Indo dos Arquétipos a Moralidade – Primeira Parte
junho 8, 2018
Todos nós já passamos pela dor de perder alguém. A falta que faz, a vontade de ter feito mais por aquela pessoa, a vontade de ter dito palavras mais honestas e doces…mas a morte parece vir para tudo. Apesar disso, parecemos continuar a amar aquelas pessoas especiais e continuamos a respeita-las e até guardamos um espaço em nosso coração para elas. “Uma morte digna” diriam muitos, “o corpo se foi, mas sempre será lembrado”.
E vem para tudo. Lembra daquele hábito antigo seu que você abandonou? Ele morreu. Aquela pessoa que só viu uma vez? Também morreu. E aquela ideia sua de quando você tinha 10 anos? Morreu. Aquela coisa que você fez algumas vezes ? Morreu. E seriam mortes dignas? Talvez. Seriam mortes de indigentes? Talvez.
Duro tentarmos imaginar esse nosso jardim no qual repousam nossos queridos falecidos. Mais difícil ainda é imaginarmos esse jardins com não tão queridos falecidos. Imagina colocarmos uma pessoa ruim ou algo ruim próximo de onde descança uma pessoa especial? Quase um crime.
Pessoas, experiências, emoções, pensamentos, tudo tem sua mortalidade, tudo tem seu corpo que exige um local para que descanse em paz(ou não).
Um tema meio mórbido até agora, eu sei. Todavia, vamos metaforear mais um pouco.
“Tudo se transforma, nada se cria ou desaparece”
Já ouviu falar de uma máxima assim, certo?
Agora entendamos que esse período de transformação não se passa em instantes. Isso você já deve saber, em todos os níveis, inclusive fisiologicamente, até mesmo as coisas mais instintivas precisam de frações de segundos para serem transformadas em ações(sinapses-ação motora ou processo fisiológico). Há ai então, todo um processo de latência, há aos olhos mortais um período em que tudo repousa, esperando seu próximo estágio . Como diria Rilke, “O simples é uma maneira de esconder a complexidade que há por trás”.
Temos em nós o berçário, o mundo e o cemitério de tudo o que pensamos, sentimos, processamos conscientemente e inconscientemente.
Entenda agora a responsabilidade de escolher bem tudo com o que se envolve conscientemente e inconscientemente.
Agora você talvez pense: “Mas tudo depende de como eu processo isso, certo? Basta processar de forma positiva “. É isso que importa, certo?. A reposta é simples e se divide em dois pontos:
Quem de você processa e como processa? Um macaco processando o funcionamento de um relógio suiço seria um problema. Aliás, a compreensão da coisa processada depende da sabedoria de quem a processa.
Mas o ponto principal é, quais são as ferramentas, qual a unidade? Santo Agostinho já usava o conceito de “Ideias Primordiais”, imagens que geram conteúdo quase infinito. Veja, imagine algum ato heroico…você irá processa-lo tendo em vista seus conceitos pessoais de “heróis”, “ato heroico”, etc. Porém, esses conceitos são realmente pessoais? Não, as ideias primordiais então enraizadas no inconsciente coletivo, são moldes essenciais…logo, não somos nós que determinamos conscientemente o que forma um “herói”.
Retomando esses dois pontos fica claro que não é uma questão de processamento de experiências somente e sim de escolhas. Como Heidegger disse em “Ser e Tempo”, “Não ser já é uma escolha”. Inexiste escapatória da responsabilidade de sempre estarmos escolhendo, e precisamos fazer escolhas certas e fugir da banalidade, vulgaridade, que representa a desconexão de uma essência, de ideias primordiais. Façamos um jardim de pessoas e coisas especiais.