O PAÍS DO FAZ DE CONTA

Se o Brasil fosse um país sério, o assassinato da dentista Cinthia, queimada viva dentro do seu consultório, poderia abrir uma discussão. Infelizmente será apenas mais um assassinato. Mais um número para a estatística. Mais uma quadrilha presa entrando para presídios fábricas de crimes. Alguns voltando, pois tinham sido soltos pela justiça.

Enquanto nas grandes metrópoles brasileiras, a população vive um terror diário, em Brasília, nossos governantes vivem numa espécie de mundo da fantasia. Do faz de conta. Estamos gastando dinheiro construído estádios para meros trinta dias de futebol. Ou limpando favelas porque um papa tem de passar por elas na sua visita.

E se tem dinheiro sobrando para isso tudo, também deve ter dinheiro para fazer uma revolução no nosso sistema prisional. A atual situação dos nossos presídios é uma das desculpas dos que são contra mudanças. Esses se esquecem de que as duas estão entrelaçadas. E fazem pior quando deixam ficar como está.

Em pesquisas realizadas, a grande maioria dos brasileiros é a favor da redução da maioridade penal. Que segundo os políticos e magistrados, esbarra em emenda a Constituição. Nossa que dificuldade. Quando é a vontade do povo, a nossa Constituição mais parece um vaso chinês. Daqueles que deve se manter longe de todos. Corre o risco de quebrar.

O mais engraçado disso tudo, é que na semana passada, alguns deputados (leia-se Partido dos Trabalhadores), em menos de um minuto aprovaram uma PEC (Projeto de Emenda a Constituição), dando ao Legislativo, poderes para rever atos do Supremo Tribunal Federal. Uma perigosa ruptura entre os poderes da nação.

Insisto na minha tese. Não me importa se a presidente Dilma é contra a mudança. Ou o Ministro da Justiça. Ou alguns deputados e senadores. Eles não foram colocados lá pelo povo, para expressar a opinião pessoal. E quando agem desta maneira, transformam o Brasil numa ditadura. É preciso saber o que a maioria da população está querendo.

E não viver num país do faz de conta. Faz de conta que temos uma educação de qualidade. Faz de conta que nosso sistema de saúde é de primeiro mundo. Faz de conta que nossa segurança pública permite que você vá num cinema, num restaurante, ou passe por uma rua escura e pare num sinal fechado depois da meia noite.

Precisamos sair de casa com a certeza de que voltaremos vivos. E os responsáveis por essa certeza preferem ficar dando opiniões pessoais. Muitas vezes, se escondendo da população para não ter de dar explicações. Quando colocam o pé fora do mundo do faz de conta, correm o risco de se quebrar, também, como um vaso chinês.