TEXTO ACADÊMICO

O conhecimento vem da observação e da pesquisa. Flui à semelhança de um minadouro, fertilizando o pensamento, movimentando o raciocínio.

O valor de um texto produzido por acadêmicos, quando da conclusão e cursos, é inestimável. Infelizmente, e por uma série de motivos, tais textos _resultado de esforço, tempo e dinheiro _, são abandonados, até pelos seus próprios autores.

Existem inúmeros compêndios que versam sobre a metodologia do trabalho científico. Em geral, a primeira preocupação dos autores desses compêndios é a questão do método e da forma. Evidenciam a forma, o recipiente ao qual deve acomodar-se o conteúdo, a ciência, o conhecimento. Assim acontecia, por exemplo, com os sonetos clássicos. Os poetas precisavam aprisionar a inspiração, como preconizava o modelo exigentíssimo àquela época. Entretanto, frise-se que, nem apenas do modelo se nutre o texto acadêmico , sobre o qual fazemos esta reflexão.

É relevante que as normas sejam respeitadas, religiosamente observadas, idem para o processo de digitação. São mesmo aspectos importantes, mas nem a norma, nem a metodologia sobrepujam o conhecimento e a língua na qual o trabalho será explicitado.

Pesquisa exige dedicação, tempo e dinheiro. Enquanto isso, os acadêmicos vivem às voltas com outras disciplinas, exigências de outros professores e trabalho para obter a sobrevivência.

A orientação de trabalhos acadêmicos é algo muito sério, principalmente em um país como o Brasil onde as estatísticas apontam para números reveladores da péssima situação da leitura e da escrita dos nossos jovens e adultos. Se assim o é, não se pode acreditar que teremos bons textos acadêmicos. Uma das maiores dificuldades para obter sucesso no vestibular é a redação, o calcanhar de Aquiles_ produto de um ensino cuja ilusão consiste em fazer alunos decorarem regras gramaticais. As regras são leis e não foram criadas para serem decoradas. O que seria então dos advogados?

Temas para pesquisa não devem ser sequer sugeridos, quanto mais impostos. Devem ser orientados. Não é compreensível, nem há coerência em, por exemplo, haver milhares de trabalhos acadêmicos sobre a leitura e a escrita, se este é o maior problema dos iniciantes da pesquisa. Não é possível iniciar um texto, ou seja lá o que for, sem antes planejar e elaborar um plano.

O sistema de orientação de trabalhos monográficos falha também quando aposta na sapiência de algum doutor em uma determinada área, mas que não admira e nem exercita a a produção textual _ a não ser a da sua tese, filha única da necessidade de adquirir tal título.

Outros pecados visíveis nos textos de trabalhos acadêmicos são: muita fachada e pouca consistência (obra faraônica); falta de coesão e de coerência; falta de pertinência científica, de revisão das partes e do todo; citações soltas, desconectadas do texto e do contexto; excesso de citações; paráfrases truncadas; frases escessivamente curtas e de sentido comprometido; frases longas e de efeito artificial; anexos lingüiça, descomprometidos com o teor da pesquisa; referências bibliográficas incompatíveis ou estranhas ao tema abordado;falta de revisão gramatical, de conteúdo, de significado, e outras. Portanto, uma dissertação elaborada dentro desse emaranhado de mal-entendidos jamais apresentará resultados, discussões, sugestões, conclusões.

Trabalhar bem a Língua Portuguesa em um texto acadêmico não se restringe apenas e tão somente a colocar a pontuação, grafar corretamente as palavras ou acentuá-las devidamente. Este não deve ser o norte para o tecido de um texto, mas o sul _digamos assim.

A linguagem do texto acadêmico deve primar pelos seguintes itens: conhecimento e fidelidade ao tema abraçado; clareza e objetividade das palavras, das orações, dos parágrafos em individual e em coletivo; das partes constitutivas do todo textual, da primeira à última página, numerada ou não; esmero para se manter na esfera temática; lógica na argumentação.

Convém, inclusive, após a finalização do trabalho, fazer uma leitura test-drive para colegas, amigos e parentes. Durante esse exercício o autor perceberá discrepâncias, imperfeições que a leitura silenciosa não permite entrever.

A digitação da monografia será entregue a um profissional da digitação, cuja responsabilidade seja reconhecida pela competência e dedicação. Uma vez copiado em CD, ou impresso, faz-se outra revisão, de preferência por um especialista na área, um professor-revisor.

A seguir, virá o momento temido pelos acadêmicos, a apresentação oral da pesquisa. Ou seja, uma aula, na qual, espera-se, o acadêmico demonstre qualidade.

O plano da apresentação (defesa) costuma, atualmente, ser preparado para a exposição de slides em data-show. O aluno deve estar preparado para alguma eventualidade, falha técnica da aparelhagem, por exemplo. Os mesmos cuidados e outros específicos deverão nortear o momento da apresentação. O expositor deverá convencer à banca examinadora que domina o tema e a linguagem. A oralidade estará em evidência, a segurança emocional, o mis-en-scène, a pronúncia, enfim o uso da linguagem considerada padrão e pertinente à área.

Feitas tão breves considerações sobre a natureza do trabalho acadêmico, esperamos que você mesmo consiga produzi-lo, tenha boa sorte e parta para outras pesquisas.