O TROTE
Por Aderson Machado
É um sonho de todo estudante interessado nos estudos, um dia ter acesso à Universidade. Principalmente a Federal, onde, via de regra, o ensino é bom, além de ser custeado pela União.
No longínquo ano de 1973 eu tive essa felicidade. Depois de ter queimado as pestanas, vamos dizer assim, consegui ser aprovado logo na primeira tentativa, e ainda para o primeiro semestre. Foi, sem dúvida, um motivo de muita alegria pra mim e, de resto, para os meus familiares e amigos. Afinal de contas, durante toda minha vida, só havia estudado em escola pública, quer no interior ou na capital do estado, João Pessoa.
Devo dizer, também, que nunca havia frequentado cursinho pré-vestibular. Assim, o meu grau de satisfação teve um peso bem maior, sem sombra de dúvidas.
Ao passar no vestibular para o curso de Engenharia Civil – um curso assaz concorrido -, tratei logo de raspar a cabeça, antes que isso acontecesse ao entrar na Universidade como forma de trote.
A propósito, em algumas Universidades a questão do trote tem virado caso de polícia, haja vista o grau de violência empregado pelos estudantes chamados veteranos. E o lamentável é que até casos de morte já foram registrados nesse tipo de prática. Um absurdo, esse estado de coisas. Dessa forma, o que era para ser um motivo de alegria para o calouro, passou a ser um motivo de tristeza para ele, seus familiares e amigos. Por isso tudo, é bom e necessário que essa história de trote seja abolida de uma vez por todas, para o bem de todos!
Voltemos à questão inicial. O fato, em si, de você passar no vestibular. Esse, com efeito, é um desejo de muitos, mas, infelizmente, muitos ficam de fora na primeira tentativa, em função da grande concorrência, dependendo do curso escolhido pelo vestibulando. Infelizmente, as nossas Universidades Públicas têm vagas limitadas. E aí nem todos podem ser admitidos, senão os que conseguiram as melhores notas, evidentemente.
Se consegui entrar na Universidade, foi com o incentivo de meus pais, que me deram essa chance. Quer dizer, me botaram na escola, e queriam que me tornasse um doutor. E isso eles conseguiram, não só em relação a mim, como em relação à maioria dos manos.
Eu, enquanto pai, proporcionei a meus filhos a educação, a exemplo do que o meu genitor fizera comigo. Nada mais justo. E aí estão os frutos: três filhas formadas – Anete, Aline e Adele -, e já absorvidas no mercado de trabalho. Todas engajadas no serviço público, quer federal ou estadual. E, este ano, mais uma vitória, mais uma glória para este escriba. É que minha filha mais nova, Jéssica, acabou de ser aprovada no curso de Engenharia de Petróleo, em Campina Grande/PB. Por sinal, um curso por demais promissor! O último da prole, Ariel, está cursando o sétimo ano do ensino fundamental e, a exemplo das meninas, é também muito aplicado e dedicado aos estudos.
Por fim, quero agradecer a Deus, em primeiríssimo lugar, por todas essas conquistas que consegui na qualidade de pai. Quanto ao que me toca, devo dizer que não fiz nada mais, nada menos, do que minha obrigação. Dessa maneira, ao direcionarmos nossos filhos para o caminho da educação, estamos fazendo sucessores, e não apenas herdeiros, estes que encontram o prato feito, vamos colocar assim. E por encontrarem o prato pronto, via de regra não valorizam o que têm em mãos.
É por aí.