AOS POBRES MORTAIS IMORTAIS

Demétrio Sena - Magé

Nas academias literárias, vejo muita gente preocupada em saber se a sua poesia está "correta". Não há poesia correta ou incorreta, porque poesia é sentimento que o coração dispõe para que o pensamento faça fluir como lhe apraz ou convém. Sentimentos não têm regras burocráticas que os definam como esteticamente certos ou errados. Ninguém sente nem pensa errado, se o assunto é poesia.

Existem sim, algumas roupagens que o ser humano inventou para gradear a escrita poética, e podemos optar ou não, pela utilização dessas roupagens. Mesmo assim, quem tentar escrever uma trova, um soneto, haicai, poetrix ou seja lá o que for, e não acertar na métrica ou na musicalidade/rima, terá errado na composição da modalidade, mas terá composto uma poesia. Não a trova, soneto, haicai ou poetrix, mas uma poesia... uns torcerão o nariz, farão discursos didáticos de reprovação e outros ficarão emocionados com a mensagem, por si só... com o significado, a profundidade, a proposta reflexiva e o sentimento impressos nessa poesia.

A expressão do amor, do desamor, da solidão e das mazelas humanas não têm regras acadêmicas nem gramaticais. Em tudo existem o apuro e o mal gosto, mas na poesia e nas artes não cabe a desqualificação de uma peça como algo do qual o outro não poderá gostar, porque não gostamos. O sucesso estrondoso de músicas condenadas por especialistas ou ouvintes eruditos é a maior prova dessa verdade.

Quanto a nós, poetas e artistas acadêmicos, não somos os deuses das artes e da escrita, e muitas vezes, a pretensão de ser nos confina em uma profunda solidão folheada a brio. Às vezes é bom nos desarmarmos da nossa pompa e sisudez para sermos mais poetas e artistas do que propriamente acadêmicos.