MINHA TIMIDEZ
MINHA TIMIDEZ
Por Aderson Machado.
No período da minha adolescência, eu era tímido ao extremo. E parecia que essa timidez não teria fim. Eu acabara de sair da zona rural para ir estudar em uma Escola Técnica Federal, em regime de internato. Passei a conviver, assim, com garotos e adultos de diversas cidades brasileiras, cada um com suas manias e temperamentos. Havia os mais levados, extrovertidos, namoradores, enfim, havia meninos de todos os matizes, vamos dizer assim. Eu era, quiçá, o mais recatado de todos os que lá estudavam. Estou falando, para ser mais direto, do Colégio Agrícola “Vidal de Negreiros”, situado no município de Bananeiras/PB. Nesse educandário eu estudei durante cinco anos, no período de 1966 a 1970. Pois bem, cheguei lá para começar fazendo o primeiro ano do antigo curso ginasial, e saí depois de ter concluído o primeiro ano do curso técnico, o que atualmente chamamos de curso médio. Feitas estas divagações, volto a me retratar sobre a minha timidez. Com efeito, devo dizer que era do tipo que gostava mais de ouvir do que falar. Parecia até que seguia aquela máxima que diz: “Se nós temos dois ouvidos e uma boca, é para que falemos menos e ouçamos mais”. No meu caso, a timidez falava mais alto!
No Colégio havia um serviço de alto-falante, que divulgava os avisos e outras coisas do gênero. Por sinal, um dos “locutores” desse serviço de som era um colega de turma, que uma certa vez me colocou numa fria: pediu-me que lesse algo através do microfone! Mesmo sabendo que todo o Colégio iria ouvir a minha voz, eu topei. Foi essa, portanto, a minha primeira experiência como “locutor”, porém confesso que foi uma experiência desastrosa, porquanto a minha mão tremeu que só vara verde ao empunhar o microfone, a minha voz saiu trêmula, e ninguém entendeu absolutamente nada o que tentei falar. Um desastre! Depois disso, nunca mais inventei de me aproximar de um microfone, pelo menos até sair do Colégio.
Como é de praxe, todo educandário de renome tem um auditório. E não raras vezes havia reuniões no auditório do Colégio onde eu estudava. Nessas reuniões, via de regra, a palavra era facultada, e muitos alunos gostavam de fazer o uso dela. Para mim, eles eram uns verdadeiros heróis! Eu era apenas um mero espectador, sentado lá na última fileira do auditório, com medo de ser chamado para proferir algo. E assim ia me esquivando de falar em público, o que me fazia muito bem.
Saindo de Bananeiras, fui estudar na capital paraibana, onde concluí o curso científico, bem como o superior. É bom frisar que a timidez que tinha em Bananeiras eu a levei para João Pessoa, sendo que ela foi perdendo forças a partir do segundo ano do meu curso superior, quando comecei a lecionar. Em sendo professor, forçosamente me tornei um comunicador, mesmo sem usar um microfone. Destarte, eu teria que falar para uma plateia – os alunos -, para poder transmitir os meus conhecimentos. A propósito, devo dizer que a minha primeira aula, como professor, eu nunca irei esquecer: A turma era composta por 84 alunos! E, diga-se de passagem, a maioria era composta por alunos adultos, muitos já casados, uma vez que ensinava, no turno da noite, a alunos que trabalhavam durante o dia. Realmente foi uma experiência chocante para mim, que além de jovem – tinha 21 anos -, era tímido! Mas, por outro lado, essa experiência foi um santo remédio para eu quebrar o gelo, e mandar pra escanteio aquela velha timidez que tanto me atormentou durante toda a minha juventude.
Por fim, e não por último, devo acrescentar que, ao ingressar na vida profissional, tornei-me um orador tipo inveterado, e até fui locutor de rádio por um período de 25 anos! Mas essa é uma outra história...