Pouca Mobilidade
Agora a palavra de ordem é “mobilidade urbana”. Expressão que decorre de nossas ruas entupidas e de um trânsito que não flui nos grandes centros urbanos do país.
Parece que a partir de agora, municípios com mais de 20 mil habitantes (antes eram 500 mil) terão que desenvolver projetos de mobilidade urbana em até três anos e inseri-los no Plano Diretor da cidade.
Dados de publicações especializadas, como o Jornal da AENFER (Associação dos Engenheiros Ferroviários do Rio de Janeiro) nos mostram como pouco inovadores têm sido os nossos governantes.
No governo Lula, por exemplo, segundo a AENFER, “optou-se pelo incentivo à compra do automóvel particular através de sucessivas reduções no IPI dos veículos”. A redução do IPI para a aquisição de automóveis resultou no aumento considerável da frota, fazendo crescer os irritantes engarrafamentos de que todos somos vítimas há um bom tempo. Essa decisão, pouco criativa, reforça a continuidade da priorização do uso do transporte rodoviário. O que vem ocorrendo desde Juscelino (provavelmente 1957 ou 58), quando o rodoviarismo começou a ser implantado, levando à erradicação do uso dos bondes e à progressiva redução da malha ferroviária dos trens.
O estímulo ao uso do automóvel, transporte com características individuais, acarreta o prejuízo da circulação dos ônibus, que é basicamente o único meio de transporte coletivo de que dispomos. E também rodoviário. Ficando todos, motoristas de carros e ônibus, sujeitos aos problemas clássicos de um trânsito caótico – congestionamentos, stress, acidentes, deslocamentos morosos de casa ao trabalho ou a qualquer lugar, aumento do consumo de combustível, etc.
E as autoridades insistem em pontes estaiadas, elevados, viadutos, etc., assim como em BRT’s, TransIsso, TransAquilo – todos empreendimentos voltados para o transporte rodoviário. Não que a implantação de corredores de tráfego e as obras de arte sejam inócuas. Discute-se apenas o direcionamento delas exclusivamente para a modalidade rodoviária de transporte.
Largamente utilizado em várias cidades de países mais desenvolvidos, o metrô (underground, subway) constitui-se talvez na melhor alternativa para o transporte de massa em grandes centros urbanos. Em nosso país, a sua implantação em capitais de grande porte ainda se desloca a passos de cágado. No Rio de Janeiro, também segundo o Jornal da AENFER, “a última estação do metrô foi inaugurada em 2009, quase 40 anos depois do lançamento da pedra fundamental”. E “a linha 3, que iria se estender para a região de São Gonçalo e Itaboraí, ainda não conseguiu sair das boas intenções”.
Isso tudo com recursos disponibilizados pelo Governo Federal para o setor de transportes, conforme o quadro a seguir (em bilhões de reais), ainda segundo o citado informativo:
ANO AUTORIZADO REALIZADO (%)
2003 3,0 bi 28,6
2004 3,6 bi 60,5
2005 6,5 bi 43,2
2006 6,1 bi 70,4
2007 10,8 bi 51,0
2008 10,9 bi 54,7
2009 12,5 bi 71,5
2010 16,2 bi 78,4
2011 17,1 bi 74,8
2012 23,1 bi 23,1
Recursos que, como vemos, surpreendentemente não foram utilizados na sua totalidade.
Ocorre que esse tipo de informação não é levado à população de forma clara e frequente pela mídia. Possivelmente porque não provoca os índices de audiência ou a venda de jornais decorrentes, por exemplo, do assassinato de quatro pessoas da mesma família que querem que acreditemos que tenha sido cometido por um menino de apenas treze anos. Que, ainda por cima, depois da chacina se suicidou!
É necessário, portanto, que a população tenha maiores esclarecimentos para que possa exigir dos governantes uma atuação mais criativa e favorável ao melhor nível de vida do cidadão.
A subtração de informações desse tipo, veiculadas apenas em publicações especializadas, só favorece a proliferação de enganadores travestidos de autoridades públicas ou governamentais. Estejam eles sob quaisquer siglas partidárias.
As manifestações que hoje aplaudimos com alegria seriam melhor direcionadas e profícuas, com chances reais de efetivos resultados, se a população fosse detentora de conhecimentos que não lhe são fornecidos.
Rio, 14/08/2013