Pais e filhos
Quero me encontrar mas não sei onde estou.
Vem comigo procurar um lugar mais calmo.
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita.
Tenho quase certeza que eu não sou daqui”.
Renato Russo
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A sociedade tem passado por um problema crônico: as crianças e jovens de hoje estão cada vez mais violentas e egocêntricas. Já não é mais uma questão do “filho do outro”, o problema atinge toda a sociedade. E os pais ficam perdidos sem saber qual a postura a seguir.
Principalmente depois que os pais e educadores aprenderam aquela palavrinha mágica: HIPERATIVIDADE percebendo que é mais fácil rotular a criança se abstendo da responsabilidade do que reconhecer que foi mal educada e uma nova postura deve ser adotada. Daí pais e filhos misturam liberdade com libertinagem tornando a relação caótica.
Na maioria dos discursos que tratam do assunto identifico certo ar de saudosismo por épocas remotas em que a punição estava em voga. E como solução apresentam mais rigor e severidade nas punições. Ou, por outro lado, defendem um “pseudo-humanismo” em que é oferecido um ambiente libertário ausente de regras e controle social. Em ambos os casos suas conseqüências costumam ser mais agravantes ainda porque não visualizam o problema em si.
Na verdade o grande problema está na concepção dos papéis familiares: pai, mãe e filho(a). A criança é um ser recém chegado ao mundo com curiosidade inata para conhecê-lo. Por estar despida de preconceitos, mitos e tabus a criança é destemida e corajosa. Ela paga para ver pois é esta a sua função: APRENDER. As regras não nascem conosco, devem ser aprendidas e a criança necessita interagir com estas regras. Conhecer o mundo consiste em decifrá-las, testá-las e apreendê-las. E os adultos tiram isto delas. Se não tiram a coragem e a busca pelo conhecimento, tiram o maior princípio da liberdade: a responsabilidade por suas escolhas. A todo momento a criança tem escolhas a fazer sendo parte da vida as escolhas erradas e as frustrações. Isto faz falta na vida adulta. É preciso aprender desde cedo a resolver problemas.
Porém a educação infantil não tem muita utilidade prática. Se um adulto deve lidar com valores, problemas, planejamento, relacionamentos, sexo e trabalho, por quê a criança é vetada a lidar com isto? Lógicamente não é aconselhável entregar a administração da empresa em suas mãos ou contratar um(a) profissional do sexo para instruí-la. Mas dentro dos limites do desenvolvimento oferecer condições para que haja um aprendizado aplicável e prazeroso.
Quanto aos pais, não são estes os proprietários nem servos do filho. A paternidade e a maternidade são funções sociais, um serviço prestado à comunidade e à criança. Cabe ao pai e à mãe oferecerem no ambiente familiar um suporte para a construção e manutenção da auto-estima, altruísmo, compreensão, responsabilidade e liberdade. Com estas características solidificadas, constrói-se um adulto seguro e útil à sociedade.
Assim os pais que são amigos dos filhos conseguem através do amor e exemplos de vida constituir uma relação dialógica tornando o filho consciente de suas falhas superando-as. Promovendo o crescimento e a maturidade.