Dia do Índio
INTRODUÇÃO
É importante entender que o Dia do Índio pode apresentar-se com diversos cenários, ou figurinos e, até mesmo roteiros. Tudo depende da visão de quem comemora e qual o objetivo pretendido com a comemoração.
Certamente nas comunidades indígenas isoladas, ainda não contatadas não acontece qualquer comemoração. Não existe conhecimento sobre a efeméride e muito menos a necessidade de tê-la.
No caso de instituições criadas para preservação das populações indígenas e sua cultura, deveriam se apresentar com o objetivo de fazer reivindicações, divulgar a diversidade das comunidades indígenas e preservar sua cultura.
No caso de outras instituições e da sociedade em geral as comemorações são lideradas pelos meios de comunicação que, certamente, conseguiram ao longo dos anos criarem uma imagem de um índio estereotipado e, ainda, muito distante da imagem e da diversidade das comunidades indígenas atuais.
Devido a grande maioria de a população brasileira ser mestiça, a homenagem que iremos prestar para celebrar o Dia do Índio, por reconhecimento de nossa ancestralidade é uma declaração de gratidão, pelo que existe em nós e em nossa cultura, transmitido pela nossa raiz indígena.
SIGNIFICADO DE COMEMORAÇÃO
Do dicionário: cerimônia realizada em memória de um acontecimento importante.
Lembrança, memória.
Acreditamos que as comemorações surgem em razão de ameaça do esquecimento e do fato das memórias não serem geradas espontaneamente. Faz-se necessário a criação de arquivos, a manutenção de aniversários, a organização de celebrações, as declarações de saudades, de gratidão, o pronunciamento de elogios... Sem essa atitude de vigilância deliberada, para manutenção das ligações às memórias, o tempo as apagaria.
As comemorações fazem parte da preocupação, para que reconheçamos nossas heranças.
SIGNIFICADO DE CULTURA
Do dicionário e dentro da abordagem sociológica:
O complexo de padrões de comportamento, de crenças, de instituições, de manifestações artísticas, intelectuais, religiosas etc., transmitidos coletivamente, e típicos das sociedades.
Cultura, segundo Edward Taylor, é esse todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem, como membro de uma sociedade.
A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações. Entretanto, os regimes culturais são passíveis de mudanças que não são induzidas somente por influências externas, mas também por dinâmica interna.
Em resumo, as culturas não estão desaparecendo, mas sim, em processo de transformação. No caso do encontro das culturas do colonizador com a nativa ocorreu influências, se bem que existiu o aspecto impositivo da cultura do dominador.
Hoje, certamente, o contato com nossa sociedade de produção, vendas, consumo e acumulação exerce o mesmo tipo de influência e com mais vigor às comunidades indígenas.
ORIGEM E CRIAÇÃO DO DIA DO ÍNDIO
Em 1931, surgiram as primeiras ideias a respeito da criação de um programa indigenista continental. Em 1933, durante a VII Conferência Interamericana, o representante do México propôs a realização de um Congresso Indigenista Interamericano onde seria criado o programa indigenista.
O Primeiro Congresso Indigenista Interamericano aconteceu em 1940 no México e propôs aos países da América a adoção da data de 19 de abril para o “Dia do Índio”, para que todos os países americanos solenizassem as memórias dos primitivos povoadores do Novo Mundo.
Através do Decreto-lei 5540, de 02 de junho de 1943, assinado pelo então Presidente Getúlio Vargas, o Brasil adotou essa recomendação. O decreto determinava que o Brasil passasse a comemorar solenemente o Dia do Índio a 19 de abril de cada ano.
No ano seguinte, 1944, o país começou a celebrar a data com solenidades, atividades educacionais e divulgação da cultura.
Na ocasião foi organizada Semana do Índio, confiada sua realização ao então General Cândido Mariano da Silva Rondon. Existia a ideia de que o primeiro dever seria o de preservar as populações indígenas e sua cultura.
Por coincidência a data foi muito apropriada, na época, para o Brasil, pois 19 de abril era também o aniversário de Getúlio Vargas.
O projeto de “nacionalização do índio” utilizou esta data para criar um ritual que encenasse o mito de origem da nação, de maneira que o indigenismo fosse também parte da política global nacional-desenvolvimentista utilizada pelo Estado Novo, para construir uma identidade nacional.
Hoje, em todos 19 de abril ocorrem vários eventos para registrar e lembrar o passado, bem como dedicados à valorização da cultura indígena.
Nas escolas, os alunos costumam fazer pesquisas sobre a cultura indígena, os museus fazem exposições e os municípios organizam festas comemorativas.
Devido os índios já habitar o país quando os iberos aqui chegaram e devido ao histórico de desrespeito a sua cultura, bem como redução de suas populações e terras, o Dia do Índio deveria ser também um dia de reflexão sobre essa história e a atual relação com nossa ancestralidade.
Como já dissemos, comemoraremos o Dia do Índio com declaração de gratidão.
DECLARAÇÃO DE GRATIDÃO
Somos gratos ao indígena por facilitar nossa luta pela vida ao assimilarmos muitas de suas práticas agrícolas de coleta, cultivo e seleção genética. Graças a isso hoje temos como os mais populares cultivos o da macaxeira e o do milho. Temos coletas como a da castanha do Pará, do açaí e do látex conhecidas em âmbito internacional.
Em nossas mesas estás presente em: desde o pato no tucupi no Pará, passando pelo arroz de pequi em Goiás, no elemento de aglutinação e receptividade do gaúcho o chimarrão e em todo o território nacional nas favas e feijões. Se feijão, jamais desacompanhado da farinha, que teu tipiti produziu.
São muitas as frutas, apesar de muitas ainda totalmente desconhecidas pela maioria de teus descendentes, que teu hábito em saboreá-las foi assimilado por nós. São exemplos: abiu, abacaxi, açaí, araçá, bacuri, biribá, cacau, cajá, cupuaçu, fruta de conde, ingá, jabuticaba, jenipapo, mangaba, murici, pitanga e pitomba.
Para muitas de nossas dores sempre existe um socorro transferido por tua farmacopeia. Obrigado tataravó índia por teus: chás, garrafadas, unguentos, banhos, vapores e cinzas. Todos coadjuvantes de tuas massagens, fricções e carinho.
Obrigado raiz brasileira por transferires tua mitologia nesse riquíssimo lendário, hoje difundido pelas mais diversas instituições culturais e apreciado, principalmente, pelo público infanto-juvenil.
Entre outros mitos, agradecemos por: Anhangá, Caipora, Curupira e Mapinguari nos induzindo a respeitar e bem manejar as florestas; Saci-Pererê nos seduzindo à alegria e à tolerância com as travessuras infanto-juvenis; Uirapuru e Tambatajá nos trazendo a infinitude da força do amor; Iara e Boto nos alertando para o poder ilusório da sedução e da paixão; e Vitória-régia, como constelação concedida pelos deuses ao lar do índio , a floresta e, em particular, à índia Naiá, por seu firme propósito de tornar-se estrela.
Obrigado boca primeira desse solo gentil, de cuja língua diversidade de radicais e sufixos batizaram pessoas, lugares e representantes dos reinos: mineral; vegetal; e animal.
Entre tantos desses batismos, alguns poucos: Iara; Iracema; Ubirajara; Uirangê; Guajará; Pará; Itapemirim; Iguaçu; Igarapé; Andiroba; Maçaranduba; Cará; Arara; Xexéu; Piramutaba; Surubim; Tucunaré; Carapanã; Mutuca; Capivara; Jaguar e Tracajá.
Agradecidos demais pela força e beleza de tua arte nos fazer sentir tua presença em nosso artesanato, danças e até rituais. Além disso, nossa ancestralidade indígena inspirou parte de nossa literatura, que vos tem como protagonista.
Obrigado pela cerâmica marajoara; pelos cestos, paneiros e outros trançados; pelo artesanato em capim dourado e em argila. Obrigado em nome de tantos que dançam carimbó e dos que participam do ritual do sairé. Sem tuas influências a essa etnia em formação, jamais nossa literatura teria produzido: Macunaíma, Guarani; Iracema e Ubirajara.
Enfim, gratos pelas influências assimiladas de tua cultura. Mais do que isso registramos nosso mais profundo reconhecimento por termos a ti como partícipe dessa mestiçagem Brasil.
FONTES
O Índio na Cultura Brasileira – Berta G. Ribeiro;
Índios do Brasil: alimentação e culinária – Lúcia Gaspar;
A cena do Índio na TV – Cristina de Jesus Botelho Brandão;
ebc.com.br;
basílio.fundaj.gov.br; e
suapésquisa.com