DEFINITIVO: AS LIÇÕES DO INEVITÁVEL
“Você não sabe o que diz , respondeu o anjo. Não há tragédia, mas o inevitável. Tudo tem sua razão de ser: você só precisa saber distinguir o que é passageiro do que é definitivo”
O Monte Cinco – Paulo Coelho
Dez horas da noite, depois de uma viagem confortável de pouco mais de cinco horas, e de seis dias na praia, com muito mar, muito sol, muita areia, muito vento, voltei para enfrentar, revigorado, mais um ano letivo: 2007.
Desci do ônibus, e, ainda sem descarregar a bagagem, ouvi de minha filha : bati seu carro.
Ela, depois, confessou-me que esperava de minha parte uma reação diferente da que tive, que foi dizer a ela: tudo bem , vamos resolver esse problema.
Já no dia seguinte, após uma noite bem dormida, resolvemos como seria a nossa semana sem meu automóvel: quem buscaria, quem traria, onde almoçaríamos, como seriam cumpridos os compromissos assumidos, quando o seguro autorizaria os serviços, e tudo o mais.
Um fato desse tipo poderia ter-me levado a ofender minha filha, a brigar com meu genro — que estava dirigindo meu carro no momento do acidente — a ficar de mau humor e me desentender com minha esposa, a justificar minha ausência, no primeiro dia de aula, e com isso desagradar ao meu patrão , e assim por diante.
Mas não.
Usei a situação para ver e conversar, por mais tempo, com a minha filha que, casada, e com um trabalho que exige muito dela, nem sempre tem tempo para conversas mais demoradas. Usei a situação para prestar, e receber dela, pequenos favores, o que nos fez sentir o quanto ainda precisávamos um do outro. Usei o ocorrido para refletir sobre o quanto é bom ter um veículo só nosso para nos deslocarmos para o trabalho — e nem percebemos o quanto ele faz parte de nossa vida.
Tirei lições do inevitável.
É preciso que , na prática, saibamos sempre que o inevitável é sempre passageiro, e que o definitivo são somente as lições que podemos aprender com o inevitável.
Enfim, Maktub.
Eu creio que tudo está escrito, tudo que tiver que acontecer, acontecerá, restando a nós, como livre arbítrio, decidir como reagir diante de fatos inevitáveis.
Aprendi a acreditar, e isso sempre me fez bem, pois de nada adianta a revolta diante de um infortúnio qualquer, tendo em vista que, neste mundo , somos filhos do dono,e, como tal, precisamos estar conformados com seus insondáveis desígnios.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO