Quem é o gigante que acordou?
Uma das frases mais vistas nos cartazes e uma das mais pronunciadas pelos milhares de manifestantes dos atuais protestos que tomaram conta do Brasil nas últimas semanas foi “o gigante acordou”. Embora tudo isso seja novo (pelo menos nas duas últimas décadas e para as novas gerações), já há um consenso entre analistas de várias áreas de que a maioria dos manifestantes é formada por estudantes universitários e do ensino médio.
É fato que os atuais protestos, feitos por multidões que “espontaneamente” tomaram as ruas de várias cidades, já entraram para a história. Passeatas são relativamente comuns no cotidiano das nações democráticas, mas algumas ganham destaques por causa da dimensão e importância que tiveram. Dois exemplos da história recente do nosso país são as manifestações populares chamadas “Diretas Já” (realizadas em 1984 pelo fim da ditadura militar e pela redemocratização do Brasil) e as “Fora Collor” (realizadas em 1992, pelo impeachment do ex-presidente da República – Fernando Collor de Mello).
Cada indivíduo, anônimo ou famoso, é parte viva da história da humanidade. Esta, no entanto, possui uma faceta que está diretamente ligada a feitos coletivos que viram marcas fortes (positivas ou negativas) e vão repercutir décadas e até séculos depois. As manifestações que estão acontecendo agora trazem um elemento novo para os brasileiros (mas já utilizado recentemente em outros países): a mobilização apartidária feita através das redes sociais da internet. Neste novo formato não há lideranças personalizadas em bandeiras de partidos políticos ou de sindicatos de classe.
Embora já se saibam alguns pontos de referência dessa mobilização popular, além da encampada pelo Movimento Passe Livre, os manifestantes estão nas ruas motivados por ideologias ainda não muito claras nem mesmo para sociólogos e cientistas políticos, que são especialistas que normalmente estudam este tipo de comportamento coletivo. Em Viçosa-MG, por exemplo, no dia da passeata que levou cerca de 5 mil pessoas para as ruas do Centro, uma pessoa ouviu duas adolescentes conversando à Avenida Santa Rita, uma delas convidando a outra para o manifesto. A convidada perguntou à amiga do que se tratava, e esta respondeu que achava que era uma passeata porque os estádios da Copa não estavam prontos.
Sejam quais forem as motivações, é certo que as pequenas multidões que têm ido às ruas nos quatro cantos do país e mesmo do exterior, carregando as mais variadas reivindicações, estão dando um recado claro a todos aqueles que fazem parte dos poderes constituídos em todas as suas esferas: não queremos ser o povo passivo que o mundo rotulou. Vale ressaltar que passivo e pacífico não são sinônimos. Promover atos violentos, vandalismos e saques, embora já se saiba que esta não é a tônica das manifestações, é um atestado de insanidade. Não conheço um só argumento convincente a favor da violência neste tipo de protesto. Quem argumenta desconhece a biografia de Mahatma Gandhi e todos os registros do que ele e milhões de seguidores conseguiram com a revolução pacifista pela independência da Índia.
Se o gigante que acordou é o do trecho do Hino Nacional que se refere ao Brasil, gosto bem mais da ideia de que tal gigante seja a consciência coletiva desta nação. Até porque um gigante que acorda pode voltar a dormir. Já a consciência quando desperta, dificilmente aceita adormecer novamente.