UMA VIDA QUE NÃO VALE A PENA
Dia desses li a obra "O Ser Quântico", de Danah Zohar, onde ela ressalta, dentre muitas outras coisas, que nós - no Ocidente do século 20 - vivemos em grande parte no que pode ser descrito como uma cultura centrada no "eu" ou no "agora". Uma cultura que ressalta a importância do "eu", do "meu" e do "agora".
Nessa lógica chamada de ética geral do egocentrismo, o centro da atenção, do sucesso, da verdade, da felicidade e dos valores parece que está centrada apenas na própria pessoa e isso tem um nome, chama-se egocentrismo. Se algo faz com que eu me sinta bem, deve ser uma coisa boa. Se algo é verdade para mim, deve ter alguma validade.
Outra coisa : tudo tem de ser aqui e agora. Dizia um palestrante, em certo evento do qual participei, que o passado ficou para trás e o futuro a Deus pertence. Portanto, o que mais deve nos interessar é o agora, dizia ele. Como se vê, é a lógica do "eu" e do "agora". Quer ser feliz? Tem de ser no "agora". É como se tudo o que fazemos só tivesse sentido e validade no "aqui" e no "agora", quando, no entanto, a coisa não é bem assim porque, numa dimensão espiritual maior, todos os aspectos de nossas vidas são inseparáveis, e tudo o mais que fazemos não nos pertence, mas pertence ao Cósmico. E, o que é importante : tudo o que cada um de nós faz afeta todos os demais, direta e fisicamente. Precisamos ter a compreensão de que somos guardiães um do outro porque esse outro é parte de mim, assim como minha mão é parte de meu corpo, afirma Danah Zohar.
Cada um de nós- diz ela - em virtude de nosso relacionamento integral com os outros, com a natureza e com o mundo dos valores, tem a capacidade de beatificar ou manchar as águas da eternidade.
E, diz mais: cada um de nós carrega como resultado de nossa natureza quântica uma tremenda responsabilidade moral. Eu sou responsável pelo mundo porque, nas palavras de Krishnamurti, " eu sou o mundo". Ou, na expressão de Jung:
“Se as coisas vão mal no mundo, isso é porque algo vai mal com o indivíduo, porque algo vai mal comigo. Portanto, se sou uma pessoa sensata, vou me endireitar primeiro".
Mas, de tudo o que li, não me passou despercebido o seu clamor a nos alertar para o fato de que a alma do homem contemporâneo está, à evidência, clamando por algo mais, por algum sentido de companheirismo com algo além de nós mesmos, por uma sensação de estar em casa dentro do Universo.
Uma vida com base na lógica do "eu", do "meu" e do "agora" é uma vida apagada, egoísta, inútil e sem nenhuma utilidade para a sociedade. No fundo, me faz lembrar um conto, colhido dos escritos de Paulo Coelho, que diz o seguinte:
Quando jovem, Abin-Alsar escutou uma conversa do seu pai com um dervixe .
--- Cuidado com suas obras - disse o dervixe. -- Pense na maneira como elas vão afetar as gerações futuras.
--- O que eu tenho a ver com as gerações futuras? - respondeu o pai.
--- Nunca vou conhecê-las; quando eu morrer, tudo estará acabado, e não me importo o que dirão meus descendentes.
Abin-Alsar jamais esqueceu a conversa.
Durante toda a sua vida esforçou-se para fazer o bem, ajudar as pessoas, executar seu trabalho com entusiasmo. Tornou-se um homem conhecido por sua preocupação com os outros; ao morrer tinha deixado um grande número de obras que melhoraram consideravelmente o nível de vida de sua cidade.
Em seu túmulo mandou gravar o seguinte epitáfio:
"Uma vida que termina com a morte é uma vida que não valeu a pena”.
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