DESCOBRINDO MINHA AKBAR

“O sentido de nossa vida é sempre aquele que desejarmos dar a ela “

Uma personagem do livro “O Monte Cinco”, de Paulo Coelho , conta que, a partir de um determinado dia, passeando por sua cidade, Akbar, passou a reparar na beleza do vale, na silhueta escura das montanhas projetando-se contra o céu, na lua que muda para que o trigo possa crescer, no choro das crianças recém-nascidas, nas cantigas dos homens que tinham bebido depois do trabalho, os passos firmes dos sentinelas em cima da muralha.

E, então, se perguntava: quantas vezes já vira aquela paisagem, e não reparara como era bela, quantas vezes olhara para o céu sem notar que era profundo, quantas vezes escutara os ruídos de Akbar à sua volta, sem perceber que faziam parte de sua vida ?

Eu tenho andado assim, depois que comecei fotografar.

Iniciado nesse mundo fantástico por certa maga da escrita com a luz , Elza Rossato, passei a descobrir, em todas as coisas, a beleza com que Deus harmoniza as cores e as formas, até nos mais simples detalhes de tudo que compõe nosso universo.

Os místicos acreditam que nossa vida se renova em ciclos de sete anos.

Eu tenho sentido isso em minha vida, mas, confesso, cheguei a pensar nos meus 57 anos — sendo 56 múltiplo de sete — que eu iria mudar de ciclo sem nenhuma alteração em minhas atividades de educador, escritor, poeta e jornalista.

Ledo engano.

A fotografia possivelmente tomará conta, no mínimo, dos meus próximos sete anos: entrei no ciclo das luzes, das cores, dos contrastes, das nuances do PB (preto e branco), das milhares de possibilidades do photoshop, das Nikon e similares, das belezas do mundo da fotografia digital.

Estou vendo o mundo através das lentes de uma D70: e estou gostando muito do que estou vendo e capturando.

Aprendi a capturar, prender, deter, aprisionar imagens, para, depois, divulgar, soltar, expor tudo aquilo que capturei — muitas vezes solitariamente — para centenas de pessoas, buscando dividir com elas o prazer do ver o antes nunca visto — pelo menos nunca visto com eu vejo através de minhas lentes.

Capturar momentos, capturar expressões, capturar detalhes ínfimos, capturar as luzes e as cores extravagantes de um alvorecer, capturar avidamente o agora, e possibilitar a ele perpetuar-se na tela do computador, está sendo para mim uma forma de oração, uma forma de viver que me permite estar sempre lembrando de que o grande arquiteto está em constante processo de criação e que eu, na minha insignificância, sou capaz de perceber e registrar esses pequenos grandes milagres que nos rodeiam.

Descobri minha particular Akbar.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

DIRETOR DO GRUPO AMIGOS DA FOTOGRAFIA

PRESIDENTE DO ABERTURA FOTOVIDEOCLUBE

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 19/03/2007
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