Opções fundamentais

A Igreja latino-americana proclamou, há mais de duas décadas, algumas opções, chamadas “preferenciais”, pelos pobres e pelos jovens, onde exortava que se enxergasse nesses dois segmentos a face desfigurada do Cristo sofredor, como símbolo da opressão e do afastamento dos preceitos do Evangelho. De lá para cá, muitos deixaram de falar nos pobres, ficando o assunto malvisto, como se tratasse de uma ideologia nefasta à fé cristã.

Como conseqüência do abandono dessa opção evangélica, ficou mais fácil seguir a religião, pois muitas consciências se anestesiaram na desobrigação da alteridade, uma vez que orar, ir à igreja e participar de cerimônias litúrgicas parece resumir o seguimento ao Ressuscitado. Hoje não se fala mais em opção pelos pobres, não se denuncia a exploração nem se combate a exclusão. Tudo ficou confinado no tabu das ideologias. É como disse Dom Helder, certa vez: “Se falo nos pobres me chamam de profeta; se pergunto por que existe pobreza dizem que sou comunista”.

As palavras de Jesus “sempre haverá pobres no meio de vocês” soam como uma profecia ao descaso. Sempre haverá pobres porque não sabemos repartir, esquecemos de ser solidários, só nos preocupamos com o nosso bem-estar.

Se de um lado a opção pelos pobres foi polêmica e gerou muitos debates, a outra, pelos jovens, nunca chegou a decolar, pelo menos na prática, a despeito de tantos discursos bem intencionados. Há dias escutei um pregador elencar os sete vilões que agridem a juventude: a miséria, as drogas, a crise na educação, o desemprego, as más lições da televisão, a superficialidade e a indiferença. Estava muito certo o comunicador, pena que ele se esqueceu do pior deles: a família. Sim, porque uma família desestruturada, incompleta, onde falta o pai ou a mãe (ou os dois), um grupo familiar que não cultiva a virtude e dá mau exemplo, um lar onde falta tudo desde o pão até o abraço, está aí a grande gênese de uma juventude sem esperanças. Como primeiro estágio de opção pelos jovens está a necessidade de se revitalizar as famílias.

Não se consegue uma sociedade sã se não obtivermos famílias que a sustenham. Fora disto é demagogia, pano para cobrir o bolo, tapar o sol com a peneira. Não resolve fazer um encontro de jovens, estabelecer datas temáticas ou festas comemorativas, se não tivermos a pertinácia de transformar essa iniciativa em uma atitude profunda, consciente e continuada. É válida a expressão que diz que “há que se educar o menino para não ter que punir o homem”. Assim, é imprescindível que se resgatem todos os valores de uma família se quisermos ter cidadãos dignos e conscientes, a partir de uma juventude cristã, participativa, cidadã, aberta à afetividade e, sobretudo sã.

Em uma família, do tipo “casa sobre a rocha” os problemas do mundo não logram obter maiores vitórias. Pode haver crises, chuvaradas e ventanias, mas a casa, por erguida sobre a rocha do amor, jamais vai cair.

O autor é um leigo, Doutor em Teologia Moral, autor do livro “A casa sobre a rocha”, Ed. Vozes, 1998.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 30/10/2007
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