O papel da argumentação nas redes sociais

Até que ponto a livre exposição de argumentos demonstra-se positiva nas redes sociais em tempos de alta polarização de ideias?

Em um universo em que as pessoas estão cada vez mais conectadas às outras mediante a rede mundial de computadores em que quase todos os indivíduos economicamente ativos possuem smartphones aptos ao acesso às mídias atuais, as redes sociais, que já possuíam certa popularidade mesmo em períodos de não-portabilidade de objetos eletrônicos, tornam-se ambientes frequentados de maneira constante e paulatina, ainda mais levando em conta o fato de que as novas gerações encontram-se inseridas neste meio desde os primeiros anos de vida.

Junto a isso, em uma sociedade que se encontra polarizada de ideais políticos e socioeconômicos, encontra-se a oportunidade de utilizar os canais de mídia social não apenas por mero entretenimento, mas também para a elucidação livre das mais diversas manifestações ideológicas (desde que sob conceitos éticos), sejam elas bem embasadas ou não, sendo esta última hipótese um perigo vigente na coletividade civil atual.

Sabendo disso, levanta-se a questão: até que ponto a liberdade de argumentação demonstra-se como um fator positivo nas redes sociais? Vista a indagação sob a perspectiva democrática, constata-se a hipótese como positiva, dado que há a flexibilidade e possibilidade do exercício de discussões de bom senso que possam ser construtivas para o progresso social, tanto no âmbito individual quanto no coletivo. Em contrapartida, o cenário atual, em grande parte, constitui-se do mau uso das ferramentas virtuais disponíveis a partir de tentativas constantes de sobreposição de ideias, o que, em muitas vezes, tornam-se desrespeitosas perante um argumento e/ou indivíduo de base ideológica antagônica. Consequentemente, há a réplica ou tréplica que se apresenta hostil e o resultado disso é uma espécie de "bola de neve" que vai ganhando volume e que, por fim, não há acordos e nem discursos de caráter produtivo.

Há algum tempo, o escritor e comunicólogo italiano Umberto Eco, falecido há cerca de três anos, afirmara que "as redes sociais deram voz aos imbecis". É certo afirmar que não é das atitudes mais nobres atribuir adjetivos àqueles que não se demonstram tão dotados de argumentos coerentes, ainda mais quando pejorativos, mas o próprio usuário da rede social acaba provando para si quando o mesmo desfere discursos ofensivos ou declarações alicerçadas em posicionamentos que ferem os direitos humanos, além de serem apreciações desprovidas de fundamentos teóricos e/ou científicos.

Mas quais as possíveis maneiras de solucionar o problema, afinal Múltiplas são as opções viáveis, contudo vale o destaque da necessidade de instrução correta do uso de mídias sociais e da internet, em geral, por meios pedagógicos que poderiam ser oferecidos pelo Estado no decurso do trajeto educacional do cidadão. A realidade virtual, hoje, é tão presente e influente quando o mundo real e ambos interligam-se constantemente. Em seguida, o ideal seria que todos soubessem a real importância dos espaços disponíveis para o relato de opiniões e, posteriormente, houvessem a ciência de que se tratam de campos oportunos da prática democrática. Cabe, portanto, à sociedade civil e às autoridades trabalharem de maneira sinérgica para que haja a harmonização dos debates em decorrência de um processo que pode levar tempo, mas que há de trazer resultados favoráveis no decorrer dos ciclos que virão.