O CÃO SOLIDÁRIO DE TAQUARAL

O morador mais ilustre de Taquaral de Goiás não é um político ou um cantor. É um cão vira-lata que não tem residência fixa ou uma família para chamar de sua. O cachorro Leão, que alguns chamam de Cão Solidário, é conhecido e saudado por todos da cidade.

É um animal diferente. Acompanha todos os velórios que acontecem na cidade. Não se sabe como, mas basta ter um funeral que Leão descobre e em poucos minutos está lá prestando sua solidariedade ao morto. Ele não é seletivo quanto ao defunto, prestigia todos. No velório não perde um só ritual. Sua missão só termina quando o morto é sepultado no cemitério local, que Leão faz questão de ir também.

Ninguém na cidade estranha os estranhos hábitos do cãozinho, que parece se comover bastante com os velórios. Como ele não tem “família” na cidade e ninguém sabe precisar como apareceu em Taquaral, sua biografia é tecida apenas no campo das especulações. Uns acham que seu dono morreu e desde então ele acompanha todos os velórios na esperança de reencontrar seu protetor. Outros consideram apenas que o cachorro tem um dom especial.

Nem de só de velório é composta a vida pública do cão. Todo domingo, religiosamente, ele vai à missa. O padre, que já conhece bem o cachorro, não se incomoda com sua presença e segue a liturgia normalmente. O cachorro se acomoda sob algum dos bancos da frente e assistente atentamente à celebração. Depois vai embora. Não se sabe pra onde.

A façanha mais recente de Leão foi acompanhar os romeiros de Taquaral em peregrinação a pé até a cidade de Trindade, distante 102 quilômetros. É uma caminhada árdua para um cão, mas Leão seguiu firme e forte, solidário ao povo da sua cidade. Na volta, perdeu as forças e foi acolhido em um dos carros de bois, onde voltou da procissão. Não conseguiu cumprir toda a missão, mas tentou com todas as suas forças.

Leão não tem lar. Dorme nas calçadas, sob bancos de praças, onde consegue um abrigo. Come o que o povo dá. E o povo é solidário à sua causa. Restaurantes e lanchonetes sempre oferecem comida para o animal, que não apresenta qualquer sinal de desnutrição. Apesar de viver nas ruas, é um cão bem cuidado.

O prefeito Willis de Morais (DEM) é um dos protetores do cãozinho. “Quando assumi a prefeitura herdei este cachorro maravilhoso para cuidar. Ele é um patrimônio de Taquaral”, disse o democrata, que banca custos com veterinário para o animal.

Ninguém ousa levar o cachorro para casa, oferecer-lhe um lar. É consenso geral que ele não pode pertencer a uma só pessoa: é de todos de Taquaral, é um mascote público, uma espécie de anjo canino a levar um pouco de consolo a todos em horas difíceis.