PRETO - PERFEITO OU NADA FEITO

Demétrio Sena - Magé

A sociedade branca brasileira (brancos, pardos e morenos) não perdoa o preto, se ele não for perfeito e não provar a cada instante sua perfeição. Para esta sociedade, só há dois tipos de preto: o perfeito (bem ao gosto do branco) e o que não presta. Não existe o ser humano preto nem o preto ser humano. Se um preto "sair da linha" em seu linguajar... for às vezes queixoso do tratamento separatista e das desigualdades sociais que sofre... não adotar para si os costumes e as obrigações culturais eurodescendentes e, numa demonstração de cansaço explosivo, devolver um pouquinho das manifestações preconceituosas diárias e maciças que sofre, o mundo cai sobre sobre seus ombros. " Viu aí? Não é só o preto que sofre preconceito! O branco também sofre!".

O branco/pardo/moreno não é vítima nem sofre preconceito. Ele às vezes é alvo da resposta isolada, quem sabe até injustamente num caso específico, mas indignada e ferida, de alguém que sofre na pele; por causa da pele, todas as formas de agressão racista, exclusão social, falta de oportunidades... e no caso de um preto socialmente bem sucedido, aquele cansaço profundo em razão do quanto lhe custou além, muito além, para chegar lá... dos milhões de vezes que precisou provar seu mérito e a todo momento precisa reafirmá-lo, para se manter. Ao primeiro "passo em falso", a sociedade branca superdimensiona o gesto, a palavra e aproveita para se livrar de mais um preto perigoso em razão do ativismo pelo empoderamento ainda necessário para que se alcance a igualdade racial.

Um crime cometido por um branco famoso, por exemplo, muitas vezes é visto pela opinião pública como um erro passível de compreensão. Dias depois o indivíduo vem a público, diz um breve "foi mal, não tive a intenção" e todo mundo reconhece a grandeza do seu reconhecimento do próprio erro. Mas um erro cometido pelo preto famoso não é um erro. É um crime que nunca será perdoado pela sociedade branca (brancos, pardos, morenos) adepta do confortável "Tá vendo aí? Não é só o branco!". A sociedade branca brasileira não quer pretos seres humanos... nem seres humanos pretos... apenas pretos perfeitos (ao gosto do branco), para poder se livrar deles ao menor defeito que apresentem... pois eles "sabem que vão apresentar".

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"Por que preto e não negro?".

Porque no Brasil, país majoritariamente negro (pardos, morenos, mulatos...) o preconceito é da cor. É um preconceito racista profundo; enraizado; estrutural; pernicioso... mas ao mesmo tempo fútil; raso; de pele; o que o torna ainda mais inexplicável.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 26/04/2021
Código do texto: T7241458
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