"O IMPORTANTE É SABER AONDE VOCÊ QUER IR"
"O IMPORTANTE É SABER AONDE VOCÊ QUER IR"
Rubens Francisco Lucchetti
Para os jovens sonhadores que, diante do computador, estiverem lendo estas linhas, tenho a dizer que nunca devem esmorecer e devem fazer de seu sonho a meta de suas vidas. Levem em consideração as seguintes palavras da atriz Sharon Stone: “Minha vontade foi o que me fez famosa. Não foi talento, nem meu charme. Aliás, vontade e inteligência fazem você ir a qualquer lugar aonde queira ir. O importante é saber aonde você quer ir.”
No meu caso, eu queria ir a vários “lugares”. Tudo começou quando eu tinha doze anos de idade. Numa manhã, minha professora do Primário, dona Tomásia Bruni, perguntou à classe o que cada um desejava ser quando crescesse. Recordo-me de que a maioria respondeu que queria ser advogado, engenheiro, médico, dentista, professor, jogador de futebol... Eu fui a única nota destoante naquela orquestra, ao dizer que desejava escrever para o rádio, para o Cinema, para as histórias em quadrinhos e para as revistas policiais – só deixei de citar os livros de bolso, porque desconhecia sua existência; e também deixei de mencionar a televisão, pois ela ainda não havia chegado ao Brasil. Enquanto alguns colegas riam da minha resposta, dona Tomásia olhou-me através de seus óculos de aro de ouro e, com um leve sorriso de mofa, disse-me: “Muito bem. Mas não é muita coisa tudo isso que você quer fazer? Uma só delas já seria uma vitória!” Ao que respondi categoricamente: “Não, professora! Quero fazer mesmo tudo isso! E sei que vou fazer!”
Essa arrogância, que não condizia com o meu modo de ser, tinha uma justificativa. Alguns meses antes, um jornalzinho do bairro onde eu residia havia publicado o meu conto “A Única Testemunha”. Isso enchia-me de orgulho. Além disso, por mais de uma vez, escutara o veterano homem de rádio Octávio Gabus Mendes citar, em seu programa, meu nome e elogiar uns dois ou três argumentos que eu lhe havia enviado para – imaginem a minha pretensão – que ele os radiofonizasse. Eram feitos que eu desfrutava sozinho, sem ter um único familiar ou amigo com quem pudesse compartilhá-los. Em contrapartida, nunca faltaram forças negativas que falavam: “Isso é impossível de ser realizado num país como o nosso.” Entretanto, ao invés de me desanimar, essas palavras serviam de incentivo para que eu perseguisse com maior tenacidade os meus objetivos. E eu os alcancei! Um a um! E nesta ordem: histórias de Detetive & Mistério (escrevi para todas as revistas do gênero, publicadas em nosso país desde os anos 1940; e cheguei a criar e editar algumas dessas revistas), seriados de rádio, scripts para a TV, livros de bolso, roteiros para histórias em quadrinhos, roteiros para filmes... Tenho consciência de que, nestes setenta anos de atividade ininterrupta, consegui construir uma carreira sui generis, uma carreira sem precedentes em nosso país. Mas sei que isso tem criado um mal-estar em certos indivíduos, entre os quais estão aqueles que diziam que eu estava almejando o impossível. E, como provei o contrário, eles mudaram cinicamente seu discurso e, agora, acusam-me de “alienado”, por estar exercendo “uma atividade estranha à nossa cultura”. A esses pobres diabos, que nada conseguiram, respondo com a frase que eu mantinha sobre a minha escrivaninha na Cedibra (antiga Editorial Bruguera): “A gente pode comprar a lisonja, mas a inveja tem de ser conquistada.”