O AMOR À DOR ALHEIA FAZ A DIFERENÇA
A história do menino Wilton Pereira Bastos, de 7 anos, tinha tudo para ter um final infeliz como um conto de fadas ao contrário. Morador do bairro Jardim Esperança, em Goianésia, o garoto teve o infortúnio de nascer sem parte do aparelho urinário. Em bom português, no lugar do pênis, possui apenas um breve canal, que o condenaria a passar o resto da vida usando fraldas e sem perspectivas de uma vida adulta normal.
Sua rara condição se agrava com o fato de sua família ser bem humilde no sentido financeiro. O pai, Valdenir Vieira Bastos, trabalha numa fábrica de manilhas e o que ganha é suficiente apenas para sustentar a família de forma modesta. A mãe, Maria Pereira Bastos, estuda pela manhã. Cursa o 9º ano no EJA (Educação de Jovens e Adultos), tentando recuperar o tempo perdido. O casal ainda tem uma filha, Dinamara, de 9 anos, que sofreu queimaduras pelo corpo e também inspira cuidados. Moram em dois cômodos no fundo do lote de uma prima de Maria. É uma morada franciscana, porém acolhedora.
Se a família fosse pagar a série de tratamentos para a "construção" da genitália do filho teria que arcar com aproximadamente R$ 180 mil, algo impensável para quem sobrevive com pouco mais de um salário mínimo por mês e ainda tem que gastar mais de R$ 100 a cada trinta dias para custear as fraldas que Wilton precisa usar para fazer suas necessidades.
LUZ NO FIM DO TÚNEL
Nada restava à família, exceto se conformar com a dificuldade e tentar, sem esperança de glória, amenizar o sofrimento. Na segunda metade do ano passado, no entanto, a sorte adentrou o quintal do menino Wilton e, como um colega querido, lhe acenou com um sorriso. Solange, assistente social da Secretaria de Saúde e, Cristiana Mendes, empresária e esposa do procurador geral do município, Adélio Júnior, se aproximaram da família e iniciaram um trabalho de sondagem. Era preciso avaliar as possibilidades e ir à luta. Foi aí que tiveram a ideia de procurar o vice-prefeito Robson Tavares, que é um dos médicos mais vocacionados da cidade.
Sensível, Robson se comoveu com a história e se alistou de imediato na missão quase impossível. O primeiro passo foi peregrinar em Goiânia em busca de uma luz inaugural que pudesse criar um caminho possível. Conseguiu com o médico Luciano Leão (ex-vereador de Goianésia) e que já foi diretor do Hospital Geral de Goiânia (HGG) que o garoto Wilton, encurtando longo caminho protocolar, fosse avaliado por uma equipe de especialistas da unidade. Isso aconteceu em outubro do ano passado. "A partir desse procedimento o Wilton passou a existir dentro da história do HGG. Ele era apenas uma ficha numa longa fila de espera. Agora, há um cronograma regular e ele tem acesso aos procedimentos", explica Robson.
Os caminhos se destravaram e fez-se luz no escuro outrora decretado. No dia 25 de março, o garoto passou pela primeira cirurgia de uma série que terá. O próximo passo, de acordo com Robson, será a construção, a partir de um banco de tecidos do HGG, do aparelho urinário externo de Wilton, ou seja, terá um pênis normal, o que o livrará para sempre das fraldas e do calvário que é submetido no dia a dia. Em menos de dois anos, reza o calendário, ele terá passado por todas as etapas e estará livre para sua vida feliz.
UM GAROTO FORTE
Wilton é um lutador. Apesar do infortúnio que lhe gera dor e constrangimento, não se deixa abater e tem uma vida digna e alegre. Aluno do 2º ano do Ensino Fundamental é considerado um dos melhores de sua sala, tanto que faturou até medalha de 1º lugar em concursos da escola. "Ele gosta muito de ler, fica me pedindo para comprar livros. É estudioso e responsável", atesta a mãe.
"Gosto muito de brincar de carrinho no tempo livre e varrer o terreiro para minha mãe", diz o garoto, que também se diverte com o cão Feroz, que fica no quintal. Já consciente de sua condição e da situação financeira da família, comemora a economia que terão com a dispensa das fraldas. "Bom que meu pai não terá que gastar mais dinheiro com isso", prevê.
A mãe é só gratidão. "Agradeço a Deus por ter colocado o Robson no nosso caminho. Assim como a Cristiana e a Solange. Agora meu filho terá uma vida normal", agradece Maria. Sorridente e grato, Wilton é um menino que sonha com o futuro. Perguntado o que quer ser quando crescer, não titubeia: "Quero ser médico igual o Dr. Robson".
Matéria publicada em junho de 2015 no jornal Diário do Norte.