QUANDO O ASSUNTO É DINHEIRO ATÉ A FIFA MANDA A ECOLOGIA SE DANAR

O esforço amazonense de oficializar o nome “Caramuri” para a bola da Copa do Mundo no Brasil foi por água abaixo. Apesar de seguir todos os trâmites exigidos pela FIFA, de ter sido a primeira a registar o nome junto a Adidas, fornecedora oficial da bola, a Caramuri sequer foi considerada pela grande mídia. O povo brasileiro pode “votar” numa lista tríplice onde apareciam “Brazuca, Carnavalesca e Bossa Nova” e comemorar com a escolha de Brazuca. Nome péssimo, mas que dá uma ideia melhor de bola que os outros dois.

Contudo, nem tudo está perdido. Caramuri já foi registrado como nome de uma bola ecologicamente correta, fabricada a partir do látex e dentro de todas as medidas de tamanho e peso bem como durabilidade que uma bola exige. Ao contrário da Brazuca que será fabricada para a Adidas na China, utilizando material sintético e não reciclável que apenas cumpre as exigências de medida e peso. Comportamento muito estranho numa época em que se fala em preservação ambiental escolher um país que tradicionalmente não considera muito o ecologicamente correto e permitir o uso de material agressivo à natureza em evento dessa magnitude.

O Brasil - leia-se Amazônia - tem potencial em matéria prima reciclável e sustentável no látex que não exige derrubada de árvore. Muito ao contrário, exige sua preservação e tem know how quanto aos cuidados com a extração. A seringueira que se tornou cara demais para fornecer o grosso da matéria prima para pneus, pode servir de matéria prima para produtos esportivos cuja competição em preços obedece outros padrões. O regime de escravidão com que era extraído o látex há pouco mais de um século, pode dar lugar à renda da agricultura familiar. Há os puritanos que afirmam que não há modernidade no extrativismo. A estes recomendamos que deixem de usar petróleo e derivados, uma vez que este é extraído e transportado com riscos muito maiores à natureza que uma eventual extração da borracha.

A cidade de Manaus foi escolhida como um a sede dos jogos da copa justamente por representar o que ainda existe de puro na natureza amazônica. A FIFA está vendendo esta ideia de “Copa Verde”, mas decepciona ao preterir o ecologicamente correto em favor do ganho comercial. Hoje, há uma conscientização do valor da árvore em pé e estamos diante de uma safra de caramuri que irá ceifar as vidas de muitas delas, uma vez que para colher a fruta ainda se usa o modo arcaico de derrubar a árvore. O nome caramuri chamaria a atenção do mundo para isso.

O melhoramento genético na seringueira também a torna viável para o agronegócio, uma vez que na mata virgem, o seringueiro caminha dias para colher o suficiente para ter um bom valor de venda e no replantio com mudas selecionadas isto deixaria de existir. A tecnologia avança e a Amazônia assiste ao plantio da seringueira em locais nunca antes imaginados, quando seria muito mais fácil fazê-lo aqui. Se árvores frutíferas são plantadas intensivamente, por que não seringueiras?

A FIFA decepciona, mas no final é ela que mais perde ao mostrar que é uma empresa que em primeira e última análise visa o lucro. Ao Amazonas – e Amazônia – resta estimular a produção das bolas de látex e dar exemplo de ser a região que usa a bola em seus eventos esportivos. Uma boa maneira de mostrar ao mundo a utilidade e a sustentabilidade não seria começar fazendo a lição de casa utilizando apenas a bola Ecoball Caramuri na inauguração da Arena Amazônia? Por que não?