O MESSIAS NEGRO BRASILEIRO

O ministro Joaquim Barbosa, que chegou em novembro à presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), é um homem iluminado. Merece ser admirado e elogiado por todos nós brasileiros. Filio-me entre seus fãs. Estendo minha admiração, no entanto aos seus dez colegas de toga.

A recente idolatria a Joaquim Barbosa é fruto de dois fatores: por ser negro e se destacar numa seara de brancos e por ser o relator da Ação Penal 470, conhecida como Julgamento do Mensalão. Barbosa tem elevado saber jurídico e conduta comprovadamente ilibada, qualidades que também acompanham os outros ministros do STF. Barbosa ganhou os holofotes por se mostrar incisivo em suas posições durante o julgamento, que vem gozando de ampla repercussão na mídia brasileira. Naturalmente, o relator, fosse ele quem fosse, iria aparecer mais que os outros ministros.

Condenar figuras poderosas da política brasileira a cadeia é algo novo e que pode inaugurar um novo modelo de combate à corrupção. É um processo que leva tempo para amadurecer dentro do escopo social. Não se resolve apenas por vias jurídicas. É preciso incutir no corpo cultural da nação que levar vantagem por meios escusos é crime e não esperteza. Mesmo assim é um caminho que se abre e rendo loas a isso.

Acontece que o brasileiro tem necessidade de ter um salvador da pátria, um messias. Como vivemos à época do politicamente correto e regidos por tantas cotas, Joaquim Barbosa foi eleito o Cristo do momento, o redentor, o grande inquisidor. Vejo com certa cautela tal prisma. Acho mais coerente saudar o STF como uma instituição arrojada e que vem fazendo história no País.

Só para acessar os últimos anos, temas importantes foram decididos de forma lúcida pelos onze ministros do STF. Enumeremos: progressão do regime prisional, fidelidade partidária, Lei da Ficha Limpa, proibição de nepotismo na administração pública, interrupção de gravidez de feto anencéfalo, uso de células-tronco embrionárias e relações homoaetivas, entre tantas outras batalhas históricas.

Só para se fazer justiça, é bom que se lembre que o ministro responsável pelo Julgamento do Mensalão é o recém-aposentado Carlos Ayres Brito, que com poucos meses de presidência pela frente, teve coragem e ousadia para colocar em pauta a questão, inédita até então no País. Além disso, conduzir o STF e o próprio julgamento, mantendo correção e equilíbrio é tarefa para poucos. São muitos interesses e egos inflacionados numa mesma arena. Ayres Brito soube serenar os ânimos quando foi preciso. Soube incitar a ação quando a ocasião assim exigia. Sai pela porta da frente.

Joaquim Barbosa, mais que um grande ministro, é um símbolo da pátria. Assim como Lula é o pobre, nordestino, retirante que deu certo e chegou a presidente, Barbosa é o negro, pobre, que estudou muito e chegou a presidente do Poder Judiciário. São modelos inspiradores, cada qual ao seu modo. Não devem ser muletas ou patuás, no entanto. Ter um negro como presidente da mais alta corte do País não corrige séculos de preconceito, segregação e maus tratos aos negros brasileiros. É uma exceção, não a regra.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 01/12/2012
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