo do clube.
Logo na estreia, Túlio marca três gols, na goleada de 6 a 0 contra o América, pelo Campeonato Carioca. Passou o ano fazendo gols de todos os jeitos: de cabeça, perna direita, perna esquerda, canela, dentro da área, de fora. Resultado: terminou como artilheiro do Campeonato Carioca, ao lado de Charles, do Flamengo, com 14 gols. E foi ainda artilheiro do Campeonato Brasileiro pela segunda vez, com 19 gols, empatado com Amoroso, do Guarani.
Em 1995, Túlio e o Botafogo vivem um ano mágico. Rivalizando com o craque Romário, do Flamengo, Túlio conseguiu superar o Baixinho e foi artilheiro do Campeonato Carioca, com 27 gols, um a mais que Romário.
Mas a glória maior ainda estava por vir: o campeonato mais difícil do mundo, o Campeonato Brasileiro, exatamente um ano depois do Brasil conquistar o Tetracampeonato na Copa do Mundo dos Estados Unidos. Craques como Romário, Ricardo Rocha, Branco, Edmundo, Renato Gaúcho, Sávio, Giovani, Djalminha, Marcelinho Carioca, Gamarra, entre outros, participavam da competição. Era uma época que os ídolos ainda jogavam no país e não na Europa. Túlio levou o Botafogo à conquista inédita. Desde 1971, quando teve início o formato do Campeonato Brasileiro, o Botafogo não sabia o que era levantar o troféu. O time foi campeão e Túlio, o artilheiro máximo da competição, com 23 gols. De quebra, fez um gol em cada jogo da final, inclusive o gol do título, no Pacaembu, contra o Santos.
Túlio só não fez chover em 1995. Fez gol até pela seleção brasileira contra a Argentina, em Copa América. Gol polêmico, a la Maradona, dominando no braço. Terminou como rei do Brasil, superando Romário, Renato, Edmundo e companhia. Foram 67 gols, algo que no futebol deste século apenas Messi e Cristiano Ronaldo conseguiram.
A camisa 7 que já foi de Garrincha, nos gloriosos anos 50 e 60, caiu bem em Túlio Maravilha. Com ela, Garrincha colocou o Botafogo no topo. Com ela, Túlio fez o Botafogo campeão Brasileiro.
Túlio é tão ídolo do Botafogo que ganhou até estátua no estádio Nilton Santos. São poucos que conseguiram essa honra. É uma homenagem mais do que merecida, afinal o centroavante anotou 167 gols com a camisa alvinegra, se tornando o oitavo maior artilheiro da gloriosa história do clube.
Outra marca de Túlio é o bom humor, as tiradas, as provocações, as comemorações engraçadas. Não tinha receio de dizer que dentro da área era o melhor do mundo, melhor do que Romário. E em muitas vezes mostrava que estava com razão, com o que sabia fazer de melhor: marcando gols, com números.
Jogou em diversos outros times e, segundo suas contas, chegou ao gol 1000, marca alcançada antes apenas por Pelé e Romário. Túlio é o recordista de artilharia do Campeonato Brasileiro, com três vezes, ao lado de Dadá Maravilha, Romário e Fred. Foi o único a ser artilheiro de três divisões diferentes do Campeonato Brasileiro: A, B e C.
Falastrão, Túlio costumava dizer: “Eu gosto de fazer gols, tenho essa mania. Para me alcançar, tem que treinar de dia, de tarde e de noite!”. Quando ia aos programas de televisão era garantia de Ibope nas alturas, porque além de ser goleador dentro da área, era um craque com as palavras, com o marketing pessoal. Era super popular em uma época que não tinha redes sociais.
O maior legado de Túlio Maravilha ao futebol, sem dúvida alguma, foi a alegria. Alegria com os muitos gols e alegria com as declarações, as brincadeiras, algo que, infelizmente, está fora de moda no futebol de hoje.