SÍNDROMES DE MORTE

No início do artigo “EU SOU...”, referi-me a dois títulos que ainda não haviam sido acessados por nenhum leitor. Discorri sobre um deles e agora chegou a vez do outro.

Nos dois ou três últimos decênios do segundo milênio, e galopando velozmente nos primórdios do terceiro, duas síndromes avassaladoras tomam conta do nosso planeta: a síndrome do umbigo e a síndrome do barulho. Altamente virulentas e contagiosas, apresentam índices de mortalidade alarmantes, de maneira especial no seio das famílias.

A SÍNDRME DO UMBIGO relaciona-se com a pessoa egocentrada e egoísta que adquiriu a capacidade (?) de vergar-se sobre si mesma, não tirando os olhos desta cicatriz marcada no seu corpo desde o nascimento. Em princípio esta sintomatologia seria praticamente inócua, visto que não apresenta maiores efeitos. De certa forma, até traria à “memória inconsciente”, lembranças de um tempo de maré-mansa e vida fácil, de conforto e comodidade, no hotel seis estrelas do útero da mamãe. Em contrapartida, corre-se o sério e grave risco de desejar ardentemente uma identificação atualizada deste estado, voltando-se inteiramente para si, em detrimento do próximo. Quando olhamos para o umbigo não enxergamos mais ninguém, porque ao curvarmos o nosso tronco todo o nosso olhar direciona-se para aquele ponto determinado. Com esta atitude não só excluímos as pessoas, mas deixamos de olhá-las “olhos nos olhos”, como diz o poeta Chico. Além de ser triste, dói.

A SÍNDROME DO BARULHO, esta então, o que falar?! O ser humano vai perdendo pouco a pouco, mas numa velocidade alta e constante, a aptidão de lidar com o silêncio. Os ruídos rondam-no diuturnamente e a cada segundo. Antes de ligar a ignição, o som do carro já está ligado; mal abre a porta do escritório, o controle da televisão é acionado; nem mesmo acabou de chegar em casa, o “stand by” do DVD desassossega; lazer sem colunas de som no tração quatro rodas, nem pensar. Sem detalhar as buzinas, as lojas comerciais, veículos de propaganda, restaurantes, clubes recreativos... Enquanto os decibéis, centibéis e milibéis, ensurdecem os ouvidos do corpo, da alma e do coração.

O homem tem medo do silêncio! Nove meses de aprendizado intra-uterino não lhe bastaram como lição. Inquieta-se, agita-se, quando o barulho cessa. Que estranho! Porque é no silêncio que ouvimos o canto dos pássaros, a música da chuva, a poesia dos ventos, o murmúrio das águas, as cantilenas das noites e até as batidas do coração. É no silêncio que nos encontramos com Deus e Deus se deixa encontrar. É ainda no silêncio, e somente nele, que podemos ouvir as angústias e ansiedades, a solidão e a amargura dos nossos irmãos. Torna-se imprescindível calar “fora” e calar “dentro”.

Todo este prefácio para chegar ao tema do enfoque, parodiando “o poetinha: “Os calados que me desculpem, mas o DIÁLOGO1 é fundamental”. Se você carrega estas duas síndromes, cuide de descarregá-las em algum lugar que se faça inacessível depois. Enquanto esta decisão permanecer nos seus braços cruzados, o diálogo será impossível. E a sua família acarretará com as mais drásticas conseqüências. A culpa recairá sobre vocês – pai e mãe – que não pararam para escutar os seus filhos; porque o barulho ensurdecedor dos apelos do mundo tornaram-nos surdos às suas vozes carentes e querentes de carinho, atenção, ternura e amor; porque vocês se envergaram tanto, tanto, tanto, olhando para o umbigo, que a coluna arqueou e deformou-se irreversivelmente, não mais tendo a possibilidade de olhá-los “olhos nos olhos”, visto que as tortuosidades dos caminhos já os engoliram como lobo voraz.

É chegado o tempo de repensar o “pensado” dentro de uma nova perspectiva de vida relacional e familiar. Não somos ilhas. As síndromes existem e estão aí bem vivas, infectando e contagiando o mundo. Os seus índices de mortalidade são avassaladores. Para combatê-las, até hoje e para sempre, só existe uma vacina: o diálogo. A opção é sua: viver ou morrer.

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 09/06/2012
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