O HOMEM QUE FUNDOU UMA CIDADE
Há homens que nasceram para desbravar o desconhecido e de lá extrair vida e ofertá-la a seus semelhantes. O professor aposentado Simeão Urbano Dias, 82 anos, morador de Jesúpolis, é um raro exemplar dessa espécie.
Fez de tudo na vida, de lidas no campo a gerência de cerâmica e serraria. Passou 32 anos lecionando história e filosofia. Foi vice-prefeito e vereador por quatro mandatos no município de São Francisco, o qual até 1991 Jesúpolis, sua cidade, pertencia na condição de povoado.
O legado maior de sua vida, no entanto, é a cidade de Jesúpolis, que fundou e ajudou a emancipar. Seu pai, Cândido Dias dos Santos, dono da Fazenda Pouso Alto (que deu origem a Jesúpolis), acalentava o sonho de erguer um povoado e, talvez, uma cidade. Ao lado do filho, viu nascer o povoado, mas como morreu em 1964, não viu seu sonho de tornar realidade por completo: em 1991 o então distrito deixou de pertencer a São Francisco para se tornar município e tecer sua própria história.
História
Após a morte do patriarca, Simeão e seus nove irmãos dividiram os 22 alqueires da propriedade. Simeão, que já possuía boa instrução, tendo estudado em Jaraguá e em Belo Horizonte (MG), se casou com a mineira Maria Lúcia Gonçalves Dias, a qual foi buscar após três anos de espera no Rio de Janeiro. Trouxe a mulher para o lugarejo e, munido dos ideais do pai, e entusiasmado com a doutrina do Racionalismo Cristão, que conhecera em Minas Gerais, resolveu construir uma cidade para chamar de sua.
O fundador comprou um equipamento de topografia, estudou um pouco e, traçou o desenho do que seria a nova cidade. Dividiu em lotes, projetou ruas largas. Vendeu alguns lotes, outros foram doados como forma de incentivo para atrair moradores para o local.
A primeira planta da cidade foi desenhada por Simeão e Geraldo Gueiroba (agrimensor da cidade de Jaraguá). A planta da cidade abrangia cerca de três alqueires, divididas em 120 lotes e mais tarde essa planta foi ampliada para 22 alqueires, onde foram traçadas as ruas, praças e avenidas. Essa planta levou sete anos para ser registrada. Como o local era de difícil acesso, pois não havia estradas, isso dificultou o seu desenvolvimento, sendo construída assim apenas uma pequena vila de poucas casas.
A fundação de Jesúpolis teve duração de mais ou menos 20 anos sendo de 1948 a 1968. Ao se implantar o povoado, houve várias sugestões de nomes como Rosarino, Candilândia, Urbania e Nova Belém, mas o nome aprovado foi o sugerido pelo padre José Milanez. A data da escolha do nome de Jesúpolis foi no ano de 1949 que se deu através de uma votação, pelas pessoas que participavam da festa do Menino Jesus votaram e escolherem Menino Jesus. A palavra Jesúpolis significa: Jesus devido à devoção ao menino Jesus e polis significa cidade, assim, Jesúpolis quer dizer cidade de Jesus.
A luta por emancipação foi encabeçada por Simeão, ao lado de homens como Alfredo Justino de Morais, José Rodrigues Braga Filho, Milton Alves, João Francisco Custódio, Francisco de Castro e Orias Estevão. Em 9 de dezembro de 1990, foi realizado um plebiscito em que o povo manifestou sua vontade de ver Jesúpolis tornar-se um município. Foi emancipado por força da Lei Estadual nº 11.401 de 16 de janeiro de 1991.
Outros sonhos
Simeão acalentava o sonho de ser o primeiro prefeito da nova cidade. Por questões políticas foi alijado do grupo que pertencia na época, não conseguindo emplacar seu nome como candidato. “Não tem frustração por não ter sido prefeito”, garante, com pequena ressalva, “tenho um certo sentimento por não ter minha trajetória reconhecida”.
Mesmo não tendo sido prefeito ou ocupado cargo importante dentro do município, Simeão é reverenciado por todas as autoridades que visitam Jesúpolis. O governador Marconi Perillo (PSDB) faz questão de tê-lo ao seu lado em todas as solenidades.
A vida seguiu seu curso e Simeão jamais ocupou qualquer posto na municipalidade. Mas prefere assim, já que sobra mais tempo para se dedicar à hercúlea tarefa de liderar a doutrina do Racionalismo Cristão na cidade. Há 40 anos, ele se dedica a semear o que acredita ser a “filosofia espiritualista, a filosofia do nosso tempo”.
Junto a um pequeno rebanho de dez almas, Simeão coordena três vezes por semana o que chama de reunião de limpeza psíquica no bonito templo que construiu ao lado de sua casa. “Sou de uma família católica e vivo numa comunidade católica. Às vezes sou taxado de ‘macumbeiro’ ou coisas assim por muita gente, que fala sem conhecer o que é a doutrina”, se queixa.
Jesúpolis é a única correspondente do Racionalismo Cristão em Goiás. No Brasil são mais de 200 templos. “Só tenho uma frustração: queria que o povo de Jesúpolis fosse mais espiritualizado e menos religioso, só isso”, finaliza o homem, que gosta ainda de ler, escrever e participar de todas as atividades públicas de Jesúpolis, cidade que pode chamar de filha.