CARNAVAL NUM RIO
“É o povo que faz a marca desse país. Risonho, capaz , feliz “
Samba-enredo da Portela 2006
Depois de quase quarenta anos vendo desfilarem os Acadêmicos do Jardim Paulista, desde a década de 60, na esplanada do Pedro II, sob o comando de Raimundo Caldas Durão, fui ver de perto o Carnaval de rua de Ribeirão Preto, na avenida Mogiana, como fotógrafo do Grupo Amigos da Fotografia.
E vi o mesmo Carnaval: pobre, sofrido, com suas alas parecendo queijo suíço por falta de um maior número de integrantes, alguns personagens grotescos, cambaleantes, quase zumbis, percorrendo a avenida; crianças sonolentas e chorosas, e em algumas escolas, comissões de frente formando massa única com mestre-sala e porta-bandeiras; alegorias, carros e fantasias, pouca técnica e enredos sem muita criatividade, apesar dos esforços hercúleos despendidos pelos carnavalescos.
Mas vi, também, os responsáveis por um Carnaval assim, tão abandonado e sofrido, continuarem sobrevivendo: jovens sambistas — que mesmo sobre a enxurrada que transformou em rio o nosso sambódromo improvisado, apresentavam-se freneticamente — seguidos da ala das baianas — alma de qualquer escola de samba que se preze, — e as baterias, vozes clamando no deserto por uma ajuda oficial e apoio dos empresários de uma região tão rica como a nossa.
Vi desfilarem o Afoxé Omo Orumilá ao som de uma saudação aos Orixás, seguido das brincadeiras da Camisa 12 Corinthiana e, depois, os 40 anos dos Embaixadores. A Camisa Preta e Branca “navegou” sob um pé d’água que lavou literalmente Iemanjá e a Bahia. Os Bambas mostraram um Carnaval refletido no chão molhado da avenida, e o temporal voltou a saudar a Tradição e abençoar sua tentativa de preservação ambiental.
Minha Nikon D70 procurava registrar a essência, as cores, as luzes, os brilhos, os destaques, atraída, principalmente, pela energia de alguns componentes que cantavam a plenos pulmões e me faziam lembrar que aquilo era uma festa, uma festa do povo, que, acomodado nas arquibancadas, cantava e dançava, mesmo depois da chuva.
Mas o Carnaval ribeirãopretano, mais de cem anos depois, está precisando de um Cassoulet, um Cassoulet atraído pelas riquezas da cana-de-açúcar. Precisamos de alguém que ame esse espetáculo — que só perde no gosto popular para o futebol — e o transforme num grande espetáculo, incentivando o turismo carnavalesco fora do eixo São Paulo-Rio: e “é preciso buscar o modelo de gestão de SP e Rio para conquistar patrocínio”, como afirma Milton da Silva, presidente da Liga Ribeirãopretana de Carnaval.
A Prefeitura Municipal e a Secretaria da Cultura, mesmo com muito esforço, não conseguirão, sem apoio da comunidade, dar às escolas barracões para seus ensaios e promoção de festas para arrecadação de verba no decorrer do ano: quesitos fundamentais para a existência de um grande Carnaval.
Sem patrocínios suficientes, as acomodações da imprensa, e até dos jurados, continuarão a ser precárias: goteiras enormes nas coberturas existentes, falta de sanitários decentes, um tablado reservado ao Rei Momo e sua corte, mas declarado “de risco” pela própria comissão organizadora.
Quanto aos funcionários da Secretaria da Cultura que trabalharam no local — com exceção de uns poucos que o tempo todo se mostraram solícitos e sorridentes, de acordo com o clima exigido para um Carnaval — ficam no local com humor de cão, procurando de toda a maneira estragar a noite de quem , como eles, também está trabalhando, na cobertura do evento.
Exemplo de alegria, disponibilidade e simpatia foram o Rei Momo, Ânderson Silva, a Rainha, Fabiana Muniz, e suas princesas: sinônimos de realeza em alto nível, no trato com o público e fotógrafos que cobriram a festa.
Enfim, fica para 2008 — desejando que se transforme em profecia — a esperança de que prevaleça, em cada coração que ama a valorização da cultura em nossa cidade, e trabalha por ela, o desejo de que tudo seja melhor nos dias de folia.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO