O homem sem humanidade

Dentro da célula há um núcleo, lá , numa fita espiralada, se escondem as letras. Um código simples,ternário, mas capaz de dar vida a todo ser que conhecemos. Se com 3 letras se faz o ser humano, com 26 letras e milhões de palavras se faz a humanidade.

O homem cultiva a si mesmo quando produz ou transmite cultura (do latim colere=cultivar). A Bíblia, o Rig Veda, o Principia Mathematica são registros do pensamento humano, da evolução do conhecimento. O cérebro coletivo, que é a civilização, faz dos livros a sua memória, o receptáculo de ideias que, numa reação em cadeia, ao longo dos séculos, engendra o conhecimento e o espírito humano.

Para sair do abstrato, transpor as ideias para o mundo físico-material há a linguagem. A linguagem é a matéria do pensamento; é ela que dá gravidade, massa e forma às abstrações, mediando a interação entre Seres, entre Ser e Objeto e ,até mesmo, entre dois Objetos (Ser X Objeto X Objeto X Ser, ressonância).

O homem solitário, o bicho homem, vive sem linguagem.Porém, a vida em sociedade impõe a comunicação. "O interagir" pressupõe a capacidade de se comunicar. O que são, portanto, os analfabetos? São os excluídos, marginalizados da sociedade. São os "não integrados", os cegos, os prisioneiros da caverna.

Como exigir respeito às leis e cidadania se 1 em cada 5 brasileiros (analfabetos funcionais) não conseguem ler a constituição e entendê-la? Como esperar que escolham bem seus representantes se 16 milhões (analfabetos absolutos) nem sabem ler os nomes dos candidatos? A desigualdade social no Brasil está amparada pela desigualdade intelectual. A diferença no nível de escolaridade entre as classes é gritante e mantenedora das injustiças sociais.

O voto de cabresto, o coronelismo estão nos livros de história.Contudo, a maioria não pode lê-los e adquirir consciência. O "legere" vem antes do "cogito". Quem não lê não tem cultura, está fadado, no seu cultivo de subsistência, a "sub-existir".