CLIENTES ESPECIAIS

“A inteligência humana tem limites. A estupidez, não”

Ignatius Nobel

No meio de um amontoado de notícias desanimadoras com relação à dificuldade que certos pais apresentam ao tentar educar seus filhos, e as conseqüências dessa inaptidão, leio uma notícia surpreendentemente positiva: um rapaz de 21 anos foi preso por dirigir embriagado, em Londrina-PR, e continua preso porque seus pais se recusaram a pagar a fiança de R$ 500,00 alegando a mãe que “ estou com o coração partido , mas se tivéssemos pago a fiança, ele teria saído da cadeia e já teria pego a caminhonete de novo. Quero meu filho comigo , mas quero que ele tenha uma conduta responsável, que saiba o que está fazendo”.

Segundo a notícia , o pai justificou sua decisão : “vamos deixar que ele reflita , na cadeia, sobre o que é melhor para ele. Como pegou o meu carro , amanhã ou depois poderá sair pegando o de outras pessoas”.

Infelizmente nem sempre é assim.

Trabalho na educação de jovens e tenho encontrado pais que, não tendo como justificar certos comportamentos inadequados de seus filhos, alegam que não estão contra as medidas tomadas pelo colégio, mas, sim, contra a forma como são comunicados sobre as ocorrências escolares, ou seja, maneira nada objetiva de enfrentar os problemas.

Vivemos numa sociedade em que prevalece uma classe média insegura, carente, em que a permissividade é o melhor remédio contra a inevitável insegurança social, ou seja, vivemos num mundo em que os pais fazem qualquer coisa para que seus filhos acreditem gozar de um privilégio absoluto; querem sempre um tratamento especial.

É só prestarmos atenção à declaração do pai de um dos cinco agressores da empregada doméstica Sirlei : “é uma injustiça prender pessoas que têm estudo, que têm caráter (sic) , junto com uns caras desses”.

Uma declaração desse tipo só demonstra o desespero de alguém que sente seus privilégios ameaçados e descobre que não eram “clientes especiais”.

Frases assim revelam a distância entre o filho que o pai conhece em casa ( filho que teria “caráter”) e o filho que se revela na ação exercida com apoio de grupos.

O jornalista Contardo Calligaris, em um de seus artigos, cita Eliane Cantanhêde que descreveu perfeitamente o mundo no qual é possível que rapazes de classe média possam até queimar índio ( pensando que é “só um mendigo” ) e espancar uma mulher (pensando que seja “só uma prostituta” ).

Pais que defendem incondicionalmente seus filhos contra professores e educadores, e sempre jogam a culpa em colegas, ou justificam deslizes com a frase “ mas outros também agem assim”, correm sérios riscos de, um dia, descobrirem que um grupo e/ou a sociedade não produzem, eles só possibilitam que as falhas de caráter se manifestem: é na escola, com pequenas punições e advertências, que poderemos evitar futuros momentos de estupidez e violência.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 31/07/2007
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