A segunda língua
A Segunda Língua
Uma aquisição para a vida
Não há quem ouse discordar de que falar um segundo idioma, especialmente o inglês, é fundamental. Mesmo assim, a famosa “the book is on the table” ainda é a frase que reflete o nível de proficiência da maioria dos brasileiros.
Dentre os quesitos necessários para o sucesso do missionário em campo, a comunicação oral está no topo da lista. Se é verdade que a língua é um dos aspectos mais importantes na composição da identidade humana, então, falar o idioma do outro é alcançar uma identificação imediata; é romper barreiras e abrir portas. Usar a linguagem do outro garante autonomia, inspira respeito, viabiliza relacionamentos e oferece uma lista infindável de vantagens.
O linguista canadense William Francis Mackey esclarece: “ A aprendizagem de uma língua na infância é um processo inevitável; a aprendizagem da segunda língua é uma realização importante”.
O aprendizado de idiomas sempre ocupou um lugar especial no meu coração. Foi uma paixão de infância que virou um amor sólido. O inglês veio primeiro e, mais tarde, o italiano. O francês está na gaveta, mas não perde por esperar. A partir da fluência na língua inglesa, ótimas oportunidades se apresentaram, me ajudando a enxergar com mais clareza o meu destino e o propósito de vida. Não consigo imaginar como teria sido a minha jornada até aqui sem usufruir da dimensão alargada da vida que o domínio do inglês me trouxe.
Aos 17 anos, fazendo intercâmbio nos Estados Unidos, decidi colocar em prática algumas medidas que me ajudaram muito: pedi às pessoas do meu convívio mais próximo que corrigissem, sem medo, meus erros de vocabulário e a minha pronúncia. Todos os dias, eu anotava em um caderninho as palavras novas que eu aprendia e as incorporava ao meu vocabulário. Eu prestava muita atenção nas conversas, lia bastante, fazia muitas perguntas e assistia muito à TV. Decidi que eu não iria deixar o medo de errar me impedir de me expressar. Pensei: “eu estou me esforçando para falar uma segunda língua. Então já estou no lucro. Ninguém está me julgando, e se a fluência passa por erros, então, que assim seja”.
Algumas pessoas têm uma inclinação natural para o aprendizado de línguas, mas mesmo pessoas assim também precisam de dedicação para ser bem-sucedidas. Para muitos, o primeiro obstáculo a ser vencido é o bloqueio emocional. Uma autoridade no assunto, o linguista americano Stephen Krashen, elaborou a chamada “Hipótese do Filtro Afetivo”. A teoria faz parte das cinco hipóteses formuladas por Krashen contidas em sua teoria da aquisição de língua estrangeira. De acordo com o autor, um número de variáveis afetivas tem um papel facilitador na aquisição da segunda língua. Elas incluem motivação, autoconfiança e a ansiedade. Aprendizes motivados, confiantes e com baixa ansiedade tendem a ser bem-sucedidos na aquisição da segunda língua.
Qualquer pessoa que alcance fluência no segundo idioma inevitavelmente tem um histórico de erros cometidos ao longo do seu aprendizado. A diferença é que ela não deixou que isso afetasse a sua confiança nem o seu empenho.
Henrique Adas, brasileiro nascido em Bauru/SP, está no Senegal há quatro anos. Ele e sua família são vinculados à Junta Administrativa de Missões, da Convenção Batista Nacional. Henrique tinha estudado o francês previamente e afirma que isso foi muito útil no seu aprendizado ao chegar no Senegal. Uma experiência marcante que ele nos relatou confirma o valor inestimável da aquisição da segunda língua: “Tivemos uma experiência maravilhosa com uma pessoa muçulmana de 53 anos de idade. Ela ficou muito enferma e praticamente impossibilitada de sair e buscar ajuda. A boa fluência em seu idioma possibilitou-nos uma real aproximação e abriu as portas para o início de uma amizade. Pudemos testemunhar sobre o amor de Jesus por ela, na prática, e por meio do diálogo. Uma semana antes de morrer, ela declarou: “Eu creio que Jesus Cristo morreu pelos meus pecados”.
Essa é uma dentre tantas histórias de vidas que foram alcançadas como resultado da fluência em uma língua estrangeira. Uma coisa é certa: a segunda língua é uma aquisição cujos benefícios em muito compensam o preço pago.