Mensalão, roupas de baixo e malas de dinheiro
Recebi e-mail de um amigo, cuja parte final afirma:
“Ao longo dos anos, fui me convencendo de que parte expressiva dos dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT), com destaque para Lula, não tinha um projeto de sociedade para o Brasil. Havia quase que exclusivamente um projeto de poder. Portanto, atualmente, não há espaço para surpresa ou decepção. O fato é que Lula e o PT morreram. Enterremos Lula e, sem compaixão, deixemos o PT chorar os seus mortos. E que o espectro de Lula não ronde as esquerdas brasileiras nos próximos anos. Assim, poderemos reconstruir blocos consistentes de forças políticas efetivamente democráticas e populares. Lula foi uma aposta perdida".
Na mensagem eletrônica que recebi o trecho acima foi atribuído a Reinaldo Gonçalves, professor titular de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. A íntegra do artigo teria sido publicada no caderno Mais da Folha de São Paulo.
Não tive acesso ao artigo em sua completude, mas com relação ao que tive conhecimento tenho a dizer que, sinceramente, não acredito nisso. Não que eu ache que o PT seja o paladino da moralidade e honestidade; sei que não o é, porém não creio que Lula seja um corrupto ou um singelo sonhador. Pelo contrário. Percebo-o como um grande idealista que batalhou seus sonhos e busca realizações.
Não sou ingênuo ao ponto de pensar que o PT é imune a corrupções. Primeiro porque a corrupção, infelizmente, não é atributo exclusivo dos outros partidos, segundo porque não sou petista (nem filiado a qualquer partido político; sou filiado às boas idéias), tampouco iludido. Todavia, penso que é fundamental perceber a forma como os não-ocupantes da presidência da República e cargos anexos estão imbuídos numa empreitada para achincalhar o Partido dos Trabalhadores e fazer com que acreditemos que a aposta na "esperança em vez do medo" foi uma tolice. Decididamente, penso que não. Caixa dois já existia nos governos anteriores (tucanos, diga-se de passagem); compra de deputados também.
Não busco justificar um erro com o outro, mas pretendo dizer que essa massa parlamentar deplorável que atua nos rincões do País, principalmente no Planalto Central, é mero reflexo da nossa sociedade brasileira que prefere, em muitos casos, fazer parte de esquemas, recebendo sua parte, do que estancar a sangria de dinheiro público. Lamentavelmente, a maioria não quer apenas deixar de ser oprimida, mas passar a ser agente opressor.
O atual governo não mudaria radicalmente o Brasil em quatro anos. Claro que não! Humanamente impossível! É um processo de mudança e essa mudança está acontecendo. Se a crise política por que atravessamos guarda fortes semelhanças com um caos político é sinal que podemos colher bons frutos deste momento, lembrando sempre que a crise é uma ocasião de oportunidades, de saber criar alternativas e novos caminhos em face das adversidades.
Nunca na história brasileira tivemos tamanhas podridões expostas. Isso é progresso e demonstração que a democracia está funcionando. Resquícios imperialistas e coronelistas ainda temos, porém estamos avançando, não tenho dúvida. É preciso que cada um de nós, efetivamente, queira melhorar o País. Não basta que eu ou você venha a ter uma vida satisfatória. É preciso que eu e você (leia-se todos nós ou aos menos grande parte da população) queiramos (e criemos) melhores condições para todos.
Para não me alongar mais, sintetizo: é preciso que ajamos diariamente para um Brasil melhor para mim, para você, para todos nós, hoje e amanhã, para que os mensalões, roupas de baixo e malas repletas de dinheiro façam parte dos livros de História e museus sobre uma fase de faxina moral do nosso País.
Curitiba, agosto/2005.