ENSINANDO A LÍNGUA HERDADA?

Parece insuficiente centrar a questão do ensino-aprendizagem da língua, como se vem fazendo, tomando por base metodológica apenas o texto escrito, seja em livros, jornais, revistas, e-livros.

A oralidade não é devidamente prestigiada nas salas de aula, onde as normas disciplinares exigem que os alunos fiquem calados. Cômico e trágico.

O mundo moderno, globalizado e prenhe de novas tecnologias é uma realidade inevitável. Dentro dessa realidade a língua se movimenta, acompanha a evolução sócio-histórica e se inclina naturalmente para um desempenho verdadeiramente global. Todos querem ouvidos/escutados e lidos por seus semelhantes, estejam onde estiverem

O sensível desenvolvimento das comunicações e o célere progresso tecnológico promovem alterações na forma de falar, de ouvir e entender, e de escrever. A caneta e o lápis não foram substituídos, apenas acompanharam a evolução e aparecem em alto estilo, produzidas para o mundo de agora.

A língua falada se renova, não quer perder para a caneta. Conservadores julgam haver um empobrecimento, tanto da fala quanto da escrita. Por que não pensamos que a língua escrita também não quer ficar fora-de-moda? A língua não é afeita à cristalizações e a sua dinâmica merece respeito, pesquisa e seriedade. Por que haverá tanto empenho e arte em dominar a língua?

E, então, que métodos e técnicas utilizar para aprender e ensinar a língua ?

E, então, devemos aprender a língua tal qual a herdamos, ou a que verdadeiramente exercitamos?

Estou perguntando por perguntar, mas é claro que a resposta é que devemos ser verdadeiros e atuais, identificados com o nosso momento.

O perfil de um sujeito moderno requer que fale a língua dos homens com os quais convive, todos, do globo. Portanto, não tem mais lógica perseguir palavras estrangeiras porque nada é estrangeiro. Somos todos daqui, da bola terrestre. A casa é nossa. Assim como a criatura da "Era de Saturno" não consegue mais imaginar o mundo sem o telefone,sem o avião, sem a internet, não consegue agrupar-se falando e escrevendo uma forma de língua da Era do Império Romano ou da Era

das Grandes Navegações.

Não adianta fingir-se de morto para a Pós-Modernidade. Ou se aprende a olhar de frente para o novo ou se estará tentando uma espécie de suicídio.

Uma metodologia específica do trabalho com a língua portuguesa para o alcance de novas formas de expressão do e no mundo pós-moderno e globalizado passa obrigatoriamente pela sensibilidade não só de fazer a leitura de tal mundo, mas de com ele conversar e interagir.

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São do poeta sergipano Mário Jorge Menezes Vieira (falecido em 1973) as seguintes e contundentes afirmações:

"A civilização urbano-industrial colocou o Homem impotente face à velocidade e violência do instante que o esmaga, dilacera e desafia. Colocou o frágil diante de sua pequenez, nu frente à sua condição de coisa entre coisas, afogado na sua própria criação, a tecnologia."

"A transformação por que passamos é radical e total, um homem novo, de características inimagináveis vem surgindo. É preciso preparar-se para recebê-lo, é urgente abrir a picada para o seu caminho. A arte é uma das possíveis armas com que se conta para este empreendimento (assim como apolítica, a ciência, a tecnologia)."

"É reacionário e romântico ver na tecnologia o grande mal da humanidade. A técnica em si é nada, seu uso é que determina seu conteúdo. Colocá-la a serviço da exploração, da desumanização, da destruição, é que determina a sua periculosiddade. E este uso é político."