PRÁTICA COOPERATIVISTA E AS INTERFACES HÍBRIDAS DO CAPITALISMO EM NOME DA ECONOMIA ALTERNATIVA: OS GANHOS E ARRANJOS DA SOCIALIZAÇÃO DO TRABALHO COOPERATIVO.

PRÁTICA COOPERATIVISTA E AS INTERFACES HÍBRIDAS DO CAPITALISMO EM NOME DA ECONOMIA ALTERNATIVA: OS GANHOS E ARRANJOS DA SOCIALIZAÇÃO DO TRABALHO COOPERATIVO.

Por Claudionor Pereira de Lima -RC: 25545 -04/02/20190385

LIMA, Claudionor Pereira de [1]

Prática cooperativista e as interfaces híbridas do capitalismo em nome da economia alternativa: Os ganhos e arranjos da socialização do trabalho cooperativo. LIMA, Claudionor Pereira de. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 01, Vol. 07, pp. 153-165. Janeiro de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

INTRODUÇÃO

A INTERDEPENDÊNCIA NA COOPERATIVA POPULAR: RELAÇÃO, TRABALHO E O TRABALHADOR.

ASPECTO HÍBRIDO DA COOPERATIVA: ARRANJOS E GANHOS, SOCIOCONÔMICO E PESSOAL.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar o estudo em uma cooperativa constituída de homens e mulheres da Associação da Casa de Mel em Bacabeira, no estado do Maranhão, sobre uma perspectiva de uma economia híbrida: Socialismo e Capitalismo. Apresentada em um sistema de trabalho cooperativo. A metodologia utilizada foi de estudo de caso exploratório como instrumento para compreender melhor os processos organizacionais e as razões pelas quais algumas políticas sociais e econômicas estão presentes nessa cooperativa. Foram aplicadas entrevistas, questionários e análises de dados no decorrer do processo de pesquisa. A fundamentação teórica reúne conhecimentos do campo da sociologia, economia e também de experiências dos trabalhadores apicultores frente aos desafios de criar, manter e projetar um modelo de cooperativa para atenuar os índices de desemprego crescente no campo do trabalho formal na contemporaneidade.

Palavras-chave: Trabalho, Cooperativa, Economia, Capitalismo.

INTRODUÇÃO

As novas configurações dos setores de trabalho que passaram a achar assentos marcantes a partir da década 1980 (ANTUNES, 2006), ecoaram em décadas posteriores sinalizações de alternativas para o desenvolvimento econômico em muitas partes do mundo. Fazendo com que a presença de novas formas de trabalho como cooperativas e outras possibilidades relacionais de trabalho atraíssem atenção de homens e mulheres que perderam vínculos nos diferentes setores produtivos dos anos 70, diante da crise estrutural do capitalismo que seguira. (ALVES, 2000).

Dentro deste quadro desfavorável, o capitalismo se reinventa, reestrutura sua produtividade, adiciona novas fontes tecnológicas, moderniza seus maquinários e potencializa o capital financeiro, abrindo assim novos caminhos para construção dos seus excedentes. Contudo, paralelo a essa nova realidade que se descortina surgem outras realidades, posto que trabalhos e trabalhadores se tornam disfuncionais, obsoletos, substituíveis e inadequados para o modelo neo – produtivista que aparece. Que, em rigor, tem exigência mais técnica e, na prática, absolve pouca mão de obra nas indústrias e nas fábricas. Deixando, com isso, centenas e milhares de trabalhadores fora do mercado de trabalho. (GORENDER, 1997). Em razão da crescente presença de trabalho impulsionados pela relação de automatização de aparelhos eletrônicos, com maior espaço de uso de roubos, que mesmo não tendo vida em si, são programados para substitui a presença, posição e postos de trabalhos de dezenas de trabalhadores .

Em decorrência desses fatos, surgem novos fenômenos sociais requerendo espaço de trabalho com inspirações de uma estrutura econômica que, mesmo engendrada no antigo e colossal sistema excludente, o capitalismo, o cooperativismo se estabelecer e, ao mesmo tempo, arregimentar condições e forças para enfrentar a política excludente do sistema capitalista, já que a presença da classe operária operante no módulo fordista não se ajusta mais às novas transformações tecnicistas nem às novas tipificações que surgem na década de 90 com a política do neoliberalismo e os seus novos modelos produtivo de trabalho, conforme aponta Ricardo Antunes, quando diz:

O mais brutal resultado dessas transformações é a expansão, sem precedentes na era moderna, do desemprego estrutural, que atinge o mundo em escala global. Pode-se dizer, de maneira sintética, que há uma processualidade contraditória que, de um lado, reduz o operariado industrial e fabril; de outro, aumenta o subproletariado, o trabalho precário e o assalariamento no setor de serviços. Incorpora o trabalho feminino e exclui os mais jovens e os mais velhos. Há, portanto, um processo de heterogeneização, fragmentação, complexificação da classe trabalhadora (ANTUNES, 1988, p. 49-50).

A presença maciça dessas temáticas abre espaços para que novas práticas de modelos sócio produtivos e novas redes de relações de trabalhos se organizem como modos de produção, distribuição e gestão diferenciadas daquelas instituídas nas fábricas tradicionais. Caso típico é visto na forma alternativa de trabalho dos integrantes da Associação da Casa de Mel, em Bacabeira-Ma, que na qualidade de empreendimento social como seu propósito, estrutura e linguagem própria, execução de seu trabalho, consegue produção que promove ganho e rede aos associados, habilitando-os sobre como enfrentar e superar a crise instalada pela ausência de postos de trabalhos formais e desemprego crescente e desencorajador para quem não tem muita formação profissional.

Vale aqui a uma nota sobre empreendedorismo que, ao aferir ao cidadão abertura e instrumentos para trabalhar, no e sob as regias do mercado; nem sempre o seu trabalho criar alternativas de ganhos com caráter de automatização independente. Pois que este está completamente ligado ditames do mercado e, possivelmente terá serias dificuldade de apurar e refletir mais friamente sobre todo o processo em que desembocará os seus resultados. Condição que é diferente em empreendimento social de cooperativa dado a sua própria filosofia e natureza de ser. Posto que a processsualidade do se sua existência não é parte desintegrava em nenhuma etapa. Mas sim, força motora do seu sistema e persistência para suprir demandas de desempregos.

É nesse cenário de escassez de oportunidades cheio de exigências para o emprego, que forçosamente surgem novas ideias e formas de trabalhos, e a cooperativa é uma dessas, que se apresenta como alternativa de sobrevivência e um meio de driblar a crise do desemprego, conforme nos dá a entender Tiago Augusto Veloso Meira, ao dizer que “Diante da crise social de emergência ao longo dos anos 1990, variadas atividades de geração de trabalho e renda insurgem como principal mecanismo que sobrepujar os problemas sociais acarretados pela crise”. ( Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. )

A cooperativa de apicultores da Associação Casa do Mel de Bacabeira-MA, contendo 23 sócios e situado em um povoado de nome Zé Pedro, em Bacabeira, embora não seja sujeito desse contexto, pois nascera em anos posteriores, 2013, período em que as ofertas de trabalhos formais aumentam no Brasil (DIESSE, 2014) e com elas também consideradas exigências para atuar em certos setores de trabalho, surge por parte de alguns trabalhadores a opção de serem autônomos, de trabalhar fora das formalidades do mercado de trabalho, como é caso aqui constatado desses apicultores. Curiosamente, esse dissenso, que merece ser investigado, traz consigo aspectos sociais econômicos de trabalho e tipos de relações de trabalho ainda não muito explorado no Brasil, o trabalho de cooperativa.

Elencado a esta indiscrição está a alternativa real de um trabalho acessível, desburocratizado, com grande potencial de contribuir o empoderamento de homens e mulheres em comunidades menos assistidas pelo poder público e instituições privadas. Além de ressaltar aspectos positivos entisico de cidadania como: A cooperação, o trabalho, respeito, igualdade, justiça e o valor humano. Corolários que promove conjuntos de ações movidas pelo espírito democrático opinando e optando sobre o tipo de trabalho que quer exercer, como realizá-lo, a que tempo e modo de fazê-lo, fatores não muito acessíveis quando se trata de escolha no mundo do trabalho formal.

Todavia é preciso considerar que esse espaço de ordem consensual, mesmo em uma sociedade individualista e informacional é de valor muito estimado para cada um dos seus componentes, como também serve de grande estimo para enfrentar os cenários de desemprego também aquele de pleno emprego que sinalizava 2013. Posto, demostrar ser um trabalho socioeconômico que desencadeia pouco a pouco um desenvolvimento pessoal, social e local de todas as pessoas envolvidas.

O fato é que, constatado o empenho desta cooperativa e seus resultados, mesmo contendo uma estrutura simples, envolvendo pessoas comuns do campo, estes, trabalham com a flora maranhense na extração do mel, extraindo, destilando e comercializando, produz quantidade para exportar mel para os Estados Unidos, Inglaterra, França e Portugal. Além de realizar vendas para vários Estados do Brasil, trazendo relevantes benefícios para o desenvolvimento local da cidade e simultaneamente para seus sócios cooperadores .

Sob essa perspectiva levantada acima, e a figura de um sistema funcional de operariados sem patrões, cabe a pergunta: de que forma as interfaces produtivas e distributivas de cooperativas podem ser vistas como uma economia alterativa forte, faces às polissêmicas formas práticas do capitalismo do nosso tempo? Essa é uma questão de abrangência social, econômica, mas sobretudo de cunho também político no campo do trabalho.

Diante da pergunta exposta, busca-se saber sobre os ganhos e arranjos da socialização do trabalho em uma cooperativa popular e as teorias operantes entre seus associados cooperantes. Posto que os mesmos optaram por ser autônomos, patrões de si mesmos de forma voluntária, ou, ao menos, conduzidos por suas próprias ideologias. Perante essa condição é adotado o método de estudo de caso, como instrumento para compreender melhor os processos organizacionais e as razões pelas quais algumas políticas sociais e econômicas são adotadas de forma associativas para enfrentar o desemprego ou ajustar-se a ele quando o índice de emprego formal está favorável. Nessa logica será trabalhada a metodologia de estudo qualitativo visando uma sistematização mais precisa da funcionalização, eixos de operações, organização, proposta existencial deste grupo de apicultores como autônomos. Para isso será aplicado observação direta extensiva por meio de questionários, levando em consideração a sua função social e politica enquanto um grupo social de trabalhadores autônomos.

Tendo em vista o exposto, a pesquisa conta com referenciais teóricos da área de sociologia, economia e história. Construídos tópicos elucidativos sobre a temática aqui levantada, sem, contudo, ter alguma intenção de dar assunto por encerrado, mas muito pelo contrário. Este estudo traz como desafio suscitar novas questões e hipóteses que devem ser investigadas para lançar novas luzes sobre cooperativas de trabalhadores e os seus papeis político e social ou não, na configuração da sociedade capitalista contemporânea.

A INTERDEPENDÊNCIA NA COOPERATIVA POPULAR: RELAÇÃO, TRABALHO E O TRABALHADOR.

As relações estabelecidas no âmbito do trabalho no sistema capitalista geralmente impõem ao trabalhador uma condição de subserviente, bajulador e de escravo desapropriado da sua vontade. Condição que Foucault (1977) chama de corpos dóceis e “assujeitados” de uma sociedade disciplinar. Sob essa concepção a ideia de trabalho enquanto posição e ocupação nas redes de relações sociais torna o trabalho maior que o próprio trabalhador. E nesse caso, o caráter do trabalhador é constituído fora dele, e ele enquanto peça intercambiável vive uma constante dualidade, conforme nos acena Mauro Luís Iasi: “ Seu caráter social é dado por algo situado fora dele, no mercado, no movimento do capital como força social. É individuo enquanto ser humano e só se torna social enquanto parte da engrenagem do capital” (IASI, 2006, p. 221)

Neste artigo, essa concepção será rejeitada toda vez que referimos aos trabalhadores apicultores da Associação da Casa de Mel de Bacabeira-Ma. Porém, tomaremos como norte indicador à ideia de trabalho referida por Elisa Zwick e José Roberto Pereira, quando dizem: “O trabalho autônomo associado é fundamentalmente característico das cooperativas autogestinonadas, pois nele os meios de produção são associados, além de ser respeitado o caráter do cooperado pela capacidade de autogoverno” (ZWICK; PEREIRA, 2013).

Os trabalhadores aqui, auto declarados como apicultores serão vistos como cooperadores, traço fortemente presente em cooperativas populares que procuram eliminar a separação hierárquica e a concepção e execução da organização do trabalho antes vista no fordismo e taylorismo. E, conscientes ou não, esses trabalhadores aqui associados, romperam com o processo alienante de trabalho produzido pelo sistema capitalista, o qual é um trabalho abstrato, estranhado e fetichizado (MARX,1971). O contrário, os trabalhadores desta cooperativa se auto comandam e operam cooperativamente a produção, destilação e venda de mel, sem, necessariamente, estarem totalmente submetidos a todos ditames das formas de proceder de uma empresa no sistema capitalista.

Sendo este um grupo de trabalhadores autônomos, pertencentes a uma propriedade coletiva e dirigida sob os ditames da política solidária; como sócios, desenvolvem valores que vão além da competição característica na sociedade capitalista e empregam relações de trabalhos em que, no geral, não é muito comum no circuito da divisão do trabalho operacionalizada no mundo em que o capital dá as cartas. Na concepção de Paul Singer, modo de trabalho como este tende a ser uma forma de expressão de economia solidária (SINGER, 2002), que em sua prática acentua preocupação positiva para com a comunidade e um ganho significativo para os trabalhadores que, conjuntamente, se organizam e se mobilizam como organização de pessoas e não de capitais. Conceito largamente contemplado nos princípios da Aliança Cooperativa Internacional de 1995, redefinidos em Manchester (ACI), e afirmado em Marx de acordo com Bottomre, quando escreve: “[…] a cooperação para Marx é a negação do trabalho assalariado. O movimento cooperativo representa preliminar da economia política das classes trabalhadoras sobre a dos proprietários”. (BOTTOMORE, 1983, p. 20). Nesse ponto, a consciência política aqui não se aflora tanto quanto era esperado por Marx, mas, todavia, não se descarta a tendência e inclinação para um trabalho de caráter mais solidário e social, autônomo e distante de privatização e sim de contínua cooperação entre seus iguais.

Isto se dá na medida em que a mesma busca colocar-se não só como uma alternativa de trabalho, mas também em um espaço de convivência política e social, consolidado pela solidariedade do próprio trabalho cooperante, em que as forças se expressam no conjunto das partes mesmo quando estas não são tão visivelmente perceptíveis nas suas operações externas, ou, nos resultados contidos no seu produto final da venda, mas no todo, ou seja, no conceber, envolver, cooperar e operar nas instâncias operacional e comercial do produto sem que tenha obrigatoriamente que se submeter às velhas e novas gramáticas do lucro preconizadas no sistema capitalista. Mas no reconhecimento e capacidade de agir e reagir como sujeitos ativos diante do sistema de forças dominantes; ainda que não seja totalmente independente na sua forma de operar no mercado do capital.

Contudo, mostra que como cooperativa serve como estímulo, amparo e alternativas de trabalho e trabalhadores que se reconhecem dentro do circuito operacional do mundo capitalista, sem, necessariamente, ser conduzida pelo espírito de mais-valia e sim por valores de aspecto mais social e humano do fazer no trabalho.

ASPECTO HÍBRIDO DA COOPERATIVA: ARRANJOS E GANHOS, SOCIOCONÔMICO E PESSOAL.

A forma de operar e organizar o trabalho deste grupo social de apicultores sinalizam maneiras diferentes de se colocar perante a vida: independente e dependente. Aspecto híbrido que dá suporte para se conduzir atuando no sistema de produção e venda, face às exigências do mercado que possuem seus próprios mecanismos de segregação econômica e social. Nesse esteio, a cooperativa iniciada da informalidade vai se hibridizando de forma organizacional e achando espaço para atuar e se encaixar melhor no mercado para que possa responder aos processos de trabalhos de produção social e adquirir seus rendimentos, conforme menciona Barbosa:

Uma configuração híbrida dos processos de trabalho e de formas produtivas, já que nas práticas sociais contemporâneas tem-se observado que a formalidade se nutre da informalidade e esta se ampara em práticas formalizadas em termos estruturais e das dispersas adaptações do trabalhador para assegurar rendimentos. (BARBOSA, 2006, p1)

Nesta configuração os eixos de trabalhos de produção cooperante que atua a bem de rentabilidade de forma redistributiva entre seus sócios apontam para a alternativa socialista que tende de ir além da área econômica, alargando outras fronteiras da vida social pela equidade democrática da igualdade de acordo com o projeto socialista citado por Paul Singer quando referencia sobre cooperantíssimo popular e suas facetas.

O projeto socialista não se limita à economia. Mas no que se refere à economia não há dúvida que a autogestão é a forma de organização gestada pela experiência histórica que melhor alcance os valores do socialismo, ou seja igualdade e democracia …A proposta do socialismo vai além da economia: alcança a cultura, a sociabilidade, é um projeto de reorganização de toda a sociedade, da infra à superestrutura, e portanto não pode ser reduzido a uma proposta econômica, como muitas vezes se fez.( SINGER, 2004, p.48)

Em consideração a estas verdades, as atividades organizativas e operacionais da Cooperativa da Casa do Mel em Bacabeira/MA, vem pintando um quadro em que aos poucos está assumindo um papel importante na vida dos associados e na comunidade em que eles moram. Oferecendo novas alternativas de como pensar e viver a vida como trabalhadores livres, capazes de pleitearem espaços de discussões e operação consciente sobre seu trabalho perante um amplo campo econômico de ideologias circulantes diferentes, e que nem sempre concebe o valor do trabalho coletivo como uma opção relevante e eficaz de alternativa do desemprego.

Com esse escopo, a cooperativa ressalta as relações dos trabalhadores entre si, de aprendizado, cooperação e organização, mesmo antes de estar organizada formalmente, posto que o processo associacional sobre por meio das amizades, convivência, confiança, respeito e do sentimento de pertencimento de estar ao lado de pessoas comuns, seus iguais. Passos que proporcionam ganhos coletivos e individuais para todos. Sem impedir ou inibir que uns avancem mais que outros em seus resultados e produções, posto que a produção é uma iniciativa livre de cada trabalhador proposto a usar seu tempo, recurso e ritmo do trabalho próprio em favor de si mesmo e ao mesmo tempo do próprio grupo, construindo um arranjo de parceria.

Nesse ponto, a forma de produção, distribuição e venda se hibridiza, converge em um tipo de operação de resultado que, segundo Valente, qualifica-se a uma produção sócio-capitalismo (VALENTE, 2009), na medida em que se usa as gramáticas de mercado e, ao mesmo tempo, afere-se entre si necessidade de um tipo de economia alternativa social para empreender maior volume na produção e venda do produto em escalas maiores para fortalecer a autonomia como empresa coletiva. Tendo seu próprio gerenciamento e controle em que ninguém é patrão de ninguém e sim sócios.

Filosofia um pouco diferenciada daquelas empregadas nos trabalhos em empresas capitalistas, onde a divisão social e posicional ficam muito distinta através da divisão social e operacional do trabalho (DURKHEIM,1893), compartimentaliza pessoas e funções com o fim de diferenciar os trabalhadores de si mesmos, acionando o aumento de ganhos para patrões e nem sempre para os empregados, através da Mais-valia (MARX, 1867). Aqui, assimétrica aplicada é para igualar os trabalhadores. Torná-los autônomos e não mantê-los subjugados, “assujeitados” a um sistema que fuja dos seus controles.

Essa junção híbrida do sócio-capitalismo que tenta convergir forças economicamente antagônicas para o centro do cooperativismo por meio de uma economia alternativa, talvez, não encontre completo respaldo teórico em virtude das naturezas dos sistemas: capitalismo e socialismo, principalmente em face dos grandes aparelhos ideológicos que procuram marcar as distinções e suposições valorativas de um contra o outro. Um em relação ao ganho, lucro e a aferição de propriedade privada, o capitalismo; e outro em relação ao ganho humanitário, social e igualitário, o socialismo. Contudo, há de se admitir a aproximação, assimilação e a combinação dessas duas teorias no campo teórico e prático do interior da própria organização, como espaço de participação de sujeitos e simultaneamente como empresa social que não pode se esquivar a competência requerida do mercado.

Exemplo disso pode ser notado através de duas das primeiras cooperativas que surgiram no século XX, a de Mondragon no noroeste da Espanha e o Kibutz, ao sul de Israel. Que, atuantes no ramo da indústria e comércio como cooperativas não privadas e sim coletivas, elas não deixavam de ser competentes nos ramos dos negócios. Todavia, foi com seu caráter de associativismo solidário compartilhado entre os sócios-cooperativistas que fortaleciam suas políticas sociais e solidificavam a natureza socialista ao compartilhar o lucro com o grupo. Criando assim forças e condições que convergiam como cooperativas de trabalhadores livres, estabelecendo como um empreendimento de negócio que, através da sua interface híbrida, manteve concorrendo no comércio controlado pelo sistema capitalista, onde os ganhos, longe de serem resultados para beneficiar só alguns, estes eram compartilhados entre seus trabalhadores sócios, que, na posição de donos do empreendimento, trabalhavam para se auto beneficiarem.

Essa feição híbrida é mola propulsora para que os apicultores da cooperativa da Casa do Mel de Bacabeira/MA busque consolidar sua forma de trabalhar e encontre mecanismos para que seus sócios obtenham maiores recursos e disposição, pois mesmo não sendo o seu alvo maior a lucratividade. Muito embora essa cooperativa tenha conseguido importar mel para quatro países e outros estados da federação, não se deixa de ser notada a preocupação de trabalhar politização sobre a consciência do valor do trabalho e força do resultado do trabalho de todos os trabalhadores ao se unir movidos por menos ganância e mais por sobrevivência coletiva.

Com sua organização autogestinária, modelo de uma gestão mais aberta, portanto, participativa e apropriada para esse tipo de empreendimento coletivo, propícia espaços para que pessoas simples se conheçam nesse processo, se articulem de forma livre em diversas instâncias além de contribuir positivamente para o desenvolvimento local e comunitários dos mundos dos sócios.

Esses ganhos e arranjos proporcionam relativa autonomia ao trabalhador que, estando fora do sistema fabril por razões estruturadas pelo próprio sistema de mercado, sejam elas: experiências profissionais, educacionais e de idade, a cooperativa termina absolvendo-os em suas diferenças e usando como parte positiva da sua operação. Sem, contudo, desmerecer ou supervalorizar o indivíduo só por seus méritos individuais. Mas, sim, pela necessidade existencial do trabalhar e sua utilização do corpo social que impõe ao homem aferimento da sua dignidade. Concepção bem presente em cooperativas populares, posto que nelas sobressaem outros valores que perpassa àqueles contidos no sistema capitalista. E isto é automaticamente conectado os seus próprios arranjos e valores que os unem e por certo tão acima dos monetários.

Um destes valores é agregar pessoas que embora se conhecessem por circular nos mesmos espaços físicos e viverem uma vida comum, eles por variáveis motivos e razões como trabalhadores não se percebiam e ignoravam-se sobre o quanto eles tinham de afinidade nessa área de trabalho e como juntos poderiam se articular melhor para viver como pessoas autônomas, empreendedoras do seu próprio negócio. Outro valor é a iniciativo e a visão de mundo dos negócios que vai se solidificando na medida em que o empreendimento começa encontrar outros mercados fora do territorial do Brasil. Fazendo com que conheça novas formas de negociação sobre seu produto sem contudo desvirtuar da sua essencialidade, a cooperação social de pessoal e seu regime cooperativo e democrático de trabalho. A aplicação desta lógica regimental fortalece a independência deste sistema na mesma medida que outorga a cada integrante ser uma voz ou um voto extremamente importante para a abertura e caminho dos sucessos ou fracassos coletivos.

A cooperativa de apicultores de Bacabeira/MA e outras que procuram aumentar sua competividade agregando indivíduos antes isolados para cooperação consensual, na busca de arregimentá-los e potencializar novos arranjos, ganhos e posicionamento diante do formato de trabalho capitalista que há muito tempo marcou e vem definindo a posição dos trabalhadores, como valor só de sua força de trabalho. O operar da cooperativa popular ganha espaço e notoriedade como uma alternativa viável e consistente que elevar ânimos de muitas pessoas que em consequências da sua situação histórica e social, geralmente são os primeiros a serem atingidos pelo desemprego.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Como propriedade coletiva a Associação da Casa de Mel em Bacabeira/MA traz consigo subjacentes ideologias sociais e econômicas, embora não estejam totalmente fora dos subsistemas social e econômico inerentes aos países em desenvolvimento como Brasil. O patente resultado desta Associação, de certa maneira, tenta romper com as relações assimétricas pertencentes mais aos modelos capitalistas e ao mesmo tempo procura convergir hibridamente às forças políticas e sociais no que tange o socialismo e o capitalismo, através do trabalho associativo e cooperativo de trabalhadores livres e autônomos na produção e venda do mel.

Estando na categoria de trabalhadores-patrões os apicultores aqui mencionados passam a gestar seu empreendimento social de maneira coletiva e não sobre o binômio do hibridismo entre socialismo e capitalismo. Mas, sim pela a busca de oportunizar tempo e espaço social de produção e ao mesmo tempo de aprendizagem com o fim de superar questões relativas ao desemprego, desqualificação profissional e da exclusão social, mas ao mesmo tempo adquiri uma posição como empresa de caráter coletivo, e também capaz de competir e elevar o reconhecimento do trabalho e do trabalhador acima do abstratíssimo do poder comercial contido no espírito do capitalismo. Aqui, o predomínio da sua existência e força está na sua própria gênese: na confiança, amizade, companheirismo e cooperação de todo o corpo social de trabalhadores autônomos que livremente se une e se ajudam.

REFERÊNCIAS

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ALVES, Geovanni. O novo e precário mundo do trabalho: Restruturação produtiva e crise do sindicalismo, 2000

BARBOSA, R. N. C. Economia Solidária: estratégia de governo no contexto de desregulamentação social do trabalho, 2006.

BOTTOMOER, Tom (Ed.) Dicionário do Pensamento Marxista. Co-editores Laurence Harris, V.G Kiermam, Ralph Miliband Waltensir Dutra (Trad.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001

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FOUCAULT, Michael. Microfísica do poder.4ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998

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IASI, Moura Luís. As metamorfoses da consciência de classe: o PT entre a negação e consentimento. São Paulo: Expressão Popular, 2006

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1977

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SINGER, Paul. Estudo Avançado. vol. 15 n 43 São Paulo Sept./Dec. 2001

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Disponível em : http://www.efdeportes.com/ Economia solidária e cooperativismo: política de trabalho e renda.

[1] Pós-graduado em Sócio psicologia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP); bacharel em Sociologia e Política pela FESPSP; graduando Licenciatura em Pedagogia pelo UEMANET, participando do curso de Aperfeiçoamento da Cultura da África e identidade Afro – brasileira.

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Enviado por Voos sociológicos em 20/12/2019
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