TRINTA E SEIS ANOS DE AMOR A FLORESTA
TRINTA E SEIS ANOS DE AMOR A FLORESTA
Por Aderson Machado
Cheguei à cidade de Floresta meio que por acaso. Havia passado no concurso do então DNER, em 1978, e, ao ser admitido, fora lotado na cidade de Ouricuri. Acontece que um colega que passara no mesmo concurso, e que fora lotado em Floresta, me propôs uma permuta, isto é, ele iria para Ouricuri, e eu para Floresta. Mesmo sem conhecê-la, aceitei de pronto, ao saber que esta cidade, geograficamente, era mais perto da capital em relação à primeira. Como não conhecia nenhuma das duas, o fator distância de Recife foi fundamental para que eu aceitasse o acordo, o qual foi acatado pelo Chefe do Serviço de Pessoal do DNER.
Cheguei a Floresta no dia 05 de dezembro de 1978, aí por volta de meio-dia, e estou nesta cidade até este ano de 2015, ano no qual espero comemorar meus 37 anos de convivência e trabalho nesta mui querida cidade sertaneja.
Pois bem, cheguei, fiquei, e gostei. É a tal coisa: quem bebe da água do Velho Chico, nesta Terra acolhedora, não quer mais saber o caminho de volta pra sua Terra Natal. Ademais, se deliciar das sombras dos Tamarindos seculares, contemplar o seu imponente casario, é mais um estímulo para quem aqui chega, isso sem falar na recepção calorosa dessa gente acolhedora, que habita a terra de Pereira Maciel.
Esses 36 anos, é bom frisar, para mim passaram muito rápidos, porquanto aqui fui muito bem recebido, acolhido e querido! O que eu poderia querer mais dessa gente?
Na verdade, assim que aqui cheguei, fui logo absorvido pela vida social. Festas, comemorações, serestas, engajamento na vida religiosa, tudo isso me inebriou de um clima de florestanidade que toma conta de mim até os dias de hoje.
Desde criança eu já nutria uma paixão pelo Rádio. E foi exatamente aqui que pude colocar em prática essa vocação. Foi no ano de 1987 que eu e mais alguns colegas fundamos uma Rádio, tipo artesanal. Era a Rádio PARAÍSO-FM, que fez muito sucesso nessa época, e foi até notícia em uma reportagem do jornal “O Globo” – um dos maiores jornais deste país. Esse fato muito me orgulhou, e, por via de consequência, foi também um orgulho para toda a população de Floresta, pois esta cidade era citada de forma positiva, simplesmente pelo fato de ter uma Rádio que proporcionava entretenimento musical, prestação de serviço, utilidade pública e informação a todos os seus ouvintes.
E por falar em Rádio – uma coisa que faço por puro prazer -, é dispensável dizer de minha contribuição ao povo florestano nesse setor, pois se trata de um fato público e notório. E é bom lembrar que no ano de 2011 fez 25 anos que a ele me dediquei, fato esse que me tornou uma pessoa bastante conhecia, tanto na cidade, quanto na zona rural.
Minha identificação com esta cidade sertaneja não diz respeito apenas pelos anos de convivência e receptividade positiva por parte de seus habitantes. É que aqui plantei uma semente: construí duas famílias, advindo daí uma prole de cinco filhos.
Existe uma particularidade marcante entre mim e muitos florestanos natos com idades semelhantes à minha. É que eles têm menos tempo de convívio na cidade do que eu, simplesmente por terem morado ou estarem morando em outros municípios. Assim, muitos me consideram mais florestano do que muitos nativos de Floresta.
Um fato marcante nestes meus 36 anos de Floresta é o meu não-envolvimento com a vida política do município. Assim sendo, sou amigo de todos, independentemente de cor partidária. A propósito, se nunca me envolvi com a política partidária na minha terra natal, e não seria aqui que iria fazê-lo. Afinal, esse tipo de política nunca foi o meu forte. A minha política, na verdade, é a política da boa vizinhança!
O meu engajamento na vida social de Floresta se fez sentir quando comecei a frequentar os bares, restaurantes e clubes da cidade. Na época em que aqui cheguei, as opções em termos de bar e restaurantes eram poucas. Nessa especialidade, o mais solicitado era o Bar e Sorveteria do saudoso “Seu Dedé”, que era o verdadeiro point de encontro dos rapazes e moças, não só de Floresta, mas de todas as pessoas que visitavam a nossa cidade. No meu caso, foi o primeiro bar que frequentei e onde costumava saborear aquela cerveja bem gelada, ouvindo as músicas do mais novo lançamento do Rei Roberto Carlos, que ainda hoje me recordo como se fosse ontem.
Ainda em se tratando de música, nessa época estavam na crista da onda as músicas de Discoteque, principalmente as que faziam parte da trilha sonora do filme Os Embalos de Sábado à Noite, cujo ator principal era John Travolta.
Havia, também, uma Boite, que ficava perto do atual Banco do Nordeste, onde o repertório musical mais executado era exatamente essas músicas de embalo. Eu era um grande frequentador dessa casa noturna, porém não ia lá pra dançar esse tipo de música, porquanto eu não tinha habilidade para tal.
Em termos de bailes, aí sim, o meu Clube preferido era o Grêmio 3 de Julho, onde vivi grandes emoções. Uma das primeiras bandas musicais que “curti” no Grêmio foi a Super Som Terceiro Grau, da cidade vizinha de Belém do São Francisco, comandada pelo saudoso cantor e sanfoneiro Gildo Moreno.
Por falar em Grêmio 3 de Julho, no ano de 1980, a ele me associei. Lá havia uma quadra poliesportiva, onde costumava, todas as noites, jogar futebol de salão, hoje conhecido como futsal. Confesso que nunca fui um craque nesse esporte. Jogava apenas por prazer, e também para manter a forma física. Nada mais.
Um outro Clube que gostava de frequentar era o BNB-CLUBE, mormente nos finais de semana. Lá foi onde eu recomecei a praticar um esporte muito preferido nos meus tempos de estudante, quando ainda fazia o ginásio: o Ping-Pong. A propósito, ainda hoje eu pratico esse esporte, e, diga-se de passagem, com uma boa habilidade!
No BNB-CLUBE participei de muitas festas, só chegando à minha casa quando o dia já estava amanhecendo. Nos anos 80, eram famosas as festas juninas nesse Clube. O pessoal de toda a região vinha prestigiar o São João do BNB-CLUBE, pois já se tornara tradicional, posto que a Banda que tocava todos os anos no BNB era nada mais nada menos do que a Banda do hoje consagrado sanfoneiro, cantor e compositor Flávio José. Nessa época, por sinal, o cantor em apreço ainda não era conhecido nacionalmente.
Em se tratando de Clubes sociais, não poderia deixar de citar o CCSF – Clube Cultural Social Florestano -, conhecido popularmente por DIFUSORA, porque lá havia um serviço de alto-falante. Esse Clube era cognominado, também, de Clube dos Novaes, porque só ia lá pessoas dessa família, da mesma forma que no Grêmio 3 de Julho só ia a família Ferraz. Porém esse tempo já se foi. Hoje em dia, portanto, qualquer família frequenta um ou outro Clube.
Gostaria de deixar bem claro para os amigos florestanos que estou me reportando aos Clubes que existiam quando aqui cheguei. É claro que houve outros Clubes antes de chegar a esta cidade. No entanto, prefiro apenas falar sobre os Clubes que conheci e frequentei ao longo dos meus 36 anos em Floresta.
Na atualidade, em termos de bar, o mais famoso é o BETINHO BAR. Ele é conhecido em toda a região, e até na capital pernambucana, posto que muitas pessoas de Recife, ao passarem por Floresta, são orientadas a conhecer esse logradouro, pois se trata, na verdade, do point de encontro da juventude florestana, bem como de famílias e casais enamorados.
A propósito, conheci o BETINHO BAR nos seus primórdios. Tratava-se de um pequeno quiosque, que aos poucos foi crescendo, crescendo, até se transformar em um ambiente amplo, com uma boa infraestrutura, capaz de atrair os turistas que visitam a Terra dos Tamarindos.
Floresta é famosa por suas Igrejas Centenárias. A principal delas é a Igreja do Rosário, que, por sinal, deu origem à cidade. Ela data do ano de 1777!
Outras Igrejas que merecem ser mencionadas são: Igreja Santana, Igreja da Ermida – esta inaugurada na virada do século XIX para o século XX -, Igreja de Nossa Senhora Aparecida – conhecida como a Igreja de seu Artur Pedro.
Mais recentemente, existem as Igrejas Santa Rosa de Lima, Nossa Senhora de Fátima, e São Francisco, sendo esta última situada no bairro do DNER.
Floresta é uma das poucas cidades sertanejas que possui Diocese, e a sua sede foi reconstruída em estilo arquitetônico moderno, no mesmo lugar da Igreja original. Esse fato, na época, não foi bem aceito pela maioria dos florestanos, porém, com o passar dos anos, o povo foi se “acostumando” com a mudança. De qualquer maneira, o estilo arquitetônico da Catedral contrasta com o casario, em estilo barroco, o que é uma das principais características da cidade de Floresta. Aliás, já “batizei” esse conjunto arquitetônico como sendo o casario imponente da cidade.
Floresta se orgulha de seus homens ilustres que, ao longo dos séculos, têm se destacado em todos os ramos de atividades, como, por exemplo, na política, na música, na literatura, nos esportes etc. Em suma, podemos dizer, com muita propriedade, que Floresta é uma Terra de homens inteligentes. Afinal, os meus 36 anos de convivência aqui são mais do que suficientes para comprovar esse fato. É dispensável dizer que me sinto orgulhoso, deveras, em conviver no meio dessa gente talentosa.
Em se tratando de religiosidade, participei, por mais de vinte anos consecutivos, dos festejos ao nosso Padroeiro – O BOM JESUS DOS AFLITOS. Representava o então DNER nas novenas ao nosso Padroeiro, e, em 1999, tive a honra de ser escolhido pelo Pe. Nicolau para, juntamente com minha esposa, ser o Casal Presidente da Festa. Aceitamos o convite, e, graças ao BOM JESUS, fizemos, com a ajuda de muitos parceiros, uma grandiosa festa, ainda hoje lembrada e elogiada por grande parte da população de Floresta.
Um ano antes desse fato, recebi, orgulhosamente, na Câmara Municipal, o Título de Cidadão Honorário de Floresta. A votação foi por unanimidade, porém faço um agradecimento especial ao grande amigo Jarbas Bedôr Jardim, ele que fora o autor do Projeto que me concedeu o Título em apreço.
Mesmo não conhecendo profundamente a história do município de Floresta, tenho conhecimento de que a primeira Reserva Biológica do Brasil fica situada neste município, que é a RESERVA BIOLÓGICA DA SERRA NEGRA, que dista 60 quilômetros da Sede do Município. Ela foi criada no ano de 1950, e até hoje está preservada pela União. Esse fato, acredito, é digno de orgulho para todos os florestanos.
O município de Floresta é cortado por dois importantes córregos: o Rio Pajeú, e o Riacho dos Navios. Ambos fizeram parte das canções do Gonzagão. A propósito, Luiz Gonzaga fez uma menção a Floresta através da música MEU PAJEÚ, quando ele diz: “No dia que eu voltar/Vou fazer uma seresta/Vou rezar uma novena/Ao Bom Jesus da Floresta”. A bem da verdade, essa música foi feita em homenagem ao cinquentenário de Floresta, que aconteceu no dia 20 de junho de 1957.
O nome Riacho dos Navios é explicado pelo fato de existir, às suas margens, mais precisamente na Fazenda Algodões, uma grande pedra com a forma de um navio. Por sinal, nesses anos todos que aqui resido, ainda não conheci essa pedra, a não ser por foto! Em função ainda dessa pedra, a cidade é conhecida, impropriamente, por muitos, como Floresta dos Navios.
No campo educacional, em 1985, tive o prazer de dar a minha contribuição como professor do tradicional Colégio Diocesano de Floresta. Fora convidado pelo então Diretor, o Dr. Querino Sousa Neto. No ano seguinte, ensinei, interinamente, no Colégio Estadual Deputado Afonso Ferraz. Nesses Educandários eu lecionei a cadeira de Física.
Consoante o exposto, participei, ativamente, ao longo desses meus 36 anos em Floresta, dos eventos sociais, religiosos e culturais. Tudo o que fiz foi com muito amor, e de uma forma por demais espontânea, isso em função de me considerar um autêntico florestano, independente mesmo do Título que recebi em 1998!
A propósito, logo ao chegar nesta Terra maravilhosa, me senti muito à vontade, posto que fui bem aceito por todos, e, assim, me senti como se estivesse em minha própria casa. Na verdade, fiz de Floresta o meu segundo Lar, e é por isso que até hoje estou aqui morando e trabalhando. É bom frisar que, como funcionário público federal, tenho a opção de me transferir para qualquer Estado da Federação, inclusive para a minha terra natal – a Paraíba. No entanto, preferi ficar aqui por uma questão de opção mesmo.
Porém, um dia vou ter que fazê-lo, até porque tenho lá os meus motivos para tal. Primeiro, porque sou consciente de que já dei a minha parcela de contribuição a esse próspero município ao longo de mais de três décadas de trabalho e, segundo, o fato de minha esposa e filhos estarem morando na capital paraibana, além dos demais parentes. Assim, é dispensável dizer que estar perto de meus filhos, pra mim, e pra eles, é um fator importante e, acima de tudo, essencial.
É claro que não é nada fácil se deixar uma cidade na qual você foi muito bem acolhido e respeitado pelos seus concidadãos durante quase 40 anos! Porém, como se diz, não se faz omelete sem antes quebrar os ovos. Portanto, vai ser doloroso, pra mim, um dia ter que deixar esta cidade, sua gente, enfim. Fazer o quê?
De qualquer maneira, quando daqui eu sair, não irei me esquecer dos florestanos que, efetivamente, tiveram um grande apreço à minha pessoa e, com certeza, quando a saudade apertar, estarei de volta a Floresta para, desta feita, matar as saudades desta Terra e sua gente maravilhosa!
Que o BOM JESUS DOS AFLITOS, Padroeiro de Floresta, ilumine o meu destino, bem como o de todos os meus irmãos florestanos!
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