CURIOSIDADE
CURIOSIDADE
Por Aderson Machado.
A casa de meu pai era bastante ampla, tendo muitos quartos, cozinha, sala, saleta, um salão, e, ao lado deste, havia a famosa bodega, onde se vendia um pouco de quase tudo. E por falar em bodega, havia, acima desta, um sótão, que era uma espécie de primeiro andar.
Sendo ainda muito criança, não havia como eu ter acesso a esse sótão, o que era feito através de uma velha escada de madeira. O fato é que eu tinha medo de subir nessa escada, pois temia cair dela, e aí as consequências poderiam ser terríveis. Ademais, por precaução, a dita escada sempre ficava escondida, longe do nosso alcance, porquanto meu pai temia ou suspeitava que algum de nós, meninos, tentasse, às escondidas, subir nessa escada por qualquer que fosse o motivo, no que ele fazia muito bem, pois nenhum pai, que tenha um pouco de juízo, nunca sabe o que se passa na cabeça de uma criança.
Voltando ao sótão, com o passar dos tempos, eu comecei a ficar curioso a respeito do que poderia haver de tão “importante” dentro dele. Aliás, poderia até não haver nada. Mas, de qualquer maneira, fiquei alimentando a vontade de subir ao velho e misterioso sótão pra ver, “in loco”, o que havia dentro dele. Essa curiosidade perdurou por alguns anos, até que tivesse a maturidade suficiente para subir na escada com um mínimo de segurança para ter ao sótão. Na verdade, queria porque queria saber que diabos havia lá em cima, pois pai nunca nos contou nada a respeito, e eu, por minha vez, nunca perguntei nada, receoso de levar um fora, e ficar com a cara mexendo, como se diz na gíria. Afinal, o que eu queria era descobrir por mim mesmo o que havia armazenado de tão interessante nesse sótão de difícil acesso, pelo menos para nós, meninos.
Mas esse suspense um dia acabou. Finalmente. Não me lembro quantos anos eu tinha – talvez uns seis – quando concretizei esse “velho” desejo, quicá meu primeiro desejo de menino. Um menino curioso, diga-se de passagem.
Fiz isso de forma sigilosa, sem o conhecimento de meus genitores nem de meus irmãos, pois era consciente de que meus pais não iriam gostar nada em descobrir essa minha aventura.
Na verdade, na verdade, o sótão nada mais era do que uma espécie de arquivo morto, onde só existiam objetos usados e sem praticamente nenhum valor comercial ou afetivo.
Mas, afinal, o que foi mesmo que eu encontrei dentro dele?
Conforme já deixei bem claro, nada de nenhum valor. Encontrei, por exemplo, cangalhas velhas, pedaços de cadeiras, peças usadas e quebradas de motor, latas vazias de óleo de motor a diesel, enfim, uma verdadeira bagaceira foi o que lá encontrei!
Mas o pior de tudo é que lá dentro existia um esconderijo de morcegos, que por pouco, muito pouco mesmo, não sugaram o meu sangue. Se assim o fizessem, e eu não estaria escrevendo estas memórias.
Teria morrido no nascedouro, vamos dizer assim.
Motivado por curiosidade...