HÁ MENSAGENS NOS SONHOS?
De tempos em tempos aparecem pesquisadores afirmando que os sonhos nada mais são do que resíduos sem significações das atividades cotidianas, chiados da mente. Embora respeitando essas opiniões, penso de maneira diferente.
Todos conhecem a história do profeta José; existem até desenhos animados sobre ele. Sua vida é contada a partir capítulo trinta e sete do livro “Gênesis”, livro primeiro do Velho Testamento. Percebe-se com a leitura da história do filho de Jacó, que ele era dotado de um dom muito especial: a habilidade de interpretar sonhos. Em um dos seus mais espetaculares momentos proféticos, pôde interpretar com exatidão os sonhos do Faraó, “as sete vacas gordas devoradas por sete vacas magras, as sete espigas de milho boas devoradas por sete espigas de milho ruins”. Concluindo em sua interpretação que sete anos de escassez se seguiriam a sete anos de fartura.
Os sonhos, elementos de criação, jamais deixaram de fascinar a humanidade. Obras máximas da Arte, como a “Divina Comédia” de Dante Alighieri são frutos dessa experiência que nos toma boa parte da vida, pois a terça parte dela passamos dormindo. E quantos e quantos sonhos tivemos desde o útero até a última noite? Será que de alguma forma os sonhos nos influenciam?
Nossa consciência não é um monobloco onde fluem pensamentos, é um composto de muitos estados de consciência. Se você está lendo este texto, então estará no estado de vigília (acordado e concentrado) e boa parte da sua capacidade criativa permanecerá inibida – o estado beta não rima com alturas. As pesquisas com eletroencefalograma (EEG), um medidor da atividade elétrica cerebral, demonstraram que existem quatro padrões de ondas elétricas isoladas e associadas ao cérebro. São as ondas alfa, beta, teta e delta.
1. Alfa: Estado de profundo relaxamento, mas o indivíduo permanece desperto.
Ponha “Noturno” de Chopin na vitrola e espere o resultado. Einstein entrava facilmente nesse estado, “surfando” nas ideias em seus momentos de relaxamento no Escritório de Patentes de Berna, cidade da Suíça. Segundo o Método Silva de Controle Mental esse estado pode ser controlado.
2. Beta (lê-se béta): Na maioria dos cérebros adultos normais em estado de vigília é esse o padrão encontrado. É o pensamento concentrado, organizado, planejado, etc. Serve para organizar em padrões as informações da mente, e não para gerá-las.
Para quem leu o poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa, saberá que o “Esteves sem metafísica” perambulava por essas bandas...
3. Teta (lê-se téta): Aqui se dão os sonhos e o REM, traduzido por movimento rápido dos olhos.
Muitos se intrigam da razão de movimentarmos os olhos quando sonhamos. A resposta talvez seja bem simples. Quando assistimos cinema, nossos olhos vão a muitas direções das cenas, acompanhando as movimentações na tela. Quando sonhamos, acompanhamos a movimentação dos nossos sonhos com os olhos. Não sabemos que estamos sonhando, logo, nossos olhos se movimentam na direção das cenas que só existem no mundo mental, mas procuram visualizá-las como se fossem do mundo cotidiano. É um reflexo condicionado inato.
4. Delta: Padrão encontrado no sono profundo e sem sonhos.
Há relatos de sábios da Índia e Tibete que controlam esse estado ainda misterioso para nós do Ocidente.
Para Carl G. Jung “os sonhos são as manifestações não falsificadas da atividade criativa inconsciente”. Temos dentro de nós algo como se fosse nosso pai. Um bom pai jamais falará com rispidez acerca de determinada falha ou percepção equivocada de seu filho. Irá contornar. Usará um jeito especial, alegórico, para expressar as correções necessárias. Talvez intuindo isso os gênios da Poesia desenvolveram as fábulas. Se o pai assim não agir, poderá jogar álcool, pensando ser água, no fogo que estava brando. É assim que o nosso Eu Maior se comunica conosco, desenvolve um enredo para assistirmos como se estivéssemos fora de nós mesmos. Ao assistirmos o sonho – esse filme farto de mensagens subliminares –, deveremos procurar as pistas para formar o conjunto, que não será algo sem sentido como muitos pensam, mas significativo e revelador daquilo que procuramos reprimir em nosso estado de vigília. São doses homeopáticas de nós mesmos.
Essas doses homeopáticas (sonhos) ocorrem no começo ou no final do sono. Muitos artistas, filósofos, cientistas, inventores e psicólogos deixam um bloco de notas ao lado de suas camas. Quando acordam, no começo ou no final do sono, eles anotam tudo o que conseguem se lembrar. Até podemos adivinhar como estava o físico Erwin Schröndinger, numa cabana nos Alpes Suíços, ao descobrir a ferramenta matemática essencial para aquilo que se denominou Mecânica Quântica. Com desejos de bons sonhos,
Vitor Silva.