A idade e a sabedoria

A IDADE E A SABEDORIA

No passado, idade era sinônimo de experiência e sabedoria. Os sábios e os filósofos, por exemplo, são sempre retratados como homens idosos, de cabelos e barbas brancas, passo lento e voz pausada. Por isso eram respeitados e venerados como paradigmas da sociedade. Cabelo branco era sinônimo de distinção.

Idade sempre foi sinônimo de experiência, o que levou o personagem Martin Fierro a afirmar que “o diabo sabe mais por ser velho do que por ser diabo”.

Hoje isto se inverteu. Neste início de século XXI por dominarem as tecnologias da informática, da web, dos computadores e dos celulares de última geração, crianças, adolescentes e jovens se converteram na figura arrogante, e nem sempre simpática, do “sabe tudo”. Há tempos li uma cronista falar em “anões intelectuais”, referindo-se a esses sabichões mirins que gostam de exibir domínio, e que numa reunião com os adultos costumam falar alto e polarizar o assunto para demonstrar sua sapiência.

O fato é que a maioria dos jovens hoje tem pouco respeito pelos velhos (e sua sabedoria), ridicularizando-os. Não sabem eles que, se sobreviverem, um dia serão idosos com todas as limitações que a idade impõe. Em consequência desse confronto, muitos idosos desprezam os jovens, afirmando que eles são superficiais e não sabem nada de consistente.

A idade, segundo os idosos, é algo irrelevante segundo algumas profecias auto-realizáveis, que mostram pessoas de sessenta ou oitenta anos com excepcionais condições de vida com qualidade. Niemeyer, com mais de cem anos está aí para confirmar essas assertivas. Muitas empresas modernas preferem aposentados para qualificar seus quadros de executivos empreendedores.

De outro lado, alguns jovens de dezoito, vinte ou trinta anos revelam perfis desestruturados e pouco amadurecidos, adultos ainda presos à saia da mãe, à carteira do pai ou à mesada da esposa. Esses foram “castrados” pelos pais, impedidos de crescer, gerando uma falsa acomodação de quem, em muitos casos não sabe aonde ir.

Apesar de as leis nacionais decretarem que após os sessenta anos as pessoas são idosas (Estatuto do Idoso) na prática, a despeito das limitações de alguns, a grande maioria se revela ativa, interessada e operadora. Não se pode generalizar. Existem sessentões que sofrem com a saúde e a inatividade, mas outros, a maioria quem sabe, estão aí para demonstrar que a vida não está no físico, mas naquilo que a cabeça elabora. O ser humano envelhece quando perde os referenciais da esperança, do entusiasmo e dos ideais.

No passado, depois do quarenta anos, um indivíduo era considerado velho; hoje, aos setenta, faz coisas que até Deus duvida.

Artigo Publicado no Jornal "Zero Hora", Porto alegre, em 15/04/2012.

(o autor é Filósofo e Escritor)