O TEMPORAL

O TEMPORAL

Por Aderson Machado.

Ainda me lembro como se fosse hoje. Mas o fato aconteceu numa Sexta-Feira da Paixão do longínquo ano de 1960. Eu tinha oito anos incompletos e morava no Sítio Fechado, município de Areia/PB. Pois bem, por volta de uma e meia da tarde desse dia dedicado à Paixão de Cristo, começou a chover. E não era uma chuva qualquer; na verdade, tratava-se de um verdadeiro temporal, desses de meter medo em qualquer cristão. Com efeito, amiúde os trovões ribombavam, parecia até que o “céu” vinha abaixo. Os relâmpagos clareavam tudo, já que as nuvens escuras faziam com que o dia ficasse escuro. Como tinha – e ainda tenho – muito medo de trovões, eu ficara em polvorosa com aquele terrível temporal. E após cada relâmpago, sobrevinha um trovão correspondente, já que a velocidade da luz é muito maior que a do som. E com o passar do tempo, a tempestade ia aumentando de intensidade. E eu ia ficando cada vez mais transtornado, apavorado. De repente não sabia se ia ou se ficava; se me deitava ou ficava em alerta, andando dentro de casa, que, por sinal, tinha um cômodo bastante apropriado para me aboletar numa situação como essa. Era a bodega de meu pai, que tinha o teto forrado de madeira, praticamente à prova de som. Mas de tão apavorado que estava, não me lembrei desse importante detalhe! Assim, fiquei perambulando por entre os cômodos da casa, sem rumo nem prumo. E num dado momento achei por bem ficar à janela da sala de estar, para contemplar a intensidade da chuva. Achava que os trovões tinham dado uma trégua. Ledo engano. Foi exatamente nesse momento que, subitamente, ouvi um estrondo de altas proporções. Foi um pipoco único. Era como se tivesse caído uma bomba atômica nas proximidades de minha casa. Pois bem, esse petardo fez com que eu caísse ao chão e ficasse desacordado. Só me lembro que minha mãe me levou pra cozinha, deu-me garapa de açúcar, e com um certo tempo voltei à tona, para alívio de meus familiares e de todos que estavam em minha casa. Por essa ocasião, todavia, o temporal havia aplacado. Ainda bem.

Mas o efeito desse grande trovão não se resumiu apenas ao meu desmaio. É que no dia após o temporal, tomei conhecimento de que um raio havia caído sobre um coqueiro, que ficava a 100 metros de nossa casa. Foi precisamente o raio correspondente a esse trovão avassalador. É indispensável dizer que o coqueiro morreu em consequência desse fenômeno meteorológico. Dos males o menor, porquanto pior seria morrer uma pessoa, um ser humano, enfim.

Destarte, a Sexta-Feira da Paixão passou a ser um dia marcante pra mim em função desse episódio, apesar de, ao longo de minha vida, ter enfrentado outras intempéries, porém sem maiores consequências.

E por falar em tempestades, o meu pai nos alertava no sentido de que não era o trovão que devia nos preocupar; o perigo, portanto, dizia respeito ao raio que caía na terra. E ele tinha toda razão, porquanto o raio é consequência de uma descarga elétrica de altíssima intensidade que ocorre quando duas nuvens com cargas elétricas opostas (negativas e positivas) se encontram. O raio provocado por esse encontro de nuvens tem dois caminhos a percorrer: ou é descarregado entre as próprias nuvens, ou cai sobre a terra. E é aí que mora o perigo. Com efeito, muitas pessoas já morreram atingidas por raios, principalmente na zona rural, onde praticamente não existem para-raios. O mais seguro, nesse caso, é a pessoa se proteger num ambiente fechado, podendo ser uma casa, um carro, avião, ou coisa que o valha. Essa teoria é chamada de Gaiola de Faraday, um grande físico Inglês. Portanto, segundo essa teoria, quem está em um ambiente fechado está protegido de qualquer tipo de descarga elétrica. Por isso é que ninguém nunca ouviu falar que um raio caiu dentro de uma casa!

Como contraponto, devo dizer que o lugar menos indicado para uma pessoa se “proteger” de um raio é debaixo de uma árvore, porque, estando esta molhada, pode se tornar um condutor de eletricidade, propiciando, assim, a queda de um raio sobre ela.

Aí fica explicado por que o raio caiu sobre o velho coqueiro do Fechado, na Sexta-Feira da Paixão de 1960...

Aderson Machado
Enviado por Aderson Machado em 24/04/2014
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