Os anos dourados eram assim

Impecavelmente uniformizada, saia de pregas azul marinho, blusa branca com elástico na cintura, sapato preto e meias. Usando esse uniforme, dirigia-me todas as manhãs, ao lado do meu inesquecível irmão Zelson, à Escola Municipal Silva Jardim, na cidade de Viçosa, cuja mestra era a madrinha Eudóxia Nemézio.

Após um pedido de bênçãos e um bom-dia, correspondido de maneira sorridente e fiel, nos dirigíamos às nossas bancas coletivas, confeccionadas de maneira rústica, sem apoio algum que facilitasse o descanso dos nossos pertences, resumidos apenas numa raquítica Carta de ABC, Tabuada, caderno, lápis e uma borracha presa na extremidade do mesmo, complementando a nossa bagagem escolar. Mas, esses mínimos instrumentos eram suficientes e nos capacitariam para a vida que se desenhava à nossa frente.

O ambiente era restrito, simples, mas aconchegante, retratando na parede principal a imagem de Jesus, com flores aos seus pés. Ele sempre foi o primeiro homenageado após o ingresso e a chamada da turma.

A mestra ocupava uma mesa com gavetas, esboçava autoridade e carinho, comandando o desempenho de cada um de nós, a postura que apresentávamos, o silêncio expandido por todos os lados.

Uma vez por semana, a nossa bandeira era hasteada solenemente ao som do Hino Nacional, entoado por nós em brados eloquentes, quando soltávamos a nossa voz repleta de amor e obediência à nossa Pátria. Perfilados e com a mão direita espalmada no peito esquerdo, parecíamos soldadinhos de chumbo, eretos, sérios, ocupando espaço em uma calçada íngreme, de tijolo batido. Ali, à frente da escola, nosso pavilhão permaneceria até o final das aulas e, ao ser recolhido, acomodar-se-ia numa parede à frente da professora, sempre estendida para que a respeitássemos, admirássemos e compreendêssemos o sentido de cada um dos seus desenhos e cores, recebendo também o carinho do vento que adentrava pelas duas janelas laterais. Ali, teve início a minha eterna admiração pelas estrelas que, desprendidas do céu, vieram iluminar a nossa Pátria e os homens de bem que a governavam.

Orávamos diariamente o Pai Nosso, antes do início das atividades, saudando o Cristo verdadeiro e único, exposto ali, no extremo da parede daquela sala humilde, mas que ofereceria ao mundo homens e mulheres de bem, exemplos de honestidade e respeito aos seus patrícios. Muitos que faziam parte daquele grupo ainda permanecem em nosso meio, outros, após tornarem-se espelhos, partiram de mãos vazias, espírito livre e desprendido de qualquer maldade.

Atualmente, nossa Pátria encontra-se totalmente mórbida, ignorando que a nossa permanência aqui, distante da prática dos valores que caracterizam a decência, é apenas uma ilusão maligna. É um recreio com lanches amargos ou inexistentes e, assim, vamos nos isentando a cada dia dos ensinamentos incontestáveis da sabedoria divina, seguindo sem rumo, ignorando o futuro, pois estamos plantando na verdade sementes alquebradas e improdutivas.

A brevidade do tempo, cada vez mais efêmero, ainda faz insinuações para avistarmos os locais onde se debruçam a verdade, o amor e a honra, o que nem sempre prevalece. Jamais deveremos ignorar que somente a dignidade do homem construirá valores e os conduzirá, um dia, a um lugar onde existe a verdadeira sabedoria e paz!

Zélia Tenório de Araújo
Enviado por Zélia Tenório de Araújo em 08/04/2020
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