O PAPA É VIP

“A riqueza pode comprometer a salvação”

Bento XVI

Dizem que chamar a grife italiana Prada de marca é um tremendo insulto, pois que, chique e luxuosa, desperta intensos e incontroláveis desejos por suas peças que mais parecem verdadeiras jóias do mundo da moda, chegando ao ponto de a poderosa editora da revista Vogue americana, Anna Wintour, declarar : “Prada é o único motivo para alguém assistir à temporada de moda em Milão” . Resumindo : Prada é divino.

Eu diria que mais divino do que nunca, tendo em vista que o Papa Bento XVI usa Prada, considerado pela revista “Esquire” o “melhor acessório do ano“: o Papa Bento XVI aparece em um grupo no qual é identificado como o “melhor portador de acessórios” do ano por seus sapatos vermelhos de couro, da famosa grife italiana Prada.

Bento XVI tem dito que “tudo passa e tudo pode acabar bruscamente”. Ele lembra que “o verdadeiro tesouro deve ser buscado onde Cristo está “ .

Durante a cerimônia de reza do Ângelus, celebrada na residência de verão de Castelgandolfo, a cerca de 30 quilômetros de Roma, o Pontífice afirmou que “ é sábio não se apegar aos bens deste mundo, porque tudo passa e tudo pode acabar bruscamente”.

Apegar-se não pode, mas usar pode ?

O Papa vip também convidou os fiéis a “ saberem administrar os bens ,evitando todo tipo de cobiça, para , assim, poderem compartilhá-los com seus irmãos, especialmente os mais necessitados” .

Quantas havaianas poderiam ser distribuídas para os descalçados, com o valor pago por um Prada ?

É sabido que os sapatos de couro vermelho foram parte do vestuário dos Pontíces durante pelo menos dois séculos, mas o fato de Bento XVI usar sotainas ( uma espécie de bata) um pouco mais curtas que alguns de seus antecessores torna visível seu calçado.

Segundo Richard Dorment, um dos diretores da revista “Esquire” , “ é importante o detalhe pessoal, algo que distingue um homem de todos os outros”.

E eu, que sempre pensei que os Papas se distinguiam dos outros homens por mais fundamentais quesitos...

Vendo tudo isso , lembro-me do encontro entre o Papa Inocêncio III e São Francisco, mostrado no filme “Irmão Sol, Irmã Lua “, de Franco Zeffirelli : São Francisco morreu nu , começou a vida de conversão nu, na praça de Assis, diante do bispo, do pai e amigos.

Agora, com a missa voltando a ser celebrada em latim — e por que não em aramaico, a língua usada por Cristo ? — , ficará mais difícil entendermos o que, em bom português , já não entendemos hoje: se nossa igreja é a de Francisco, de Cristo, ou dos Papas.

Sou católico apostólico romano , mas prefiro as sandálias do pescador.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

ancartor@yahoo.com

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 14/08/2007
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