PRECONCEITO CONTRA OS ÍNDIOS É PATROCINADO
Demétrio Sena - Magé
"Parece uma índia; um índio". É como tanta gente se refere a pessoas morenas muito bonitas aos seus olhos. Por essa epígrafe, posso dizer que o preconceito contra o índio é quase tão profundo quanto o racismo, praticado contra o negro, mas inclui causas e motivações diferentes. Enquanto indígenas são perseguidos, expulsos, assassinados e ameaçados de extinção, não só porque são índios, mas também porque diversos exploradores querem tirá-los de suas reservas, os negros são impedidos de ocupar igualitariamente os espaços da sociedade, especialmente porque são negros... a sociedade branca e a pretensamente os odeiam por questões étnicas e de aparência. Inclusive muitos pardos e morenos (os negros pretensamente brancos), em situações nas quais precisem se identificar etnicamente, acham mais confortável dizer que são descendentes de índios do que se declarar negros.
O índio sofre, sim, muito preconceito, e se vê odiado por muita gente que nem se apercebe da raiz do seu ódio, que quase sempre é um preconceito firmado em fontes e questões mercadológicas... idealizado e regido para, com a banalização e o posterior extermínio amparados por leis contrárias ou por brechas propositais nas leis de proteção, facilitar os resultados da ganância dos exploradores. Isso acontece desde a invasão do Brasil pelos europeus, prioritariamente porque os índios ocupam espaços ambicionados por madeireiros, fazendeiros, grileiros, garimpeiros e políticos comprados por esses e outros "eiros" que se sentem ameaçados pela sua legitimidade pioneira ou nativa. Sua certidão natural de posse destas terras das quais são expulsos há séculos.
A sociedade brasileira segue ostensivamente marginalizando os índios, em razão do seu preconceito patrocinado por essa ganância. Toda e qualquer luta pela preservação e pelos legítimos direitos dos indígenas é, em potencial, uma importante luta em favor dos primeiros filhos desta terra e contra o capitalismo selvagem, a destruição total da natureza e da própria identidade ou história do Brasil. Seja por quais motivações ou interesses, todo preconceito é pernicioso... exclui, machuca e mata. O combate ao racismo contra o negro (a pior e mais resistente forma de preconceito) não pode respirar, sob pena de retrocessos irreversíveis... mas proteger os povos indígenas, inclusive ajudando a empoderá-los como seres humanos e ao mesmo tempo respeitando a sua origem, natureza e habitat, será também proteger a nossa casa, o nosso passado e nossa origem... a certidão do Brasil.