Reinventando o Quarto Poder
Nada pior para começar o dia do que aula de niilismo (total e parcial) na telinha corruptora de mentes, alienadora e fonte de renda através de conchavos de bastidor. Pense numa receita perfeita: junte um representante da segurança pública sobre holofotes, um apresentador “berrando” por audiência e um jornalista polêmico intermediador; pronto, o tempero está completo.
Neste quadro, o que confunde a mente não é a junção dos protagonistas acima, mas as justificativas eloquentes sobre o tema violência social. Tema antigo, batido e rabiscado diariamente para uma sociedade que se deixa levar, muito facilmente, por opiniões desta telinha empobrecida e antagônica, isso numa visão sem modernidade que vê apenas o telespectador como uma realidade extensa e sem inteligência, fugindo assim do conceito essencial e evidente da relação que trata daquilo que se passa no dia-a-dia em confronto com o que é levado ao ar através da fala da televisão.
Segundo o representante de segurança, para solucionar os problemas sociais “precisamos reinventar a sociedade” (sic). Quando se fala em reinventar a sociedade, automaticamente se fala em reinventar o Estado. Nunca haverá reforma social sem reforma das instituições e o papel do Estado diante do caos social, seja no âmbito da segurança, educação , saúde e falta de apoio à cultura e entretenimento da sociedade. O que se precisa neste país é “reinventar conceitos”, principalmente nos meios de comunicação. Estes precisam urgentemente dar um basta na prioridade de suas grades aos frutos do caos social como fonte principal de ibope - principalmente diante da comoção do ente perdido.
Novos conceitos em busca de audiência poderiam levar ao ar o lado positivo de ações que engrandecem a autoestima do povo (sem vínculo político partidário); principalmente nas primeiras horas da manhã. E por favor, não confundir grade educativa e incentivadora de comportamentos evolutivos com programas evasivos de “Vida de Artistas”. De coloração e cortes de cabelo de celebridades já estamos fartos!
Levando-se para o lado didático e em consideração de que toda a sociedade tem seus pilares definidos em uma constituição de valores e na invenção e reinvenção de mundo próprio, não podemos ficar calados diante de velhos clichês jornalísticos que tentam moldar a visão do caos do mundo como se a televisão não tivesse parte nessa responsabilidade. Frases batidas em programas televisivos, tais como: “temos que ter cuidado com nossos telespectadores” nos mostram que apresentadores tentam camuflar a mais perversa aberração midiática: a propagação da violência através da banalização de atos violentos nos programas (principalmente policiais), contribuindo para o aumento da violência urbana. Num conceito técnico, se resumiria na seguinte citação: “o emissor manejaria capacidades onipotentes, a partir de suas mensagens, para produzir efeitos (publicitários, comportamentais, ideológicos, políticos, educativos etc.) nos indefesos e passivos televidentes”.
O que é mais preocupante neste quadro matinal é deduzirmos que, fora o “rasga-rasga” da vida midiática, apresentadores de programas policiais se comportam como pessoas totalmente desprovidas de conceitos sobre as consequências de suas funções neste “mundo-cão” de interesses midiáticos.
Pior que isso, só telespectadores passivos diante da propagação da violência nas nossas manhãs, principalmente aqueles ligados a direitos de crianças e adolescentes.