O retrato do mar
“Os tolos sabem tudo. Os sábios aprendem todo dia”.
A relação tempo/espaço poderia ter, em certa extensão, as mesmas propriedades do mar. Em que, por um bom tempo, permanecemos de alguma forma na superfície, nadando ou boiando. Mas depois podemos ser por ele consumidos.
Essa é uma conduta compulsória, exigida de todos. Mas alguns se rebelam e a contrariam, antecipando a hora em que obrigatoriamente cessa a disputa pelo espaço (oxigenado) ou pelo tempo disponível.
Trata-se de uma constatação óbvia, como muitos certamente alegarão. Só que é bem possível que não percamos muito tempo com esse tipo de reflexão. Sobretudo quando a nossa juventude nos impele a fazer muitas coisas ao mesmo tempo, normalmente coisas que todo mundo faz.
A vida, então, se resumiria numa disputa compulsória pela utilização do tempo-espaço, numa tentativa irrefreável, senão alucinada, pelo seu consumo da forma mais proveitosa possível. Estando esse contingenciamento muito mais próximo dos mais jovens. Os mais velhos, via de regra, vão progressivamente se alijando do processo.
Por incrível que pareça, a humildade – ou a vida com certa dose de ascetismo – poderia ser uma forma de se contrariar, talvez de maneira imperceptível, essa imposição de nossos dias, da vida moderna. Onde uma das coisas fundamentais é estarmos em cena. Não nos contentarmos, por exemplo, com um retrato de pequenas dimensões, mas com o de maior área possível, ou no de maior perímetro. Situação que, como somos livres, nos é facultada a escolha.
Rio, 25/06/2018