Pais e Filhos
Temos a tendência em enxergar o melhor em quem amamos.
É a regra básica da afeição, do carinho e, obviamente, do amor.
Isto explica nossa nossa fé em nossos filhos, pais, maridos, esposas...
Explica também a crença no pai “herói”, no ser que nunca erra, que é o mais forte, o mais sábio, o irretocável.
Normalmente esta imagem dura até determinada fase, em torno início da vida adulta quando então, olhamos para o nosso “velho” e percebemos que ele também falha, também tem defeitos e é, em muitas circunstâncias, tão frágil quanto nós.
Esta passagem é essencial. Promove a maturidade, o crescimento e evolui até o momento em que também nos tornamos mães e pais e passamos a ser o objeto de admiração (e de questionamentos) de nossos filhos.
Há casos, porém, em que este simbólico rompimento não ocorre. O filho continua sempre sendo a eterna criança, cuja dependência expressa com comportamentos que vão da adoração ao sofrimento e submissão.
Os pais por outro lado, vivem, ainda que de forma tortuoso, a gratificação que esta dependência constitui e é comum ver filhos adultos de mãos dadas com seus pais prolongando eternamente a adolescência e o comportamento infantil.
A imagem que temos dos nossos filhos também vem com distorção. É natural que acreditemos e queiramos que nossos filhos sejam inteligentes, educados, brilhantes e que despertem a admiração de todos.
Parte do nosso desejo, é porque projetamos em nossos filhos a continuidade de nós mesmos, como se as conquistas deles reafirmassem que acertamos na educação, que possuímos valores e que, temos grande participação no sucesso que alcançam.
Mas há um fenômeno que ocorre neste processo e nem sempre é agradável: o mundo enxerga bem mais rápido e com muito mais clareza o que não vemos.
Pais e filhos são colocados sob a ótica alheia e nem sempre o resultado é aquele que esperamos e acreditamos.
Descobrimos que nossos pais também foram adolescentes, que beberam, fazem besteiras. Enfim, que são humanos.
E os pais descobrem que os filhos não agradam tanto quanto imaginavam, que não são os gênios que supunham e nem tão educados quanto acreditavam.
Esta etapa é dolorosa. Desconstruir uma imagem nem sempre é fácil, mas neste caso é necessário.
Para os filhos é essencial pelos motivos que já foram ditos: a maturidade e o desenvolvimento emocional. Aos ver e compreender que os pais também erraram e muito, o que é normal, rompem a bolha da perfeição e se fortalecem não só em sua condição de filhos como também dos futuros pais que serão com seus erros e acertos.
A negação desta falibilidade paterna/materna está atrelada à dependência, à fantasia e à projeção futura em relacionamentos que buscarão a imagem e semelhança do que é adorado.
Já admitir que nossos filhos não são tudo aquilo que imaginávamos não é menos doloroso. Não é fácil compreender que o “anjinho” é mal educado, que a “princesa” é vista como uma menina mimada apenas e que aquilo que chamamos de “personalidade forte” nada mais é do que agressividade.
Por isso a afirmação de que “é mais fácil educar o filho dos outros que os nossos” é plena de verdade.
Também não temos como exigir que o mundo aceite e receba nossos pais e filhos da forma como enxergamos.
Falhamos a todo momento, é fato e podemos até justificar estas falhas com o amor incondicional e gigante que temos por nossos pais e filhos.
Mas é preciso ter uma clareza em meio a esta cegueira emocional: criamos filhos para vida e a vida tem suas exigências e elas nem sempre são leves e compreensivas como nós somos em nossos ninhos.
São processos complexos e difíceis, que envolvem muita reflexão e sempre estarão repletos de dúvidas, mas talvez a melhor forma de lidar com eles, seja a tolerância, a ponderação, a observação e o respeito não só por quem amamos mas também por quem nos cerca e com quem convivemos.