O RENASCER DA ALMA FEMININA
Não é fácil definir o assunto para colocar nesse diário, principalmente para quem, como eu, decidiu fazer desse exercício não só um treinamento literário, mas também um trabalho de reflexão e auto-conhecimento.
Muitos assuntos vieram a mente: foi um fim de semana atribulado - amigos com problemas que não sei resolver, o casamento de pessoas de quem gosto, jantar entre amigos, almoço de domingo. O dia porém foi encerrado com uma oficina de auto-conhecimento e este, na eleição que fiz entre os meus assuntos para reflexão, ganhou disparado, com muitos pontos de vantagem sobre os outro concorrentes.
Há algum tempo atrás comprei o livro A Ciranda das Mulheres Sábias de Clarissa Pínkola Estés (Ed. Rocco) Li e dei para a minha amiga MN, que acabara de se transformar em avó, e portanto em uma mulher sábia. Ela também leu. Nossa amiga comum CA também tinha o livro e leu. Nós resolvemos então fazer uma Oficina para o nosso grupo de mulheres, que podemos não ser sábias, mas certamente buscamos isso para tornar a nossa vida melhor.
Éramos 13 mulheres em volta de uma mesa. Uma varanda e um jardim bucólico. E o seguinte texto, lido silenciosamente, enquanto o sol baixava rumo ao poente, e os pássaros se despediam do dia:
"Toda árvore possui por baixo da terra uma versão primeva de si mesma. Por baixo da terra, a árvore venerável abriga uma "árvore oculta", feita de raízes vitais constantemente nutridas por águas invisíveis. A partir dessas radículas, a alma oculta da árvore empurra a energia para cima, para que suas naturezas mais verdadeiras, audazes e sábias vicejem a céu aberto.
O mesmo acontece com a vida de uma mulher. Como a árvore, não importa em que condições ela esteja acima da terra, exuberante ou sujeita a enorme esforço, por baixo da terra existe UMA MULHER OCULTA que cuida do estopim dourado, aquela energia brilhante, aquela fonte profunda que nunca será extinata. A MULHER OCULTA está sempre procurando empurrar esse espírito essencial em busca da vida. Para cima, para que atravesse o solo cego e consiga e consiga nutrir seu eu a céu aberto e o mundo ao seu alcance."
Decidimos que seria eu a contar a história de um velho choupo, narrada no livro. Eu a contei em detalhes, com as palavras poéticas da autora, mas aqui eu vou apenas resumir: Era uma árvore secular que sobrevivera a todo tipo de intempéries, até ser destruída por gente armada de serras de arco e machados e transformada em madeira comum, para o fabrico de caixotes. A árvore havia acabado, diziam todos, como dizem das mulheres que são derrubadas, pisoteadas pela vida. Fim. Um enorme vazio ocupou o seu espaço, só restando aquele cepo, qual um tampo de mesa, com 1,80 de dâmetro onde podiam se deitar estendidaos, os corpos de quatro mulheres de quadris largos e exuberantes. E assim o tempo foi passando...passando, como passa também em nossas vidas. Foi então que aconteceu o milagre: do cepo liso sobre o qual um dia a árvore se erguera, cresceram 12 rebentos, direto para o alto, fortes e ondulantes, como se dançassem em uma roda... E a autora conclui: Quem será capaz de dizer que alguma coisa (...) que foi rasgada e retalhada morreu de verdade? Quanto a qualquer mulher arrasada, quem poderá um dia avaliar que grande vida poderá brotar de seus (...) ferimentos, a partir do cerne oculto, o ESTOPIM DOURADO que sempre estará a procura da vida significativa a céu aberto?
Fomos então dividas em grupo e com o auxílio de velhas revistas femininas preparamos uma colagem: uma árvore ( a maioria dos grupos escolheu como tronco o corpo de uma mulher) cujos galhos seriam as imposições que a vida faz para cercear o nosso crescimento e felicidade. E, depois que apresentamos o nosso estupendo trabalho criativo (eu sempre me espanto com os resultados que conseguimos) é que veio o momento climático: cada uma de nós pode mostrar alí, a situação que um dia nos fez pensar que estávamos destruídas e contar a estratégia que fez acender o seu ESTOPIM DOURADO, capaz de nos transformar em uma nova mulher, forte, brilhante e esplendorosa. Construímos então uma árvore com 13 galhos onde colamos o nosso"estopim dourado"É claro que me lembro do estopim de todas, mas aqui só o meu: Todos os dias são dias para recomeçar. A emoção foi grande mas terminamos a noite em volta de outra mesa, a de café, certas de que nosso estopim dourado estará sempre pronto a ser ativado, para nos reerguer em todo e qualquer momento de queda e destruição. E se escrevo isso é para que eu mesma nunca me esqueça disso. Para minha amiga a quem eu não sei como ajudar encontre dentro de si mesma o DOM capaz de fazer sua vida desabrochar novamente e para que todos que lerem este texto tenham certeza de que dentro de sí também têm esse ESTOPIM DOURADO que, com tempo e paciência fará brotar novamente a alegria de viver.
E, para terminar, eu pergunto: QUAL É O SEU ESTOPIM DOURADO? E não restrinjo esta pergunta para as mulheres porque acredito que todo ser humano tem um estopim dourado dentro de si.
(Publicado nas páginas do meu diário em 27/08/2007)