Diter foi ao Jô


        Ontem, Diter Stein, escritor natural de Petrópolis,RJ, mas residente aqui em Lavras, sul das minas gerais foi ao Programa de Jô Soares.Foi falar sobre o seu livro O Brilho do Sangue, editado pela Record. Eu já sabia, mas Diter, em um encontro casual na rua, confirmou.Resolvi esperar para ver no que ia dar. Enquanto esperava comecei a ler História do Cerco de Lisboa, de José Saramago. Ler Saramago é sempre uma volúpia, mas é difícil. Dono de uma linguagem única, escreve alterando todas as regras de pontuação. Um parágrafo, um capítulo. Diálogos onde as falas se misturam e tem que se ficar atento para definir quem falou o que.De repente é um e você pensa que é outro.Releituras são lugares comuns para se entender o texto.Além disso é português e inventivo de palavras. Mas não era nada disso que estava atrapalhando. Era a letra da edição que eu tinha em mãos. Tão pequenininha que eu tinha que seguir cada linha com um marcador de livros para não me desviar.Não gosto de ler assim.Gosto de me perder, livre no texto, os olhos desimpedidos levando tudo diretinho para o meu mundo interno.Eu sempre me irrito quando vejo pessoas lendo e mexendo os lábios ao mesmo tempo. Como se para ler fosse preciso soletrar.Eu estava me sentindo assim, com o espírito soletrante.Foi a conta de ler dois capítulos e o Programa começou. Não gosto muito de assistir ao Jô, ultimamente eu o sinto como um professor que de tão confiante em si mesmo não prepara mais a aula. E supre essa falta de preparo com ironias que deixam seus convidados sem graça. Eu temia por meu amigo mas foi um temor em vão. Ele se saiu muito bem falando da sua luta de vinte anos para publicar o seu livro. Das inúmeras recusas que recebeu, das inúmeras frustações. Eu li o livro há algum tempo atrás. Diter fez um lançamento aqui em Lavras,na Livraria e Cafeteria da Bete (Sabor 
e Arte ) e eu estava lá. Comprei o livro e Diter fez uma bonita dedicatória:" Para Maria Olímpia que cuida tão bem da cultura em Lavras, grande abraço do agora também lavrense Diter". Li o livro e gostei. Gostei da edição, bem cuidada, bonita.Gostei do livro. A contra capa nos fala de sua singularidade. José Castelo escreve o prefácio.Terminei de ler o livro sem saber definí-lo: romance, contos?
Desisti de me preocupar em definir porque nem mesmo o pai da criança sabe como denominá-lo.Além disso acredito piamente que depois de escrito e publicado a obra pertence a quem a lê. Assim cada um pode definir como quiser. Mas Diter falou algo durante a entrevista que eu acho que identifica claramente o seu livro"são histórias quebradas" e é assim que vou pensar nO Brilho do Sangue daqui para a frente. Aliás, vale pensar o que quiser do livro, só não vale não ler. Porque o livro é bom, estranho e intrigante. Porque Diter sabe escrever.