UM PRESÍDIO ONDE OS PRESOS TRABALHAM

A vida na esmagadora maioria dos presídios brasileiros é composta por presos amontoados e ociosos. Essa combinação torna as unidades verdadeiros barris de pólvora, que explodem todo o tempo. Em Jaraguá, a realidade dos 104 encarcerados do Centro de Inserção Social (CIS) é totalmente diferente. Graças às ações do diretor, Anderson Cirqueira Faria, 32 anos, os presos são trancafiados em suas celas apenas à noite. Durante o dia o ar circula dentro das carceragens vazias.

Durante oito horas por dia, os reeducandos exercem atividades como confecção de calças e cintos, montagem de pastas de arquivo suspenso; catação de linha; construção civil; cozinha industrial; serviços gerais; marcenaria e artesanato.

Além de ocuparem a cabeça, os presos são remunerados e acessam o benefício da remissão: a cada três dias trabalhados um é descontado da pena. Dos 104 “moradores” do CIS, 60% são condenados e 40% estão em regime de prisão provisória. “Os que estão aguardando julgamento não têm a obrigação de trabalhar. O fazem por opção, o que é muito bom”, afirma Anderson Cirqueira.

Mudança de filosofia

Todo esse trabalho só está sendo possível porque Cirqueira não se conformou com a situação encontrada quando assumiu o CIS há quatro anos: estrutura física precária, com capacidade para albergar apenas 36 presos e uma relação de animosidade entre carcereiros e encarcerados. O diretor incentivou a criação do Conselho da Comunidade em Execução Penal e peregrinou atrás de auxílio do Ministério Público, Poder Judiciário, Prefeitura, Governo do Estado e empresários.

Os resultados começaram a aparecer. No primeiro ano de sua gestão, Cirqueira conseguiu, através de doações, ampliar o presídio e criar espaços para frentes de trabalho. Ergueu também de forma privativa a ala feminina do presídio, até então inexistente. A partir do segundo ano, conseguiu atrair uma empresan de montagem de pasta de arquivo suspenso e empregou 50% da população carcerária. 13 mil pastas são confecciondas por dia.

A partir daí a engrenagem deslanchou: foi criada uma sala de aula (hoje com 16 alunos), igrejas foram convidadas a ministrar atividades com os presos e, principalmente, Prefeitura, Estado e outras empresas resolveram contratar mão-de-obra dos detentos. “Hoje, temos um presídio pacificado e presos que já planejam uma vida digna, de trabalho, para quando saírem daqui. Há uma relação de respeito. Nunca tivemos uma fuga nem rebelião”, comemora o diretor.

Hoje há dez máquinas instaladas no local: oito para confecção de calças e duas de cintos. Pequenas oficinas de marcenaria também oferecem suporte aos trabalhadores apenados. Há ainda uma cozinha industrial, onde oito presos, devidamente treinados pelo Senar, preparam toda a alimentação consumida no CIS. Os cozinheiros, que cumprem pena, são contratados pelo Estado. Antigamente, as refeições eram servidas em marmitex, oriundos da Prefeitura.

Alguns detentos trabalham em atividades fora do presídio: auxiliam a Prefeitura em creches, escolas, povoados, especialmente na construção civil. Mas também ajudam a fazer hortas e jardins. “Aqui dentro não terceirizamos nada. Trabalhos de encanamento, eletricidade, carpintaria, construção e serviços gerais, tudo é feito pelo presos”, garante Anderson Cirqueira.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 05/08/2013
Código do texto: T4420193
Classificação de conteúdo: seguro