O HOMEM QUE PENSOU QUE ERA ETERNO
Iris Rezende Machado já foi considerado o maior político da história de Goiás. Já teve a mão beijada por prefeitos, deputados e vereadores, que organizavam procissões em busca da benção de sua presença. Seus discursos, ardentes e laminados, eram ouvidos como se fossem preces. Iris já foi considerado modelo de gestor, a flor da modernidade. A simples menção de seu nome em uma cidade do interior de Goiás era motivo para polvorosa. Sua chegada era saudada com bandas de música, trovas, flores.
Sua liderança não era contestada: era seguida como se cumpre um mandamento. Era sempre envolto em uma multidão, como os mais de 20 mil militantes que se aglomeraram no pátio do Palácio das Esmeraldas, no dia 15 de março de 1991, quando Iris tomou posse como governador do Estado pela segunda vez.
Sua carreira, iniciada na década de 1950, foi fulminante: eleito vereador em 1958, deputado estadual em 1962 e prefeito de Goiânia, em 1965, batendo o ex-governador José Ludovico. Cassado pelo regime militar em 1968, transformou-se num símbolo da resistência em Goiás. Em tempos de trevas foi o homem a fazer faíscas, breves faíscas para que o escuro não se tornasse um vício.
Em 1982, a primeira eleição direta para governador, após jejum democrático estabelecido pelos homens de farda. Iris, pelo PMDB, teve como oponente Otávio Lage, ex-governador, pelo PDS. Iris representava o sangue novo, Otávio o regime de chumbo. Urnas abertas. Iris conquista expressiva vitória: 964 mil votos contra 470 mil de Otávio Lage. Nos braços do povo, sob forte esperança, chega ao Palácio das Esmeraldas.
Para não alargar mais a história: Iris fez seu sucessor, Henrique Santillo, em 1986; se elegeu novamente governador em 1990; emplacou Maguito Vilela como sucessor e herdeiro em 1994, mesmo ano que se elegeu senador. Foi ministro por duas ocasiões: da Agricultura, de 1986 a 1990; e da Justiça, de 1997 a 1998. Como governador de Goiás fez história construindo estradas, casas populares, eletrificação, escolas e hospitais. Este é o resumo de sua glória.
O ocaso
Como todo carnaval tem seu fim, o de Iris chegou. A fórmula mágica esgotou. Em 1998, quando em eco, toda a militância do PMDB escalava o então governador Maguito Vilela para concorrer à reeleição contra o então inexpressivo Marconi Perillo, Iris disse não. Ignorando o apelo, vestiu a armadura e foi a luta. Fez o impossível: perdeu a eleição para aquele que se tornaria seu algoz.
Em 2002 a chance da redenção: duas cadeiras em disputa para o Senado. Favorito a uma delas, perde de novo. Lúcia Vânia e Demóstenes Torres vencem. A vergonha se abate sobre o veterano peemedebista. Insistente, Iris consegue renascer das cinzas em 2004, sendo eleito prefeito de Goiânia após quatro décadas. Faz uma grande gestão e consegue se reeleger em 2008, com ampla vantagem. Momento ideal de pendurar as chuteiras e sair por cima? Iris quer mais, renuncia à Prefeitura na metade do caminho, deixando o PT no poder. Quer dar a forra em Marconi Perillo e o enfrenta novamente na disputa pelo governo do Estado, em 2010. Perde mais uma vez.
Hoje, aos 79 anos de idade, com algumas limitações de saúde, contestado, Iris tem ainda uma oportunidade de não ser escorraçado pela História. Liderar a oposição, juntar tantos diferentes em uma mesma raia e construir um projeto que se oponha ao governador Marconi Perillo, que deve tentar o quarto mandato, em 2014. Mas fazer isso em torno de um nome que não seja o seu: forjar uma nova liderança, capaz de cair nas graças do eleitorado goiano, já cansado de mais dos mesmos.
Considerando o canibalismo político que praticou com todos que atraiu para o seu PMDB não é o momento de ter esperanças. Iris seduziu e asfixiou Henrique Meirelles. Fez o mesmo com Vanderlan Cardoso. Pode repetir a dose com Júnior Friboi. Iris precisa entender que não é mais o ícone que foi nos anos 1980 e 1990. Seu discurso ficou rouco. Sua libido política não seduz mais como antes. Sua imagem, antes sacra e imbatível, é hoje refutada, ignorada como algo a ser reverenciado mais pelos livros de História do que pelos matutinos. É um deus a quem não se ergue mais altares. Seu carisma envelheceu, assim como o homem que é, de rugas e fadigas. Tem muito mais a celebrar olhando pelo retrovisor do que pelo parabrisas.
É tempo de parar. Colher os frutos das vitórias e os espinhos das derrotas. Passar o bastão. Saber-se finito, confessar suas dores, ter ciência que seu legado, imponente legado, já está coberto pelo verniz do tempo. Parafraseando o genial Charlie Chaplin, no filme O Grande Ditador: não sois Deus, homem é que sois.