Sim, eu sinto raiva.

A vitalidade humana ou a simples ideia de estar vivo é fundamentada em elementos que possibilitam isso. A veia que pulsa, o coração que bate, o funcionamento do cerebro e tudo aquilo que nos torna uma máquina biológica, desde o crescimento das unhas até a queda do cabelo. Contudo, existe uma grande ponte entre estar vivo e se sentir assim. Há também elementos que nos fazem nos sentir assim, os quais o homem nomeou de sentimentos.

Bons e ruins, intensos e nem tanto assim existem os mais variados tipos e concluo que independente daquilo que se sente é atrás deles que estamos, que acordamos todos o dias, que sonhamos, claro que falo daquilo que é bom, mas o que percebo é que sentimentos ruins também nos da a sensação de estarmos vivos e muitas vezes é aquilo que nos resta é aquilo que sobrou pro sabádo a noite. Talvez sem intenção, mas damos vida aquilo que nos maltrata para estarmos um pouco mais vivo que ontem.

Determina vez, ou determinadas vezes estive com raiva diante de algo que ocorreu ali naquele momento ou até quando me lembrei de um instante de dois anos atrás. Houve raiva a coléra e percebi que toda vez que tenho raiva, toda vez que alimento isso eu tenha a péssima mania ou toque de morder a parte interna dos meus lábios inferiores, chega a ferir, chega a sangrar. Com isso percebi que quando estou com raiva de alguem, de um fato, de uma situação o único que se fere sou eu. Sou eu quem carrego o fardo, sozinho com doses homeopáticas de sangue.

Não é necessário discutir tanto a respeito, em qualquer pesquisa científica é possível comprovar as enfermidades que a raiva nos traz, ou alguem aí nunca ouviu falar da tal gastrite nervosa? E dos canceres ou de algum disturbio meio que vampiresco de tirar mesmo que bem pouco sangue de nós mesmos. É o fardo que se carrega por esse tipo de sentimento que nos faz sentir vivos enquanto estamos nos dedicamos a ele, mas que mata, que envenena. Não só fisicamente, também na alma. Não sei quem inventou, ou quem desperto isso, nem o porquê. Não existem remédios para controlar a raiva, terapias bem provável que haja, mas ela existirá eternamente. Nossa resposta a isso, talvez um chá, uma música, uma prosa mas isso não basta. Tem de ser algo botado pra fora. E é isso que quero fazer. Eu sinto raiva, dos outros e principalmente de mim, da minha falta de coragem, da minha fé soluvél, da miséria, do abandono, de não entender porquê tem gente morando na rua, porque tem gente comendo lixo. Eu sinto raiva quando falam mal de Deus. Eu sinto raiva quando a fé perde o valor, mesmo que se dissolva as vezes tem sempre mais de onde tirei. Eu sinto raiva e mordo os lábios. Mas eu amo, já amei e sempre vou ter algo e alguns para amar e será através dele que meus lábios deixarão de sangrar.

Falar da nossa raiva, daquilo que nos machuca. Perdoar. Relevar. Esquecer? Não, impossível. Superar. Buscar sentimentos. Acreditar nas pessoas. Mudar. Aperto de mão. Sorriso. Rir de si. Só rir. Celebrar. Se lembrar do que há de bom. É não deixar a raiva tomar o lugar que não é dela da nossa vida. Continuemos sentindo, continuaremos assim e estaremos sempre lembrando que existe algo para mudar, em nós e no mundo que vivemos.

Gabriel Antunes Ferreira
Enviado por Gabriel Antunes Ferreira em 06/12/2012
Código do texto: T4023273
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.